“Esta evolução filosófica prolongou-se de meus 17 anos até um período avançado de meus estudos de medicina. Seu resultado foi a subversão total da minha atitude em relação ao mundo e à vida. Antes, fora tímido, ansioso, desconfiado, pálido, magro e de uma saúde aparentemente instável; tornei-me então mais seguro, sentindo um grande apetite sob todos os pontos de vista. Sabia o que queria e me esforçava por alcançá-lo.
Os filhos de pessoas abastadas não me pareciam favorecidos em relação aos jovens pobres e malvestidos. Felicidade e infelicidade dependiam de coisas bem mais profundas do que do dinheiro que se tem no bolso.
(…)
A expressão “mundo de Deus”, que soa sentimental a certos ouvidos, não tinha essa conotação para mim. Pertencia ao “mundo de Deus” tudo o que era sobre-humano: a luz ofuscante, as trevas abissais, a gélida apatia do tempo e do espaço infinitos e o caráter grotesco e terrível do mundo irracional do acaso. Para mim, “Deus” era tudo, menos edificante.”
JUNG, Carl Gustav. Memórias, sonhos, reflexões. Ed. Nova Fronteira, 2019, Local Kindle 1514-1542.
Anos de Colégio III