“Os alquimistas falam, em outros textos, da etapa em que, depois que se colocou o rei vermelho na retorta, é preciso reabrir a retorta. Ocorre, então, o processo que na alquimia clássica è geralmente chamado de multiplicatio, um efeito multiplicador externo.
É possível encarar isso de duas maneiras: pode-se e-se tomá-lo de forma completamente ingênua, como é dito aqui, a saber, admitindo que uma personalidade realmente individuada emana um efeito de sentimento sobre outras pessoas, desencadeando nestas o mesmo processo. Isso poderia ser atribuído ao efeito positivo e conta giante exercido por uma personalidade que se tornou mais consciente do que a média: involuntariamente, isso estimula outras pessoas c, quanto menos deliberado, mais efetivo é. Desta maneira, outras pessoas são introduzidas no processo de cura.
Num nível simbólico mais elevado, isso significaria que e agora fico embaraçada, porque como sabem, sempre que se quer falar sobre sincronicidade não se tem uma linguagem apropriada; nossa linguagem europeia é toda causal. Eu gostaria de dizer que a eficiência do Self aumenta por meio da sincronicidade, mas eficiência é uma palavra causal. Talvez se pudesse dizer que o arquétipo do Self atinge um estado mais e mais ativado ou excitado por intermédio disso, cada vez mais efeitos sincronisticos acon tecem fora dele e em volta dele, e que se relacionam com ele.
Ocorre uma espécie de experiência de unicidade na qual, enquanto viver, a pessoa geralmente se concebe como sendo o cosmos ou a totalidade do mundo exterior. Cito como exemplo um fato concreto: ao observar o Dr. Jung, notei que quanto mais velho ele ficava, mais conseguia as informações de que precisava para lidar com o que quer que estivesse pensando sobre o que quer que estivesse trabalhando; as informações simplesmente “corriam atrás dele”. Certa vez, quando estava ocupado com determinado problema, um clínico geral australiano enviou-lhe o material completo de que precisaria, o qual lhe chegou pelo correio no momento exato em que dizia: “Precisaria agora de algumas observações sobre esse tipo de coisa”. Foi como se até mesmo o inconsciente coletivo na Austrália estivesse cooperando! Esta é uma experiência de expansão do arquétipo do Self, ou talvez não seja nem mesmo uma expansão. Trata-se mais do fato de que nos tornamos mais cientes do quanto somos um dentro do todo da humanidade, e até mesmo da natureza, e começamos a ler tudo como hieroglifos de uma escrita que aponta sempre para um mesmo fator único.”
“(…) Assim, as pessoas sentem-se ameaçadas o que de fato é verdade, pois se entrarem em contato com a psicologia, toda a estrutura de sua vida prévia entrará em colapso.”
VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia e a Imaginação ativa: estudos integrativos sobre imagens do inconsciente, sua personificação e cura. Ed. São Paulo: Cultrix, 2022. Pág.92-94.
1. Palestra
Origens da Alquimia: Tradições extrovertidas e introvertidas.