Nação, cultura e tradições religiosas

Pode-se então dizer que a estrutura básica ou que os elementos arquetípicos de um mito são construídos numa expressão formal, que se liga ao consciente coletivo cultural da nação na qual se originou e que, de certa maneira, está mais próximo da consciência e do material histórico conhecido. Às vezes, ele é mais fácil de ser interpretado, pois é menos fragmentado. Frequentemente, é também mais bonito e mais impressionante na forma do que os contos de fada, e isso faz com que certos estudiosos fiquem seduzidos e digam que o mito é o mais importante e que o resto é somente um reles vestígio. Por outro lado, ao elevar-se tal tema arquetípico a um nível nacional e cultural, unindo-o a tradições religiosas e formas poéticas. expressa-se mais especificamente os problemas daquela nação naquele determinado período cultural, mas perde–se muito do seu caráter humano. Ulisses, por exemplo, é a essência do intelecto hermético-mercurial grego e pode ser facilmente comparado a heróis ardilosos de outras nações. Entretanto, o mito de Ulisses é mais especifico e mais grego, perdendo desta maneira certos traços huma nos universais.

O estudo dos contos de fada é essencial, para nós. pois eles delineiam a base humana universal.

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A linguagem dos contos de fada parece ser a linguagem de idades, internacional de toda a espécie humana raças e culturas.

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Por exemplo, algumas canções de Natal que conhecemos são assim; se você tivesse que pesquisá-las como apareceram há 2.000 anos atrás, e se você não conhece nada a respeito do cristianismo, não seria capaz de apreender o seu sentido. Uma canção de Natal alemã diz: “De uma raiz tenra uma rosa despontou”, e então seguem- se algumas alusões remotas a respeito de uma Virgem intocada. Suponhamos que não se conheça nada sobre o cristianismo, e se descubra essa canção. Dir-se-ia que há algo sobre uma rosa e sobre uma virgem, mas o que isso significa? Para nós, a canção é inteligível, porque ela se refere a um mistério que nós todos conhecemos. A tradição cristã está totalmente integrada em nossa cultura, podendo tais canções aparecer sob uma forma alusiva; entretanto, somente os temas arquetípicos que são significativos para muitas pessoas, há centenas de anos, são tratados dessa maneira.Se o cristianismo tivesse sido confinado a uma seita local na Ásia Menor, ele teria morrido com o seu mito, e não teria atraído outros materiais simbólicos, e nem teria essa forma.

A elaboração extensiva do material original prova- velmente depende da importância do impacto que o evento nuclear arquetípico causa sobre as pessoas.

Há uma proposta de que, talvez, o cristianismo tenha se originado como saga local e, a partir desta, tenha se desenvolvido em um mito. Em seu livro Aion, Jung coloca que a personalidade de Jesus de Nazaré, tão desconhecida, misteriosa e impressionante, e sobre a qual nós conhece- mos muito, muito pouco, atraiu uma enorme quantidade de projeções e símbolos, como, por exemplo, o símbolo do peixe, do cordeiro, e muitas outras imagens arquetípicas do SELF, tão bem conhecidas por toda a humanidade.”

 

FRANZ, Marie-Louise von. A interpretação dos contos de fadas. São Paulo: Paulus, 2022, pág. 44-47.

2.Contos de fada, mitos e outras histórias arquetípicas

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