“Vocês verão mais tarde que, sob o ponto de vista junguiano, a única crítica que se pode fazer a Dorn é que ele não vê o lado escuro do Self. Ele vê o ego e a sombra, mas também o Self tem um lado escuro. Em outras palavras, a imagem de Deus tem um lado escuro isto ele não aceitaria, e nisto ele está totalmente de acordo com o ponto de vista cristão: Deus é apenas luz e apenas bondade. Mas se ficarem atentos notarão que, de tempos em tempos, cle deixa escapar coisas como estas:
Esse castelo da verdade interior destruirá muitas pessoas; é uma coisa barata, muito desprezada e até mesmo odiada. Mas não se deveria odiá-la, e sim amá-la; é o maior tesouro que existe, é amorosa para com todos e hostil para com todos. Você pode encontrá-la em todos os lugares, e praticamente ninguém nunca a encontrou. Transforme-se, diz a sabedoria celeste, de pedras filosóficas mortas em pedras filosóficas vivas, pois sou eu a verdadeira medicina e transformo em algo eterno tudo o que não pode existir. Por que está você possuído pela loucura? Através de você mas não a partir de você [ou seja, dentro da personalidade, mas não a partir do ego está tudo aquilo de que você necessita e que, erradamente, você procura do lado de fora. Brilha dentro de nós, ainda que tenuemente na escuridão, a vida e a luz do homem, uma luz que não emana de nós isto é, não do ego, mas que, no entanto, está em nós, e devemos portanto, encontrá-la dentro de nós. Ela pertence a Ele que a colocou dentro de nós; podemos encontrá-la Nele, em Sua luz. Portanto, a verdade não deve ser procurada em nós ( ele quer dizer, no ego), mas na imagem de Deus que habita dentro de nós, esta é a única coisa que não tem uma segunda outra coisa. É o Ser e é em si mesmo a totalidade da existência.
“(…) Críticos pelo lado teológico, sejam eles rabinos, ministros ou padres, sempre diziam: “Você transforma a religião em algo que é apenas psicológico”. Mas se temos em nossa psique a imagem de Deus como um centro ativo, então deveríamos glo-rificar nossa psique como a coisa mais elevada da Terra – não se poderia então dizer “apenas psicologicamente”. Se o teólogo diz apenas psicológico, ele pressupõe que a psique é nada-mais-quê.
“Dorn (…) Diz ele: “Admitamos ter a imagem de Deus como uma entidade ativa, como uma essência, em nossa própria psique, então não precisamos ficar correndo a esmo para procurá-la; nós a temos ali mesmo”.”
VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia e a Imaginação ativa: estudos integrativos sobre imagens do inconsciente, sua personificação e cura. Ed. São Paulo: Cultrix, 2022. Pág.111-113.
1. Palestra
Origens da Alquimia: Tradições extrovertidas e introvertidas.