Personificação feminina

“Os primeiros cinco capítulos dedicam-se todos à aparição de uma figura feminina chamada a Sabedoria de Deus. Nos Livros da Sabedoria – que são todos de material mais recente do Antigo Testamento e influenciados pelo pensamento gnóstico e pelo gnosticismo, desde cerca do século II a.C. até ao século I d.C. nesses vários escritos, como os Provérbios, há uma personificação da Sabedoria de Deus, que se apresenta como uma figura feminina. Ela já estava junto de Deus antes que o mundo e a humanidade fossem criados. Essa Sabedoria de Deus está de acordo com a ideia gnóstica de Sophia.

Essa personificação feminina era uma figura embaraçosa para os teólogos cristãos. O que era ela? Nos escritos mais recentes do Antigo Testamento aparece uma espécie de noiva ou esposa de Deus – há certamente uma figura feminina mas quem era ela? A posição medieval mais corrente era que ela se identificava com o Espírito Santo, justamente um aspecto feminino, e sempre que a Sabedoria de Deus era mencionada, devíamos realmente ler “o Espírito Santo”; mas alguns viram nela a alma de Cristo anima Christi – que já existia antes de Cristo encarnado e, assim sendo, era idêntica à forma de Cristo como o Verbo eterno, o Logos, que estava com Deus desde o começo dos tempos e antes de sua encarnação como Jesus Cristo. Mas, nesse caso, a Sabedoria de Deus foi considerada como sendo a mesma coisa e, para explicar a feminilidade, era usada a expressão “alma de Cristo” – a anima Christi.

A terceira explicação, no meu entender a mais interessante, diz que ela representa a soma de todos os arquétipos essa é a linguagem medieval, não estou projetando palavras junguianas – os archetypi ou ideias eternas da mente de Deus quando Ele criou o mundo. Isso é explicado nestes termos: quando Deus criou o mundo, como bom arquiteto, Ele concebeu primeiro um plano em que tudo – árvores, animais, insetos etc. – estava presente como ideia. Antes de existirem milhares de ursos no mundo, havia a ideia de urso na mente de Deus, e antes de exis-tirem milhões de carvalhos, havia a ideia de um carvalho.

Essa ideia de um carvalho na mente de Deus seria o archetypos ou rationes aeternae ou ideae, os planos ou ideias eternos. Deus concebeu o mundo e depois moldou Sua ideia na matéria e criou o mundo real. Se traduzirmos isso em linguagem psicológica diremos que a sabedoria de Deus representa o inconsciente coletivo, a soma de todos os ideia original padrões de realidade decorrente de uma idea original- mas esse seria o lado feminino da Divindade.”

 

VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia, Uma introdução ao simbolismo e seu significado na psicologia de Carl G. Jung, Ed. Cultrix 2022, Pág 301-303.

7a Palestra | Aurora Consurgens

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