“(…) paradoxalmente, sabemos mais a respeito de símbolos mitológicos que qualquer outra das gerações que nos precederam. A verdade é que os homens do passado não pensavam nos seus símbolos, Viviam-nos, e eram inconscientemente estimulados pelo seu significado.
O Fausto de Goethe diz muito acertadamente: “In Anfang war die Tar” (No começo era o ato). “Atos” nunca foram inventados, foram feitos. Já os pensamentos são uma descoberta relativamente tardia do homem. Primeiro ele foi levado, por fatores inconscientes, a agir; só muito tempo depois é que começou a refletir sobre as causas que motivaram a sua ação.
Da mesma maneira que se desenvolveu por muito tempo, a
psique continua ainda a desenvolver-se, e assim somos conduzidos por forças interiores e estímulos exteriores.
Essas forças interiores advém de uma fonte profunda que não é alimentada pela consciência nem está sob seu controle.
(…)
O lema “querer é poder” é a superstição do homem moderno.
Para sustentar essa crença, no entanto, o homem contemporâneo paga o preço de uma incrível falta de introspecção. Não consegue perceber que, apesar de toda a sua racionalização e eficiência, continua à mercê de “forças” fora do seu controle. Seus deuses e demônios absolutamente não desapareceram; têm apenas novos nomes. E o conservam em contato intimo com a inquietude, com apreensões vagas, com complicações psicológicas, com uma insaciável necessidade de pilulas, álcool, fumo, alimento e, acima de tudo, com uma enorme coleção de neuroses.”
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 101-103.
I Chegando ao inconsciente
Carl G. Jung