Estratégia de dominação

“A estratégia de dominação consiste, hoje, em privatizar o sofrimento, a angústia, e, assim, ocultar sua socialidade; ou seja, impedir a sua socialização, a sua politização. A politização significa a tradução do privado no público. Hoje, se dissolve, antes, o público no privado. A esfera pública se decompõe em espaços privados.

A internet não se manifesta hoje como um espaço do agir comum e comunicativo. Antes, ela se degrada em espaços de exposição do eu, nos quais se promove, antes de tudo, a si mesmo. A internet não é, hoje, senão a câmara de ressonância do si isolado. Nenhuma propaganda escuta.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 1249-1254.

Escutar

O escutar tem uma dimensão política

“O escutar tem uma dimensão política. Ele é uma ação, participação ativa na existência do outro e também no seu sofrimento. Só ele liga e medeia os seres humanos primeiramente em uma comunidade. Hoje, ouvimos muito, mas desaprendemos cada vez mais a habilidade de escutar outros e de dar escuta à sua fala, ao seu sofrimento. Hoje, cada um está, de algum modo, sozinho consigo, com seus sofrimentos, com suas angústias. O sofrimento é privatizado e individualizado.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 1244.

Escutar

A angústia também desperta no limiar

“A angústia também desperta no limiar. Ela é um típico sentimento limiar. O limiar é a passagem para o desconhecido. Além do limiar, começa um estado de ser completamente diferente. No limiar, por isso, está sempre inscrita a morte. Em todos os rituais de passagens, os rites de passage, se morre uma morte a fim de renascer além do limiar. A morte é, aqui, experimentada como passagem. Quem ultrapassa o limiar passa por uma metamorfose. O limiar como lugar da metamorfose dói. Inere a ele a negatividade da dor: “Se você percebe a dor dos limiares, então não é um turista; pode haver a passagem”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 571.

Limiares

Angústias difusa

“Hoje, muitos são afligidos por angústias difusas, angústia de falhar, angústia de fracassar, angústia de se tornar dependente, angústia de cometer um erro ou de tomar uma decisão errada, angústia de não satisfazer as próprias expectativas. Essa angústia se fortalece por meio de uma constante comparação com o outro. Ela é uma angústia lateral, em oposição àquela angústia vertical, que desperta diante do inteiramente outro, do infamiliar, do nada.

Vivemos, hoje, em um sistema neoliberal que desmonta estruturas temporais estáveis, fragmenta o tempo de vida e faz com que o vinculante [Bindende], o vinculativo [Verbindlich] se desfaça, a fim de aumentar a produtividade. Essa política neoliberal do tempo produz angústia e insegurança. E o neoliberalismo separa seres humanos em empreendedores de si mesmo isolados. O isolamento, que caminha de mãos dadas com a falta de solidariedade e a concorrência total, produz angústia. A lógica pérfida do neoliberalismo enuncia: A angústia aumenta a produtividade.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 529-533.

Angústia

A angústia de hoje

“A angústia de hoje tem uma etiologia inteiramente diferente. Ela não remete nem ao desabamento da conformidade cotidiana nem ao ser abismal. Antes, ela ocorre no interior do consenso cotidiano. Ela é uma angústia cotidiana. O seu sujeito permanece o Se: “O Eu se orienta pelo outro e chega ao arremesso quando não acredita poder mais acompanhar. […] A representação do que os outros pensam sobre alguém e sobre o que eles pensam que pensam sobre eles se torna uma fonte de angústia social. Não é a situação objetiva que enfarda a pessoa singular e a quebra, mas sim a sensação de, em comparação com seus pares significativos, de ter tirado o menor palito”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 518.

Angústia

Angústia em Heidegger

“A angústia tem, em Heidegger, uma relação estreita com a morte. A morte não significa o mero fim do ser, mas “uma maneira de ser”, a saber, a possibilidade extraordinária de ser si mesmo. Morrer significa: “‘Eu sou’; ou seja, eu serei meu eu mais próprio”. Em vista da morte, desperta uma “decisividade silenciosa, que exige a angústia”, para o ser-si-mesmo verdadeiramente autêntico [eigentlich]. A morte é minha morte.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 462.

Angústia