Gênio da inatividade

“(…)como já me ouvistes muitas vezes declarar por toda a parte, a encontrareis em algo divino e demoníaco que se dá comigo […]. Isso começou desde o meu tempo de menino, uma espécie de voz que só se manifesta para dissuadir-me do que eu esteja com intenção de praticar, nunca para levar-me a fazer alguma coisa. Isso é que se opõe a que me ocupe com política.”

A voz misteriosa do daimon diz: Pare! Ela impede Sócrates de agir. Ela é, claramente, um gênio da inatividade.

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 1353.

O Pathos da ação

Contemplar e amar de Agostinho

“Em Agostinho, contemplar e amar se tornam uma e a mesma coisa. Apenas onde há amor o olho se abre (ubi amor, ibi oculus). Contemplar e louvar são formas da inatividade. Não perseguem nenhuma finalidade e não produzem nada.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 976.

A Absoluta falta de ser

Reconciliação entre ser humano e natureza

“São os propósitos e os juízos humanos que destroem a continuidade do ser.

(…)
A reconciliação entre ser humano e natureza é o fim último da política da inatividade.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 395-419.

Considerações sobre a inatividade

A dialética da inatividade

“A dialética da inatividade a transforma em um limiar, em uma zona de indeterminação que nos torna capazes de produzir algo que ainda não existia. Sem esse limiar, o igual se repete.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 289.

Considerações sobre a inatividade

A inatividade não se opõe à atividade

“A inatividade não se opõe à atividade. Antes, a atividade se nutre da inatividade.

(…)

O tédio é o limiar de grandes feitos”. O tédio constitui o “lado externo do acontecimento inconsciente”. Sem ele, nada se sucede. O núcleo do novo não é a determinação para a ação, mas o acontecimento inconsciente.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 282-284.

Considerações sobre a inatividade

O sono é um medium da verdade

“O sono é um medium da verdade. Apenas na inatividade divisamos a verdade. O sonho revela um mundo interior verdadeiro por trás das coisas do mundo exterior, que seriam apenas uma aparência. Aquele que sonha mergulha nas camadas mais profundas do ser.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 162.

Considerações sobre a inatividade

Inatividade é jejum espiritual

“A inatividade é, como tal, um jejum espiritual. Por isso que dela decorre um efeito curativo. A obrigação de produzir transforma a inatividade em uma forma de atividade a fim de explorá-la. É assim que mesmo o sono passa a ser considerado uma atividade.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 154.

Considerações sobre a inatividade

O fogo encerrado na lareira

“O fogo, liberto de afazeres práticos, estimula a fantasia. Ele se torna um meio da inatividade:

O fogo encerrado na lareira foi certamente o primeiro tema de devaneio para o ser humano, símbolo do repouso, convite ao repouso. […] Assim, acreditamos que não se entregar ao devaneio diante do fogo é perder o uso verdadeiramente humano e primeiro do fogo. […] Só recebemos o bem-estar do fogo se apoiamos os cotovelos nos joelhos e a cabeça nas mãos. Essa atitude vem de longe. A criança junto ao fogo a adota naturalmente. Não por acaso, é a atitude do pensador. Determina uma atenção muito particular que nada tem em comum com a atenção da espreita ou da observação. […] Perto do fogo, é preciso sentar-se; é preciso repousar sem dormir.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 122.

Considerações sobre a inatividade