A glória do jogo

“A glória do jogo é acompanhada da soberania, que não significa outra coisa do que estar livre da necessidade, da coação e da utilidade. A soberania desvela uma alma “que está além da preocupação da necessidade”. Justamente a coação de produção destrói a soberania como forma de vida. A soberania dá lugar a uma nova submissão que se vende, no entanto, como liberdade. O sujeito do desempenho neoliberal é um servo absoluto, na medida em que, sem os senhores, explora-se voluntariamente.”

HAN, Byung-Chul.O desaparecimento dos rituais: Uma topologia do presente. Ed. Vozes, 2021, Local 690-694.

Jogo de Vida e Morte

Trata-se de mais um jogo “internacional”

“Trata-se de mais um jogo “internacional”, por assim dizer, o que nos leva a nos
perguntarmos se o que originou o modelo do Tarô “de Marselha” também não teria recebido influências diversas. O fato de se ter constatado que o tarô com 22 trunfos e quatro sequências surgiu na Itália, mas que as numerações e denominações de trunfos são francesas, pode ser suficiente para nos convencer. O que se costuma chamar de “Tarô de Marselha” é, a princípio, o resultado de diferentes jogos. A posteriori, é também um modelo de jogo que sobre viveu melhor do que outros, e veremos como.”

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 103.

Jogo e adivinhação

“(…) (4200 a.C.). Por certo, ainda não se encontrou nenhum indício de que houvesse jogo de cartas nesse período. Em contrapartida é possível levar em conta outro aspecto: com os egípcios, evocamos os vínculos originais entre os jogos e os mitos; entre os gregos, podemos considerar a fronteira indistinta entre jogo e adivinhação, sobretudo com os chamados “jogos de azar”.

(…)

“Mais uma vez, onde se situa a fronteira entre o lúdico e o divinatório? Entre lançar os ossinhos com um adversário para ganhar uma aposta ou para buscar uma resposta a uma pergunta? Louis Becq de Fouquière cita vários testemunhos antigos muito interessantes, como o de Ovídio, que, ao falar dos tratados sobre os jogos, diz “por qual lance é possível ter o melhor resultado ou evitar os cães de mau agouro”. Cita sobretudo Pausanias (Acaia, XV): Próximo ao rio Buraico há uma caverna. Nessa caverna existe um oráculo que permite conhecer o futuro por intermédio de um quadro e de ossinhos. Quem quiser consultá-lo deverá primeiro dirigir orações à estátua; em seguida, deverá pegar alguns dos muitos ossinhos que se encontram diante dela, jogar quatro sobre a mesa e buscar a explicação do lance no quadro em que os diferentes lances são ilustrados com a explicação do que representam”.

NADOLNY, Isabelle. História do Tarô. Um estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 20.

Jogo e dança

“Jogo e dança são inteiramente libertos do para-algo. Também o adorno não adorna nada. Ele não é um “instrumento”. As coisas, libertas do para-algo, tornam-se elas mesmas festivas. Elas deixam de “funcionar” para brilhar e resplandecer. Brota, delas, uma tranquilidade contemplativa que torna possível o demorar-se.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 772.

Da ação ao ser