Ciclos

“As lendas do Redentor descrevem o período de desolação como produto de uma falha moral por parte do homem (Adão no paraíso, Jemshid no trono). Não obstante, do ponto de vista do ciclo cosmogônico, uma alternância regular entre a conduta reta e a conduta errônea é característica do espetáculo do tempo. Tal como na história do universo, assim também na história das nações: a emanação leva à dissolução, a juventude à velhice, o nascimento à morte, a vitalidade criadora da forma ao peso morto da inércia. A vida se manifesta precipitando formas, e depois fenece, deixando refugos atrás de si. A idade de ouro, reino do imperador humano, se alterna no pulsar de cada momento da vida, com a terra arrasada, reino do tirano. O Deus criador torna-se, no final, destruidor.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 336.

E Noutro Relato da Índia

“E, no outro relato da Índia, o pai de todas as coisas é representado, primeiramente, dividindo-se em macho e fêmea e, em seguida, procriando todas as criaturas segundo a espécie.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 272.

Emanações Cosmogônicas

“O primeiro efeito das emanações cosmogônicas é a formação do estágio de espaço do mundo, o segundo é a produção da vida dentro da estrutura assim formada: a vida polarizada para auto reprodução, sob a forma dual do macho e da fêmea.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, pp. 268-269.

Inefável

“Como representar, numa superfície bidimensional, ou numa imagem tridimensional, um sentido multidimensional? Como expressar, em termos de “sim” ou “não”, revelações que conduzem a falta de sentido toda tentativa de definir pares de opostos? Como comunicar, a pessoas que insistem na evidência exclusiva dos próprios sentidos, a mensagem do vazio gerador de todas as coisas?”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 215.

Princípios da Crença Wiccana / Conselho dos Bruxos Americanos – 1974

  1. Nós praticamos ritos para nos sintonizar com os ritmos naturais das forças vitais, marcados pelas fases da Lua e pelas mudanças e pelos ápices das estações.
  2. Reconhecemos que nossa inteligência nos dá uma responsabilidade única com relação ao nosso meio ambiente. Procuramos viver em harmonia com a natureza, em equilíbrio ecológico, oferecendo condições à vida e a consciência segundo uma visão evolutiva.
  3. Reconhecemos a existência de um poder muito maior do que aquele que se manifesta na pessoa comum. Por sem bem maior que o normal, ele é às vezes chamado de “sobrenatural”, mas o vemos como uma parte natural do potencial de todos.
  4. Compreendemos que o Poder Criativo do Universo se manifesta por meio da polaridade – como masculino e feminino – e que esse mesmo Poder Criativo habita em todas as pessoas e age por meio da interação entre o masculino e o feminino. Não valorizamos um mais do que o outro, porque sabemos que se complementam. Valorizamos o sexo como prazer, como símbolo e corporificação da vida e uma das fontes de energia usada nas práticas mágicas e nos cultos religiosos.
  5. Reconhecemos a existência tanto dos mundos exteriores quanto dos interiores, ou psicológicos – às vezes conhecidos como Mundo Espiritual, Inconsciente Coletivo, Planos Interiores, etc – e vemos na interação dessas duas dimensões a base dos fenômenos paranormais e das práticas de magia. Não negligenciamos nenhuma das dimensões, pois ambas são necessárias para a nossa realização.
  6. Rejeitamos toda hierarquia autoritária, mas honramos aqueles que nos ensinam, respeitamos aqueles que compartilham seu conhecimento e sua sabedoria, e admiramos aqueles que corajosamente deram de si para exercer funções de liderança.
  7. Vemos a religião, a magia e a sabedoria de vida como uma unidade na forma pela qual uma pessoa vê o mundo e vive nele, uma visão do mundo e uma filosofia de vida que identificamos como Bruxaria – O Caminho Wiccano.
  8. Dizer-se Bruxo não faz de ninguém um Bruxo – tampouco a hereditariedade ou uma coleção de títulos, graus ou iniciações. O Bruxo busca controlar as forças de si mesmo que tornam a vida possível, de modo a viver com sabedoria e bem, sem prejudicar outras pessoas e em harmonia com a natureza.
  9. Acreditamos na afirmação e na plenitude da vida, numa contínua evolução e num contínuo desenvolvimento da consciência, dando sentido ao Universo que conhecemos e ao nosso papel dentro dele.
  10. Nossa animosidade com relação ao Cristianismo ou qualquer outra religião ou filosofia de vida só existe na medida em que essas instituições se proclamam “o único caminho”, negando a liberdade a outras entidades e reprimindo outras formas de crença e prática religiosa.
  11. Como Bruxos Americanos, nós não nos sentimos ameaçados por debates sobre a história da Arte, sobre as origens de vários termos, sobre a legitimidade de vários aspectos de diferentes tradições. Nós nos preocupamos com o nosso presente e com o nosso futuro.
  12. Não aceitamos o conceito de mal absoluto, nem adoramos a entidade conhecida como “Satanás” ou “Demônio”, como definido pela tradição cristã. Não buscamos o poder por meio do sofrimento de outros nem aceitamos o conceito segundo o qual benefícios pessoais só podem ser obtidos pela negação do outro.
  13. Acreditamos que devemos buscar na natureza o que pode contribuir para a nossa saúde o nosso bem-estar.

Buckland, Raymond. Livro completo de bruxaria de Raymond Buckland: tradição, rituais, crenças, história e prática. Editora Pensamento Cultrix, São Paulo, 2019, pp. 47-49.

Grande Paradoxo

“De acordo com uma das formas tradicionais de encarar esses suportes da meditação, a forma feminina (em tibetano: yum) deve ser observada como o tempo; e a forma masculina (yab) como a eternidade. A união dos dois produz o mundo, em que todas as coisas são, a um só tempo, temporais e eternas, criadas a imagem desse deus macho-fêmea autoconsciente. (…) E assim é que tanto o masculino como o feminino devem ser encarados, alternativamente, ora como o tempo, ora como a eternidade. Isso quer dizer que os dois são o mesmo, cada um é os dois e a forma dual (yab-yum) não passa de efeito da ilusão – a qual, todavia, não difere da iluminação.

Eis uma suprema enunciação do grande paradoxo por meio do qual o mundo dos pares de opostos é abalado e o candidato admitido à visão visão do Deus, o qual, ao criar o homem à sua própria imagem, o criou homem e mulher.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, pp . 161-162.

Além da Dualidade

“Os deuses macho e fêmea não são incomuns no universo do mito. Eles sempre se encontram imersos num certo mistério; pois conduzem a mente para além da experiência objetiva, para um domínio simbólico que deixa para trás a dualidade”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 146.

Nirvana

“A pausa no limiar do Nirvana, a resolução de adiar até o fim do tempo (que nunca tem fim)  a imersão no poço imperturbável da eternidade, representa uma percepção de que a distinção entre a eternidade e o tempo não passa de aparência – tendo sido elaborada, à força, pela mente racional, mas dissolvida pelo conhecimento perfeito da mente que transcendeu os pares de opostos. Esse conhecimento reconhece que o tempo e a eternidade configuram-se como dois aspectos da mesma experiência total, dois planos do mesmo inefável não-dual; isto é, a joia da eternidade está no lótus do nascimento e da morte: om mani padme hum”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 146.

Contemplação dos Opostos

“Através desse exercício, seu espírito é purgado de toda sentimentalidade e ressentimento, infantis e inadequados, e sua mente é aberta à presença inescrutável, que existe não primariamente como “boa” ou “má” com relação à sua infantil conveniência humana, seu bem-estar e a sua aflição, mas sim como lei e imagem da natureza do ser”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 116.