Psicanálise do fogo

“A psicanálise do fogo de Bachelard, em contrapartida, libera sua dimensão contemplativa. A postura que o ser humano adota diante do fogo, já involuntariamente desde criança, ilustra sua inclinação ancestral à contemplação.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 130.

Considerações sobre a inatividade

Superar a Ignorância

“Não obstante, todo fracasso em lidar com uma situação da vida deve traduzir-se, no final, como restrição à consciência. As guerras e as explosões emocionais são paliativos da ignorância; os arrependimentos, iluminações que vêm tarde demais. Todo o sentido do mito onipresente da passagem do herói reside no fato de servir essa passagem como padrão geral para homens e mulheres, onde quer que se encontrem ao longo da escala. Assim sendo, o mito é formulado nos mais amplos termos. Cabe ao indivíduo, tão somente, descobrir sua própria posição com referência a essa fórmula humana geral e então deixar que ela o ajude a ultrapassar as barreiras que lhe restringem os movimentos. (…)

No consultório do psicanalista moderno, os estágios da aventura do herói ainda vêm a lume nos sonhos e alucinações dos pacientes. Camada após camada de falta de autoconhecimento é penetrada, exercendo o analista o papel de auxiliar, de sacerdote iniciatório. (…)

O ponto nevrálgico da curiosa dificuldade reside no fato de que as nossas concepções conscientes a respeito de que a vida deve ser raramente correspondem àquilo que a vida de fato é”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 121.