Depressão como resultado

“A depressão como resultado se apoia, segundo Alain Ehrenberg, na relação perdida com o conflito. A cultura atual do desempenho e da otimização não permite nenhum trabalho sobre o conflito, pois esse trabalho demanda tempo. O sujeito do desempenho atual conhece apenas dois estados: funcionar ou falhar. Nisso ele se assemelha a máquinas. Também máquinas não conhecem nenhum conflito. Ou elas funcionam sem impedimentos ou elas estão quebradas.

Conflitos não são destrutivos. Eles têm um lado construtivo. Só de conflitos surgem relações e identidades estáveis. A pessoa cresce e amadurece por meio do trabalho sobre o conflito.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 399-403.

Terror da autenticidade

A mão é o órgão de trabalho e de ação

“A mão é o órgão de trabalho e de ação. O dedo, por outro lado, é o órgão de escolha. O homem sem mãos do futuro só faz uso de seus dedos. Ele escolhe ao invés de agir. Ele aperta botões para satisfazer suas necessidades. Sua vida não é um drama que lhe impõe ações, mas um jogo. Ele também não quer ser dono de nada, mas deseja experimentar e desfrutar.”

*phono sapiens.

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 196.

Da coisa à não-coisa

Regime de Informação e regime disciplinar

“Chamamos regime de informação a forma de dominação na qual informações e seu processamento por algoritmos e inteligência artificial determinam decisivamente processos sociais, econômicos e políticos. Em oposição ao regime disciplinar, não são corpos e energias que são explorados, mas informações e dados. Não é, então, a posse de meios de produção que é decisiva para o ganho de poder, mas o acesso a dados utilizados para vigilância, controle e prognóstico de comportamento psicopolíticos. O regime de informação está acoplado ao capitalismo da informação, que se desenvolve em capitalismo da vigilância e que degrada os seres humanos em gado, em animais de consumo e dados.

O regime disciplinar é a forma de dominação do capitalismo industrial. Assume, ele mesmo, uma forma maquinal. Todos e cada um são uma roldana no interior da maquinaria disciplinar do poder. O poder disciplinar penetra nos nervos e nas fibras musculares e faz “de uma massa disforme, de um corpo inábil” uma “máquina”1. Fabrica corpos “dóceis”: “dócil é um corpo que pode ser submetido, que pode ser explorado, que pode ser remodelado e aperfeiçoado”2. Corpos dóceis como máquinas de produção não portam dados e informações, mas energia. No regime disciplinar, os seres humanos são adestrados em um animal do trabalho.

O capitalismo da informação, assentado sobre a comunicação e a conexão, torna obsoletas técnicas disciplinares como a isolação espacial, a regulamentação rigorosa do trabalho ou o adestramento corporal.

O sujeito submisso do regime de informação não é nem dócil, nem obediente. Ao contrário, supõe-se livre, autêntico e criativo. Produz-se e se performa.”

HAN, Byung-Chul. Infocracia: Digitalização e a crise da democracia. Ed. Vozes, 2022, Local 42-57.

Regime de Informação

 

Experiência

“A experiência, em sentido enfático, não é um resultado do trabalho e do desempenho. Ela não se deixa produzir pela atividade. Antes, ela pressupõe uma forma particular de passividade e de inatividade: “fazer uma experiência com algo, seja com uma coisa, com um ser humano, com um deus, significa que esse algo nos atropela, nos vem ao encontro, chega até nós, nos avassala e transforma”. A experiência se baseia no dom e na recepção. O seu medium é a escuta. O atual ruído da comunicação e da informação, porém, põe um fim à “sociedade dos que escutam”. Ninguém escuta. Todos se produzem.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 185.

Considerações sobre a inatividade

Relações de produção capitalista

“Nas relações de produção capitalistas, a inatividade retorna como o de fora que é incluído. Nós a chamamos de “tempo livre”. Uma vez que o tempo livre serve para se recuperar do trabalho, permanece preso à sua lógica. Como um derivado do trabalho, ele é um elemento funcional no interior da produção. Com isso, desaparece o tempo de fato livre, que não pertence à ordem do trabalho e da produção. Não conhecemos mais aquele repouso sagrado, festivo, que “reúne em si intensidade vital e a contemplação, e que consegue reuni-los mesmo quando a intensidade vital se torna selvageria”2. Falta, ao “tempo livre”, tanto a intensidade da vida quanto a contemplação. Ele é um tempo que matamos a fim de não deixar nenhum tédio surgir. Não é um tempo livre, vivo, mas um tempo morto.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 58

Considerações sobre a inatividade

Época do relógio de ponto

“Na época do relógio de ponto era possível estabelecer uma clara separação entre trabalho e não trabalho. Hoje edifícios de trabalho e salas de estar estão todos misturados. Com isso torna-se possível haver trabalho em qualquer lugar e a qualquer hora. Laptop e smartphone formam um campo de trabalho móvel.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 951.

Anexos: Tempo de celebração-a festa numa época sem celebração

Exploração estranha

“A autoexploração é muito mais eficiente que a exploração estranha, pois caminha de mãos dadas com o sentimento de liberdade. Paradoxalmente, o primeiro sintoma do burnout é a euforia. Lançamo-nos eufóricos ao trabalho. Por fim acabamos quebrando.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 948.

Anexos: Tempo de celebração-a festa numa época sem celebração

Assim falava Zaratustra

“Em Assim falava Zaratustra, Nietzsche escreve: “Vós todos que amais o trabalho selvagem e o rápido, o novo, o estranho – vós vos suportais muito mal, vossa operosidade e esforço é fuga e vontade de esquecer a vós mesmos. Se acreditásseis mais na vida, vos entregaríeis menos ao instante. Mas vós não tendes conteúdo suficiente em vós para a espera – e mesmo para a preguiça, não!”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 783.

Anexos: Sociedade do Esgotamento

Aquele que é fiel nas coisas pequenas será também fiel nas coisas grandes

“9 Eu vos digo: fazei-vos amigos com a riqueza injusta, para que, no dia em que ela vos faltar, eles vos recebam nos tabernáculos eternos.* 10 Aquele que é fiel nas coisas pequenas será também fiel nas coisas grandes. E quem é injusto nas coisas pequenas o será também nas grandes. 11 Se, pois, não tiverdes sido fiéis nas riquezas injustas, quem vos confiará as verdadeiras?* 12 E se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso? 13 Nenhum servo pode servir a dois senhores: ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de aderir a
um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”.*

Bíblia Sagrada Ave-Maria: Edição revista e ampliada.
Edição Claretiana Editora Ave-Maria, Editora Ave-Maria, 2012. Versão Kindle, Posição 54072.

Treta de avatar

“Jesus disse também a seus discípulos: “Havia um homem rico que tinha um administrador. Este lhe foi denunciado de ter dissipado os seus bens. 2 Ele chamou o administrador e lhe disse: Que é que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, pois já não poderás administrar meus bens. 3 O administrador refletiu então consigo: Que farei, visto que meu patrão me tira o emprego? Lavrar a terra? Não o posso. Mendigar? Tenho vergonha. 4 Já sei o que fazer, para que haja quem me receba em sua casa, quando eu for despedido do emprego. 

Bíblia Sagrada Ave-Maria: Edição revista e ampliada.
Edição Claretiana Editora Ave-Maria, Editora Ave-Maria, 2012. Versão Kindle,b Posição 54062.