A Coniunctio Superior

“O objetivo da opus é a criação de uma entidade miraculosa que recebe vários nomes como “Pedra Filosofal”, “Nosso Ouro”, “Água Penetrante”. “Tintura”, etc. Sua produção resulta de uma união final dos opostos purificados e, como combina os opostos, mitiga e retifica toda unilateralidade. Assim, descreve-se a Pedra Filosofal como “uma pedra que tem o poder de dar vida a todos os corpos mortais, de purificar todos os corpos corruptos, de amolecer todos os corpos duros e de endurecer todos os corpos moles”. Mais uma vez, a Pedra (personificada como a Sapientia Dei) diz sobre si mesma: “Eu sou a mediadora dos elementos, que faz um concordar com o outro; aquilo que é quente torno frio, e vice-versa; aquilo que é seco torno úmido, e vice-versa; aquilo que é duro torno mole, e vice-versa. Sou o final e meu amado é o começo. Sou toda a obra, e toda a ciência oculta-se em mim.

O processo psicoterapêutico também é um “alternar-se para melhorar”. A pessoa é jogada para lá e para cá entre os opostos, de modo praticamente interminável. Mas surge, de maneira deveras gradual, um novo ponto de vista que permite a experiência dos opostos ao mesmo tempo. Esse novo ponto de vista é a coniunctio, e, ao mesmo tempo em que é libertador, também é uma sobrecarga. Jung diz: “O um-depois-do-outro é um prelúdio suportável para o conhecimento mais profundo do um-ao-lado-do-outro, porque este é um problema que apresenta muito maiores dificuldades. Mais uma vez, a concepção de que o bem e o mal são potências espirituais exteriores a nós, e de que o homem se acha envolvido no conflito entre eles, é muito mais suportável do que o conhecimento de que os opostos são as condições indispensáveis e inextirpáveis de toda a vida psíquica, até o ponto em que a própria vida é uma culpa.”

O termo “Pedra Filosofal” é, por si mesmo, uma união de opostos. A filosofia, o amor da sabedoria, é um empreendimento espiritual, ao passo que uma pedra é realidade material, dura e crua. Assim, o termo sugere algo como a eficácia prática e concreta da sabedoria ou da consciência. Ela é “uma pedra que não é uma pedra”, a respeito da qual diz Ruland: “A Pedra que não é uma pedra é uma substância pétrea no tocante à sua eficácia e à sua virtude, mas não no que se refere à sua substância, “(…) Diz Jung: “Aquilo que a natureza inconsciente buscava, em última análise, quando produziu a imagem da lapis, pode ser visto de maneira bem clara na noção de que esta se originava na matéria e no homem… A espiritualidade de Cristo era por demais elevada e a naturalidade do homem, por demais inferior. Na imagem da… lapis, a ‘carne’ glorificou a si mesma à sua própria maneira: ela não se transformou em espírito, mas, pelo contrário, ‘fixou’ o espírito na pedra.”

 

EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág 231-233.

Capítulo 8  Coniunctio

Gostei e vejo sentido em compartlhar essa ideiA

Facebook
Twitter
Pinterest

QUER MAIS?

Sonho

“SONHO — C.G. Jung: “O sonho é uma porta estreita, dissimulada naquilo que a alma

Leia mais