A coniunctio ocorre no mundo inferior

“(…)a coniunctio ocorre na lua nova, no mundo interior.

Nós sabemos que a lua é nova quando ela está próxima do sol. Quando se opõe ao sol, então a lua é toda iluminada e temos a lua cheia; mas quando está próxima do sol ela não é atingida pelos raios solares. Esse é um fato interessante sobre o qual Jung escreveu em Mysterium Coniunctionis – que a coniunctio não ocorre na lua cheia, mas na lua nova, o que significa que ocorre durante a noite mais escura, quando nem mesmo a lua brilha, e nessa noite profundamente escura é que o sol e a lua se unem.

Temos aqui uma implicação especialmente interessante, porque no simbolismo da Igreja medieval o sol simboliza Cristo e a lua simboliza a Igreja – a Ecclesia e a coniunctio do sol e da lua é interpretada como o encontro de Cristo com a Igreja redimida. Mas nenhum dos escritores assinalou o fato de que, quando se uniram, a lua desapareceu, ou escureceu, apagou-se completamente. Eles passaram habilmente por cima desse detalhe ou nunca indagaram por que motivo isso aconteceu.

 

 

A lua na sombra da terra. “A coniunctio ocorre na lua nova, no mundo inferior… Na mais profunda depressão, na mais profunda desolação, nasce a nova personalidade.” – von Franz.

A coniunctio ocorre no mundo inferior, acontece no escuro, quando já não existe luz alguma brilhando. Quando estamos completamente inconscientes, quando a consciência nos abandona, então algo nasce ou é gerado; na mais profunda depressão, na mais profunda desolação, nasce a nova personalidade. Quando nos sentimos esgotados esse é o momento em que ocorre a coniunctio, a coincidência de opostos.

Ambos têm um lado escuro e destrutivo e, quando se aproximam demais, é como dois amantes: à medida que o amor aumenta, mais aumentam as dúvidas e as desconfianças; as pessoas se sentem frequentemente receosas, pois se abrirem o coração as outras pessoas poderão causar-lhes muito dano. Se, por exemplo, um homem mostra seu amor a uma mulher, ele fica exposto ao animus dela. Se ele não a ama, diz simplesmente que é obra do maldito animus dela; mas se a amar, prestará atenção e ficará preocupado sempre que ela fizer horríveis comentários suscitados pelo animus. O mesmo ocorre com a mulher, pois se reconhecer seu amor por um homem, o veneno da anima dele pode agredi-la e magoá-la. Portanto, há sempre aquele receio apreensivo de aproximação mútua na situação de amor humano, refletido simbolicamente no processo de conjunção do sol e da lua.

(…) há duas possibilidades: ou o inconsciente traga a consciência, quando sobrevém a psicose, ou a consciência destrói o inconsciente com suas teorias, o que significa uma presunção deliberada. Esta última alternativa também se verifica, geralmente, quando há uma psicose latente; então as pessoas se livram dela, dizendo que o inconsciente “nada mais é senão…”, desse modo esmagando o inconsciente e seu mistério vivo ou pondo-o de lado. Muitas pessoas deixam o processo analítico nessas condições. Elas se aproximam cada vez mais do inconsciente e, então, insinua-se uma compreensão desagradável; o trabalho se torna dificil e a pessoa põe-lhe um fim, dizendo que já sabe tudo a respeito e que “nada mais é senão…”. Nesse caso, o sol terá destruído a lua. Se o inconsciente sobrepuja a consciência e há um intervalo psicótico, a lua terá destruído o sol.

Sempre que consciente e inconsciente se encontram, em vez de amor pode haver destruição.

(…) a Ordem dos Vinte e Quatro Anciãos, referindo-se aos 24 anciãos do Apocalipse de São João, aos 24 Patriarcas de Israel que se sentam dia e noite ao redor do trono de Deus. Isso referir-se-ia à casa do dia e da noite, e significaria que o sol e a lua passam por todos os estágios das 24 horas.”

 

VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia, Uma introdução ao simbolismo e seu significado na psicologia de Carl G. Jung, Ed. Cultrix 2022, Pág 268-272.

6a Palestra | Alquimia Arábica

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