“Primeiro, pairando sobre a terra, ele vê a nuvem negra que se abate e envolve tudo. A nuvem negra é um símbolo alquímico muito conhecido para o estado chamado nigredo, a negrura que, com muita frequência, ocorre primeiro no trabalho; se destilamos o material, ele se evapora e, por algum tempo, apenas vemos uma espécie de confusão ou nuvem, que o alquimista comparou com a terra envolta por uma nuvem negra.
Na linguagem da Antiguidade, a nuvem também tinha um duplo significado, sendo por vezes comparada com a confusão ou inconsciência. Existem muitos textos herméticos mais recentes em que é dito que a luz de Deus não pode ser descoberta antes de a pessoa surgir da nuvem escura do inconsciente, que envolve as pessoas e que é a conotação negativa frequentemente encontrada na linguagem religiosa.
(…) alguns leitores conhecem “A Nuvem do Desconhecimento”, um texto místico medieval que descreve o fato de que, quanto mais perto a alma do místico estiver da Divindade, mais sombria e confusa ela fica. Esses textos dizem, com efeito, que Deus vive na nuvem do desconhecimento e que a pessoa tem de se despojar de toda ideia, de toda concepção intelectual, antes de poder acercar-se da luz que está rodeada pelas trevas da mais profunda confusão. Aqui, a nuvem tem o mesmo duplo significado; descreve um estado de profunda confusão, de completa infelicidade, que é, ao mesmo tempo, o início do trabalho alquímico.”
VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia, Uma introdução ao simbolismo e seu significado na psicologia de Carl G. Jung, Ed. Cultrix 2022, Pág 343-344.
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