Fortaleza intima

“Se o desenvolvimento da consciência for perturbado no seu desabrochar natural, ela, para escapar das suas dificuldades externas e internas, isola-se em uma “fortaleza” intima. Quando isso acontece, seus sonhos e seus desenhos, que dão ao material inconsciente uma expressão simbólica, revelam de maneira invulgar a recorrência de um tipo de motivo circular, quadrangular ou “nuclear” (que mais tarde explicaremos) uma referência ao núcleo psíquico, que já mencionamos antes, o centro vital da personalidade do qual emana todo o desenvolvimento estrutural da consciência. É natural que a imagem desse centro apareça de modo especialmente marcante quando a vida psíquica do individuo está ameaçada. Desse núcleo central (tanto quanto sabemos hoje em dia) é comandada toda a estruturação da consciência do ego, que é, aparentemente, uma cópia ou réplica do centro original.

O verdadeiro processo de individuação isto é, a harmonização do consciente com o nosso próprio centro interior (o núcleo psíquico) ou self-em geral começa infligindo uma lesão à personalidade, acompanhada do consequente sofrimento. Esse choque inicial é uma espécie de “apelo”, apesar de nem sempre ser reconhecido como tal. Ao contrário, o ego sente-se tolhido nas suas vontades ou desejos e geralmente projeta essa frustração sobre qualquer objeto exterior. Ou seja, o ego passa a acusar Deus, a situação econômica, o chefe ou o cônjuge como responsáveis por essa frustração.

Algumas vezes tudo parece bem externamente, mas no seu intimo a pessoa está sofrendo de um tédio mortal que torna tudo vazio e sem sentido. Muitos mitos e contos de fadas descrevem simbolicamente esse estágio inicial do processo de individuação, quando contam histórias de um rei que ficou doente ou envelheceu. Outras histórias características são a do rei e rainha estéreis; ou a do monstro que rouba mulheres, crianças, cavalos e tesouros de um reino; ou a do demônio que impede o exército ou a armada de algum rei de seguir sua rota; ou a da escuridão que cobre todas as terras; e ainda histórias sobre secas, inundações, geadas etc. Poderia se dizer que o encontro inicial com o self lança uma sombra sobre o futuro, ou que esse “amigo interior” aparece primeiro como um caçador que prepara sua armadilha para pegar o ego indefeso.”

 

JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 218-219.

III O processo de individuação

M.-L. Von Franz

 

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