Núcleo atômico do sistema psíquico

“O centro organizador de onde emana essa ação reguladora parece ser uma especie de “núcleo atômico” do nosso sistema psíquico. É possível denominá-lo também de inventor, organizador ou fonte das imagens oníricas, Jung chamou a esse centro o selfe o descreveu como a totalidade absoluta da psique, para diferenciá-lo do ego, que cons-titui apenas uma pequena parte dela.

Ao decorrer dos tempos, os homens, por intuição, estiveram sempre conscientes desse centro. Os gregos o chamavam de daimon, o interior do homem; no Egito ele estava expresso no conceito da alma-Ba, e os romanos adoravam-no como o “gênio” inato em cada indivíduo. Em sociedades mais primitivas imaginavam-no muitas vezes como um espírito protetor, encarnado em um animal ou um fetiche.

O self pode ser definido como um fator de orientação íntima, diferente da personalidade consciente, e que só pode ser apreendido por meio da investigação dos sonhos de cada um. E esses sonhos mostram-no como um centro regulador que provoca um constante desenvolvimento e amadurecimento da personalidade.

O processo acontece como se o ego não tivesse sido produzido pela natureza para seguir ilimitadamente os seus próprios impulsos arbitrários, e sim para ajudar a realizar, verdadeiramente, a totalidade da psique. É o ego que ilumina o sistema inteiro, permitindo que ganhe consciência e, portanto, que se torne realizado. Se, por exemplo, possuo algum dom artístico de que meu ego não está consciente, este talento não se desenvolve e é como se fosse inexistente. Só posso trazê-lo à realidade se o meu ego o notar. A totalidade inata, mas escondida, da psique, não é a mesma coisa que uma totalidade plenamente realizada e vivida.

Podemos exemplificar assim essa afirmativa: a semente de um pinheiro contém, em forma latente, a futura árvore; mas cada semente cai em determinado tempo, em um determinado lugar, no qual intervém um determinado número de fatores, como a qualidade do solo, a inclinação do terreno, a sua exposição ao sol e ao vento etc. A totalidade latente do pinheiro reage a essas circunstâncias evitando as pedras, inclinando-se em direção ao sol, modelando, enfim, o crescimento da árvore. É assim que um pinheiro começa, lentamente, a existir de fato, estabelecendo sua totalidade e emergindo para o campo do real. Sem a árvore viva, a imagem do pinheiro é apenas uma possibilidade ou uma abstração. E a realização dessa unicidade no indivíduo é o objetivo do processo de individuação.*

*Nota Pessoal: Aristóteles.

O homem, no entanto, experimenta algo que não está expresso na nossa metáfora do pinheiro. O processo de individuação é, na verdade, mais do que um simples acordo entre a semente inata da totalidade e as circunstâncias externas que constituem o seu destino. Sua experiência subjetiva sugere a intervenção ativa e criadora de alguma força suprapessoal. Por vezes, sentimos que o inconsciente nos está guiando de acordo com um designio secreto. É como se algo estivesse nos olhando, algo que não vemos mas que nos vê – talvez o Grande Homem que vive em nosso coração e que, através dos sonhos, nos vem dizer o que pensa a nosso respeito.

Mas esse aspecto ativo e criador do núcleo psíquico só pode entrar em ação quando o ego se desembaraça de todos os projetos determinados e ambiciosos em beneficio de uma forma de existência mais profunda e fundamental. O ego deve ser capaz de ouvir atentamente e de entregar-se, sem qualquer outro propósito ou objetivo, ao impulso interior de crescimento. Muitos filósofos existencialistas tentam descrever esse estado, mas limitam-se a destruir as ilusões da consciência: chegam até a porta do inconsciente e não a conseguem abrir.”

 

JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 212-214.

III O processo de individuação

M.-L. Von Franz

 

Gostei e vejo sentido em compartlhar essa ideiA

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