Escritos da alquimia e os contos de fada

“A grande diferença entre os escritos da alquimia e os contos de fada é que os alquimistas não somente produziram símbolos projetando seu inconsciente nos materiais físicos, como também teorizaram sobre suas descobertas. Seus textos mais interessantes abordam tanto os símbolos como também as associações semipsicológicas ligadas a eles. Pode-se usar as imagens da alquimia como conexões intermediárias entre as imagens distantes dos contos de fada e o nosso mundo consciente.

Na alquimia, alguns dos estágios mais comuns des- critos no modelo de desenvolvimento-que corresponde ao refinamento da prima materia para o ouro nigredo, que significa negrume do material, quando ele é submetido ao fogo; o albedo, substância branca que, quando lavada, torna-se prata; e o rubedo (o vermelho) que, através do esquentamento posterior, torna-se ouro.

O albedo significa a primeira percepção clara do in- divíduo do seu inconsciente, com a possibilidade de obter uma atitude objetiva, e o rebaixamento da consciência, necessário para se obter tais estágios. O albedo significa algo frio, uma atitude fria e destacada, um estágio onde as coisas parecem remotas e vagas como a luz do luar. Consequentemente, diz-se que o feminino e a lua são os governantes do estágio albedo. Também significa uma ati- tude receptiva para o inconsciente. A limpeza é uma forma de se chegar a bons termos com a sombra, enquanto no estágio anterior, o nigredo, há a confrontação terrível com a sombra, que é uma tortura e que deve ser seguido trabalhando-se na diferenciação da parte inferior da psique.

Os alquimistas chamam isso de “trabalho duro”. Com o progresso do albedo a força principal é aliviada. Então, simples esquentar muda o albedo para rubedo, que é governado, por sua vez, pelo sol e que anuncia um novo estado de consciência. O sol e a lua, o escravo vermelho e mulher branca, são opostos e frequentemente se casam, significando a união da consciência objetiva com a anima, do logos masculino com o princípio feminino interior. Graças a esta união, mais e mais a energia é gradualmente depurada para a consciência, trazendo uma conexão positiva com o mundo, a possibilidade de uma atividade criativa e a capacidade de amar.”

FRANZ, Marie-Louise von. A interpretação dos contos de fadas. São Paulo: Paulus, 2022, pág.192-193.

7. Sombra, anima e animus nos contos de fada

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