Mistérios, vampiros e feiticeiros

“Os vampiros, como bem se sabe, se alimentam de pessoas vivas. A necessidade que têm de viver a vida dos outros advém do seu desespero de terem sido banidos do mundo dos vivos. Uma mulher possuída pelo animus necessita da energia das vidas dos outros que a circundam porque suas próprias fontes de sentimento e de Eros estão afastadas dela. Do ponto de vista psicológico, os espíritos são conteúdos do inconsciente. Devorar cadáveres mostra, simbolicamente, que os complexos e outros conteúdos inconscientes lutam desesperadamente para penetrar na consciência e para se realizar nos seres vivos. A voracidade de um espírito por um corpo é o desejo não reconhecido, não redimido, de se atingir a plenitude da vida.

Na China e no Japão a raposa é um animal feiticeiro. Diz-se que bruxas e feiticeiras aparecem sob a forma de raposas e casos de mulheres epiléticas e histéricas são explicados como enfeitiçamento por raposas. Para os chineses e japoneses, a raposa é um animal feminino como o gato é para nós e isso também representa a natureza feminina, instintiva e primitiva da mulher.

(…)Nos mistérios de iniciação mudar de roupa era o sinal da transformação para um estado de compreensão iluminado. Os sapatos são a parte mais baixa de nosso vestuário e representam nossa relação com a realidade o quanto nossos pés estão plantados no chão e o quão – ou seja, solidamente a terra nos suporta e nos dá a medida do nosso poder.

(…)

Nas amarras do animus, nenhuma mulher é capaz de desistir ou sacrificar qualquer poder que ela possa ter ou qualquer convicção que seja correta, necessária e valiosa. As opiniões dessa mulher surgiram do pensamento masculino inferior; quanto menos ela for capaz de avaliá-los, mais apaixonadamente ela se segura neles. Esta é a razão para a persistência da possessão do animus. Infelizmente tal tipo de mulher nunca pensa que algo de errado se passa com ela mas, ao contrário, ela tem certeza de que o erro está nos outros.

(…)

De acordo com as crenças primitivas, o crânio contém a essência imortal dos seres mortais, de onde surgem os caçadores de cabeças e os cultos aos crânios.”

 

FRANZ, Marie-Louise von. A interpretação dos contos de fadas. São Paulo: Paulus, 2022, pág.225-229.

7. Sombra, anima e animus nos contos de fada

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