“Os apetites sensitivos e espirituais permanecem, então, adormecidos e mortificados, sem poder saborear coisa alguma, nem divina nem humana. As afeições da alma, oprimidas e angustiadas, não conseguem mover-se para ela, nem achar arrimo em nada. A imaginação fica atada, na impossibilidade de discorrer sobre qualquer coisa boa; a memória, acabada; o entendimento nas trevas, nada compreende; enfim, a vontade, também seca na afeição, e todas as potências vazias e inúteis. Acima de tudo isto, sente a alma sobre si uma espessa e pesada nuvem, que a mantém angustiada e como afastada de Deus. Caminhando assim “às escuras”, é que declara ir “segura”.
E não somente se livra de si mesma, mas também dos outros inimigos, que são o mundo e o demônio, os quais, encontrando adormecidas as afeições e atividades da alma, não lhe podem fazer guerra por outro meio nem por outra parte. 3. Daí se colhe o seguinte: quanto mais a alma vai às escuras e privada de suas operações naturais, tanto mais segura vai.”
CRUZ, São João da. A noite escura da Alma. Editora Família Católica, 2018, versão Kindle, Posição: 1999-2009.