As tribos digitais

“As tribos digitais tornam possível uma experiência forte de identidade e pertencimento. Para elas, informações não constituem uma fonte de saber, mas de identidade. Teorias da conspiração são particularmente adequadas para a formação do biótopo tribal na rede, pois tornam possíveis demarcações e segregações constitutivas para o tribalismo e sua política de identidade.

As tribos digitais se isolam ao selecionar informações desde si e ao implantá-las para sua política de identidade. Ao contrário da tese da Bubble Filter, são confrontadas completamente em suas infobolhas com fatos e dados que contradizem sua convicção. Mas eles são simplesmente ignorados, pois não se adequam à narrativa que gera a identidade, pois renunciar às convicções seria perder a identidade, o que é preciso evitar a qualquer custo. Assim, os coletivos tribais identitários denegam todo e qualquer discurso, todo e qualquer diálogo. A conciliação não é mais possível. A opinião externada por eles não é discursiva, mas sagrada, pois ela coincide completamente com a identidade que lhes é impossível renunciar.

O discurso é um ato comunicativo que tenta obter um entendimento face às diferentes reivindicações de validade. É realizado com argumentos, com os quais as reivindicações de validade são fundamentadas ou refutadas. A racionalidade inerente ao discurso se chama racionalidade comunicativa. A reivindicação de validade das tribos digitais entendidas como coletivos de identidade não é discursiva, mas absoluta, pois lhe falta a racionalidade comunicativa.”

HAN, Byung-Chul. Infocracia: Digitalização e a crise da democracia. Ed. Vozes, 2022, Local 503-515.

O fim da ação comunicativa

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Gostei e vejo sentido em compartlhar essa ideiA

Facebook
Twitter
Pinterest

QUER MAIS?

Sonho

“SONHO — C.G. Jung: “O sonho é uma porta estreita, dissimulada naquilo que a alma

Leia mais