“A triste verdade é que a vida do homem consiste de um complexo de fatores antagônicos inexoráveis: o dia e a noite, o nascimento e a morte, a felicidade e o sofri-mento, o bem e o mal. Não nos resta nem a certeza de que um dia um desses fatores vai prevalecer sobre o outro, que o bem vai se transformar em mal, ou que a alegria há de derrotar a dor. A vida é uma batalha. Sempre foi e sempre será. E se não fosse assim, ela chegaria ao fim.
Foi precisamente esse conflito interior do homem que levou os primeiros cristãos a esperarem e desejaren um final rápido para o mundo e os budistas a rejeitarem todas as aspirações e anseios terrenos. Essas contestações fundamentais equivaleriam a um verdadeiro suicídio se não estivessem associadas a determinadas ideias e práticas morais e intelectuais que constituem a própria substância de ambas as religiões e, de um certo modo, modificam a sua atitude de negação radical do mundo.
Enfatizo esse ponto porque, em nossa época, milhares de pessoas perderam a fé na religião, seja ela qual for. São pessoas que não compreendem mais as suas próprias, crenças. Enquanto a vida caminha placidamente, a falta de uma religião não é notada.
Mas quando chega o sofrimento, a coisa muda de figura. É ai que as pessoas começam a buscar uma saída e a refletir a respeito da significação da vida e de suas incríveis e dolorosas experiências.”
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 107.
I Chegando ao inconsciente
Carl G. Jung