Separa a terra do fogo, o sutil do denso

“Mais uma vez lemos, na Tábua da Esmeralda: “Separa a terra do fogo, o sutil do denso, com delicadeza e com grande ingenuidade.” Em termos psicológicos, o resultado da separatio pela divisão em dois é a consciência dos contrários. Trata-se de uma característica essencial da consciência emergente.

[Na evolução da consciência ocidental, os opostos (enantia) foram descobertos pelos filósofos pré-socráticos.

A separatio elemental que dá ensejo à existência consciente é a separação entre sujeito e objeto, entre o eu e o não-eu. Esse é o primeiro par de opostos. Shu só pode separar Ged de Nut depois de alcançar uma separação precedente de si mesmo com relação a eles. Shu significa, portanto, o ego primordial, o divisor de opostos, que cria o espaço para a existência da consciência. Na medida em que os opostos permanecem inconscientes e não-separados, vivemos num estado de participation mystique, que significa a identificação com um dos lados de um par de opostos e a projeção do seu contrário com um inimigo. O espaço para a existência da consciência surge entre os opostos, o que significa que nos tornamos conscientes de ser capazes de conter e de suportar os opostos em nosso interior.

Um importante aspecto da psicoterapia é o processo da separatio, cujo componente mais relevante é a separação entre sujeito e objeto. O ego imaturo é notório pelo seu estado de participation mystique tanto com o mundo interior como com o mundo exterior. Um ego nessa condição deve passar por um prolongado processo de diferenciação entre sujeito e objeto. À medida que isso ocorre, a desidentificação com outros pares de opostos também ocorre

O alquimista diz: “Separa a terra do fogo, o sutil do denso.” Em termos psicológicos, pode-se aplicar isso à separação entre os aspectos literais e concretos de uma experiência e a libido e o significado simbólico interior que estão a ela vinculados isto é, uma separação entre os componentes subjetivos e objetivos dessa experiência. Um problema comum na psicoterapia é o conflito e a ambivalência no tocante a uma decisão prática. Devo aceitar este emprego? Devo fazer esta mudança? Devo me casar ou divorciar? A base desses conflitos costuma ser uma falta de distinção entre os significados concreto e simbólico da ação proposta. Pode ser, por exemplo, que uma pessoa obcecada pela idéia do divórcio, mas incapaz de agir, esteja sendo instada a realizar uma separação psíquica do cônjuge, um divórcio simbólico, em vez de um divórcio literal. De qualquer maneira, o concreto e o simbólico são dois níveis diferentes de realidade que é preciso distinguir e considerar em separado. Quando isso é feito, a decisão objetiva costuma ser facilmente tomada.

A criação via separatio também é descrita como divisão em quatro. Diz Paracelso: “Na criação do mundo, a primeira separação começou com, os quatro elementos, quando a primeira matéria do mundo era o caos. Desse caos, Deus fez o Mundo Superior, separado em quatro elementos distintos, Fogo, Ar, Água, Terra.

 

EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág.202-204.

Capítulo 7 Separatio

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