“O motivo da divisão em quatro elementos corresponde, em termos psicológicos, à aplicação das quatro funções a uma dada experiência. A sensação nos diz quais são os fatos. O pensamento determina os conceitos gerais em que os fatos podem ser situados. O sentimento nos diz se gostamos ou não dos fatos. A intuição sugere a possível origem dos fatos, aquilo para que podem levar e os vínculos que podem ter com outros fatos; ela apresenta possibilidades, e não certezas.
(…) Embora não se possa equiparar de modo preciso os quatro elementos com as quatro funções, há um paralelo aproximado. Há uma aproximação semelhante com os quatro naipes do tarô: espadas, paus, copas e pentagrama (ver figura 7-4). Cada um desses padrões quádruplos é uma encarnação particular do arquétipo da Quaternidade, que estrutura a matéria indiferenciada. De modo específico, os quatro elementos representam os quatro graus diferentes de agregação da matéria, variando entre a energia desencorporada (fogo) e a plena solidez (terra). É de se presumir que haja graus análogos de agregação da substância psíquica a serem elucidados.
Cada área recém-encontrada do inconsciente requer um ato cosmogônico de separatio.
O sonhador precisava de um contato com o Logos-Cortador melhor do que havia conseguido até então.
Espadas, facas e lâminas bem afiadas de todos os tipos pertencem ao simbolismo da separatio.
(…)Um rexemplo desse simbolismo paradoxal é o clássico texto de separatio dos Evangelhos: “Eu não vim trazer a paz, mas uma espada. Porque vim colocar um homem contra seu pai, e uma filha contra sua mãe, e uma nora contra sua sogra; e os inimigos do homem serão aqueles de sua própria casa.” (Mat., 10: 34-36, RSV.) (Ver figura 7-5.)
Uma versão ainda mais rigorosa dessa mesma idéia está no texto gnóstico do Evangelho de Tomé. “Disse Jesus: “Talvez os homens pensem que eu vim para trazer paz à terra. Eles não sabem que eu vim para trazer discórdia à terra: fogo, espada e guerra. Haverá cinco numa casa: três contra dois e dois contra três; pai contra filho e filho contra pai. E ficarão solitários. ”
Cristo, o Si-mesmo como Logos-Cortador, vem para dissecar ou desmembrar a participation mystique da psique familiar (“os inimigos do homem serão aqueles da sua própria casa”). A versão gnóstica afirma de modo explícito que o alvo é fazer o indivíduo (“e ficarão solitários”).
A separatio pode ter como expressão imagens de morte ou de assassinato. Os sonhos de morte e os desejos de morte dirigidos contra uma pessoa particular com frequência indicam a necessidade de separação de um relacionamento de identificação inconsciente que se tornou sufocante.
EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág.205-207.
Capítulo 7 Separatio