“(…) há uma confusão entre uma autêntica reconciliação de opostos por meio de uma maior consciência e uma dissolução regressiva que torna indistinta a percepção dos opostos.
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Essa idéia corresponde à circulatio alquímica, em que o material deve ser repetidamente sublimado e coagulado, circulando muitas e muitas vezes por todos os estados do ser, até a criação da Pedra Filosofal. Por conseguinte, vê-se toda a história do mundo como um vasto processo alquímico.
Os mitos do dilúvio mostram-se sobremodo instrutivos sob o ponto de vista psicológico. Deus envia um dilúvio destruidor quando o mundo fica pérfido e degenerado. É como se a humanidade tivesse de ser reduzida, por meio da solutio, à sua prima materia, a fim de transformar-se em alguma coisa melhor. Outro aspecto da solutio também é demonstrado pelas histórias de dilúvio, a saber, o tema da prova da água. Através desta prova, os homens santos, aqueles cuja existência é autêntica, permanecem intactos, ao passo que os pérfidos ou inautênticos são dissolvidos. Psicologicamente, isso significaria que os aspectos do ego que se acham vinculados com o Si-mesmo de modo consciente suportam a solutio.
Nos mitos, a ameaça de um dilúvio mundial era usada para encorajar a percepção de Deus. Da mesma forma, uma ameaça de inundação vinda do inconsciente pode ter um efeito salutar sobre um ego presunçoso e produzir a consciência da necessidade de relacionamento com o transpessoal.
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Os sonhos com inundações referem-se à solutio. Representam uma ativação do inconsciente que ameaça dissolver a estrutura estabelecida do ego e reduzi-lo à prima materia. As grandes transições da vida costumam ser experiências de solutio. ”
EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág.86-87.
Capítulo 3 Solutio