“Porque somos, no sentido mais profundo, as vítimas e os instrumentos do “amor” cosmogônico. Ponho a palavra entre aspas para indicar que não a uso em suas conotações de desejo, preferências, favorecimento, anseio e sentimentos semelhantes, mas como algo superior ao indivíduo, um todo unificado e indiviso. Sendo uma parte, o homem não pode captar o todo. Ele se encontra à mercê do todo. Pode obedecer a ele ou rebelar-se contra ele; mas sempre é tomado por ele e contido dentro dele.
Uma vez criada, a Pedra Filosofal tem o poder de transformar a matéria vil em matéria nobre. Faz-se referência a esse poder, nos textos, por meio das operações de proiectio e de multiplicatio (ou augmentatio). Em termos estritos, essas operações não são realizadas pelo alquimista, mas pela lapis. As chamadas operações são, portanto, na verdade, propriedades da Pedra Filosofal (…)
O poder de multiplicatio da Pedra remonta ao frasco de óleo da viúva (1 Reis, 17: 14), ao milagre dos pães e dos peixes (Mat., 14: 17-21) (…)
As implicações psicológicas da multiplicatio são muito interessantes. A imagem sugere que os efeitos transformadores emanam do Si-mesmo ativado em processo de realização consciente. É por certo verdade que todos os eventos, por mais comuns, assumem importância quando fazem parte do processo de individuação. Do mesmo modo, a multiplicatio nos fornece um indício do modo como a psicoterapia pode funcionar. Em certa medida, a consciência de um indivíduo que se encontra relacionado com o Si-mesmo parece ser contagiosa e tende a multiplicar-se em outras.”
(…)
Na psicoterapia, requer-se abertura (à psique objetiva) tanto do paciente como do terapeuta. Diz Jung: “As personalidades do médico e do paciente com frequência têm uma importância infinitamente maior, para o resultado do tratamento, do que o médico diz e pensa…”
EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág 242-244.
Capítulo 8 Coniunctio