Personalização do arquétipo

“O princípio [da personalização secundária) afirma que há no homem uma persistente tendência no sentido de tomar os conteúdos primários e transpessoais como conteúdos secundários e pessoais, e reduzi-los a fatores pessoais. A personalização acha-se diretamente vinculada com o crescimento do ego, da consciência e da individualidade… por meio das quais… o ego emerge da torrente de eventos transpessoais e coletivos… A personalização secundária promove uma consistente diminuição do poder efetivo do transpessoal e um aumento consistente da importância do ego e da personalidade.

Isso descreve a coagulatio, na qual os conteúdos arquetípicos caem do céu e são incorporados ao ego.

O relacionamento pessoal da infância coagula os arquétipos, mas também os distorce e limita. Se os aspectos particulares que foram objeto da coagulação se revelarem demasiado unilaterais em termos de negatividade ou de alguma outra forma nocivos para o crescimento, sua destruição e recoagulação, sob circunstâncias mais favoráveis, serão imperativo.

(…)

Uma abordagem ativa, sensível e participativa por parte do psicoterapeuta promove a coagulatio. Certos pacientes requerem essa abordagem e são ameaçados por tudo o que encorajar a solutio. O caso extremo de falha na concretização das imagens arquetípicas é a esquizofrenia evidente. O ego é literalmente inundado por imagens arquetípicas ilimitadas e primordiais. Um indivíduo acometido por isso não teve oportunidades adequadas de experimentar os arquétipos mediados e personalizados por meio de relacionamentos humanos.

A necessidade vital de personalização do arquétipo explica o modo pelo qual muitos pacientes se aferram obstinadamente à experiência original que tiveram com os pais. Se, por exemplo, esta tiver sido muito negativa e destrutiva, o paciente poderá encontrar dificuldades para aceitar e suportar uma experiência parental positiva. Fiquei com a nítida impressão de que uma pessoa permanecerá numa, digamos assim, orientação negativa do arquétipo do pai simplesmente porque este foi o aspecto da imagem que se coagulou em sua própria vida, apresentando, portanto, um elemento de segurança e proteção, embora seja negativo. Para a pessoa que tem esse problema, o encontro com o aspecto positivo do arquétipo é perigoso, tendo em vista que esse lado jamais foi personalizado e traz consigo uma magnitude transpessoal que ameaça dissolver os limites estabelecidos do ego.

(…)

Ora, aquilo que vem a ser deve ser corpóreo e, portanto, visível e tangível; e nada pode ser visível sem fogo ou tangível sem algo sólido, e nada é sólido sem terra. Eis por que o deus, quando começou a formar o corpo do universo, procurou fazê-lo de fogo e de terra. Mas duas coisas não podem ser satisfatoriamente unidas sem uma terceira; porque deve haver alguma conexão entre elas que as faça ficar juntas. E, de todos os conectores, o melhor é aquele que faz de si mesmo e dos elementos que conecta uma unidade no sentido pleno; e é da natureza de uma proporção geométrica contínua (analogia) realizá-lo com perfeição.

Essa passagem diz, essencialmente, que o corpo do universo é criado (isto é, coagulado), por intermédio da proporção ou analogia. A analogia é um processo de relacionamento, uma elaboração de conexões por meio do “como se”. Esses textos dizem que a analogia encarna ou coagula o espírito. Eis o que torna a alquimia tão importante para a psicologia profunda. Ela é um tesouro de analogias que personificam ou encarnam a psique objetiva e os processos por que ela passa no curso do desenvolvimento. O mesmo se aplica à religião e à mitologia. A importância da analogia para a percepção da psique não pode ser demasiado acentuado. Ela dá forma e visibilidade ao que antes era invisível e intangível, ainda não coagulado.*

*Nota pessoal: PQP !!!!

Os conceitos e abstrações não coagulam. Formam ar, e não terra. São agentes da sublimatio. As imagens dos sonhos e da imaginação ativa coagulam. Elas vinculam o mundo exterior com o mundo interior por meio de imagens análogas ou proporcionais e por isso coagulam o material que vem da alma. (…) “Na medida em que conseguia traduzir as emoções em imagens ou seja, na medida em que conseguia descobrir as imagens que se achavam ocultas nas emoções -, eu recuperava a calma e a paz interiores.”

 

EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág.116-118.

Capítulo 4 Coagulatio

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