“Sabemos, por meio de vários exemplos, que uma árvore ou uma planta antigas representam, simbolicamente, o crescimento e o desenvolvimento da vida psíquica (enquanto a vida instintiva é em geral simbolizada por animais). Assim, naquele pedaço de madeira, a mulher encontrou um símbolo do seu elo com as camadas mais profundas da inconsciência coletiva.
(…)
Mas não se deve concluir que tal independência acabe num desligamento como o iogue, significando uma renúncia ao mundo e a todas as suas impurezas. Na paisagem morta e crestada do seu sonho, a mulher viu vestígios de vida animal: os “porquinhos-da-india”, espécie que desconhecia e que parecia lembrar um tipo particular de animal, capaz de viver em dois meios, na água e na terra.
Outros símbolos transcendentes das profundezas são os lagartos, as serpentes e, em alguns casos, os peixes, criaturas intermediárias, que combinam atividades subaquáticas e voláteis com uma vida terrestre. O pato selvagem e o cisne também estão neste caso. Talvez o símbolo onírico mais comum de transcendência seja a serpente, representada como símbolo terapêutico de Esculápio, deus romano da medicina, e que até hoje subsiste como símbolo da profissão médica. Trata-se originalmente de uma serpente não venenosa que vivia em árvores. Como a vemos hoje, enrolada no bastão do deu da medicina, parece representar uma espécie de mediação entre a terra e o céu.
Um símbolo ctônico de transcendência ainda mais importante e mais conhecido é o motivo das duas serpentes entrelaçadas. São as célebres serpentes naja da India Antiga encontramo-las também na Grécia, entrelaçadas no bastão do deus Hermes. Uma herma grega é uma antiga coluna de pedra com um busto do deus em cima, tendo de um lado as serpentes entrelaçadas e do outro um falo ereto.”
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 200-202.
II Os Mitos antigos e o homem moderno
Joseph L. Henderson