“Da mesma maneira como a mortificatio sucede à coagulatio, assim também a consumação da coniunctio inferior leva à mortificatio. (…) Esse fato ajuda a explicar a relutância das pessoas sensíveis em se comprometerem com o processo de individuação. Elas percebem de antemão o sofrimento a que se estão entregando.
Os usos da adversidade também se apresentam no grande manual da mortificatio, The Imitation of Christ, de Thomas à Kempis. Nele lemos o seguinte:
É bom que por vezes sejamos atingidos por sofrimentos e adversidades, porque eles levam o homem a contemplar a si próprio e a ver que está aqui mas como se estivesse no exilio, bem como a aprender com isso que não deve depositar sua confiança em nenhuma coisa da terra. E também bom que por vezes soframos contrariedades, que as pessoas nos considerem maus, ímpios e pecadores, embora façamos o bem e tenhamos boas intenções; essas coisas nos ajudam a ter humildade e nos defendem vigorosamente da vanglória e do orgulho. Recorremos melhor a Deus, como nosso juiz e testemunha, quando somos desprezados exteriormente no mundo e quando o mundo não nos julga bem. Por conseguinte, deve o homem firmar-se em Deus de forma tão plena que, seja qual for a adversidade que sobre ele se abata, ele não precise buscar nenhum conforto exterior.
Um coração puro, cristalino e constante não se parte nem é facilmente vencido pelos labores espirituais, porque faz todas as coisas em homenagem a Deus, porque ele é claramente mortificado para si mesmo. Portanto, ele deseja livrar-se do seguimento de sua própria vontade. Que mais vos estorva senão vossas próprias afeições mortificadas de modo incompleto à vontade do espírito? Em verdade, nada mais.”
EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág. 172-173.
Capítulo 6 Mortificatio Putrefactio