Cabala

“E assim chegamos à Cabala, provavelmente a principal fonte de ideias núméricas no mundo do tarot moderno baseado na sistematização da Golden Dawn.

Mas a Cabala nos diz que o mundo físico está na sefira dez, Malkuth, dimensão mais distante e “densa” do divino e “etéreo” Kether E lá que vivemos, e se quisermos chegar mais perto do Espírito, devemos subir na árvore.

(…)

Ás – Kether Coroa: A origem de todas as coisas, sefirá completa em si mesma, indiferenciada, retratada como luz branca, além de todas as partes distintas da criação. Em vez de uma associação astrológica particular, Kether é o cosmos. Ela é a fonte, com todo o resto originando-se dela.

Dois – Hokhmah – Sabedoria (…) Hokhmah  chamada Sophia na Grécia (…) amor pela sabedoria (…) Hokhmah se torna o Pai, a cabeça do pialar masculino à direita da árvore.

Três Binah- Compreensão: (…) a Grande Mãe-A Imperatriz. Se olharmos para a árvore, veremos que as três primeiras sefirot formam um triângulo apontando para cima(…) 1-2-3 chamado de “supernal” ou seja, de ordem superior aos outros. Binah da à luz aquelas sete inferiores.

Quatro – Chesed – Misericórdia: Quatro e cinco, Misericór dia e Poder, formam um par. Também os chamamos de “expansão” e “contra ção”. A misericórdia, no lado masculino da árvore, é amorosa e generosa, e em constante e contínua efusão.

Cinco – Gevurah – Poder:  (…) Gevurah, que a Golden Dawn alinha com o planeta Marte e aco vermelha. O significado cabalista do número cinco estrutura as imagens do baralho Rider talvez mais do que qualquer outro número. Nas cartas de mi mero cinco, vemos conflito em Paus, luto em Copas, derrota em Espadas e pobreza e doença em Ouros.

Seis-Tipheret – Beleza: No centro (…) a Beleza, cujo “planeta” é o Sol c a cor é a amarela(…) Jacó e à sua imagem de homem ideal (…) Os cabalistas cristãos colocaram Cristo no centro dessa imagem(…) encontramos uma confluência com os pitagóricos, que veem o seis como Harmonia.

Sete – Netzach – Vitória: Temos uma no ção mais específica dessa sefirá a partir da designação da Golden Dawn.como o lugar do planeta Vênus, reino da emoção. A cor aqui é verde. Isso nos dá a linha vertical da Sabedoria (2), da Misericórdia expansiva (4) e da Vitória emocional (7).

Oito-Hod-Glória: (…) a atribuição da Golden Dawn, desta vez para Mercúrio, (…) a clareza, pelo menos a mental, pertence a Mercúrio, o reino da mente.(…) Mercúrio é a versão romana de Hermes(…) O nome grego para Vênus é Afrodite, de modo que, combinarmos oito e sete, obtemos Hermes-Afrodite, ou Hermafrodito, aquele ser completo que associamos à carta do Mundo e que os pitagóricos veem como o número dez.(…) Se cartas oito significam mente.

Nove-Yesod-Fundação: Aqui também valorizo a atribuição da Golden Dawn, neste caso a lua. Devemos perceber, a proposito, que a Ordem Hermérica não fez suas associações de forma arbitrária ou conceitual, mas simplesmente coloca os planetas em sua ordem, começando com a lua, o mais próximo da Terra Malkuth, sefirá dez, e move-se para Saturno -Binah. Como vimos com a carta dos Arcanos Maiores, a Lua rege a ima ginação, o instinto, os sonhos, a consciência mediúnica, a intuição. (…) reino lunar como a “Fundação” de nossa existência espiritual, a porta de entrada para o resto da árvore, bem como a principal forma de a energia espiritual descer até nossas vidas diárias. A cor aqui é prata.

Dez-Malkuth – Reino: Esta sefirá representa o mundo “real”, nossas vidas diárias. (…) Malkuth como “denso” ou “materia bruta”. (…) se queremos mudar algo nós mesmos ou o mundo – temos que fazê-lo em Malkuth, pois é onde tudo acontece. E se quisermos as cender na Árvore da Vida para a consciência superior, não podemos só esco lher qual das sefirot gostamos mais como ponto de partida. Devemos começar onde estamos, como seres vivos: em Malkuth. Assim, o dez deve significar a realidade sólida de cada naipe, e aqui as imagens da versão Rider, de longe as mais conhecidas, funcionam bem com os naipes femininos de Copas e Ouros. ”

POLLACK, Rachel.Bíblia Clássica do Tarot, Darkside, 2023, Pág.334-340.

As ciências ocultas incluem o espiritismo

“As ciências ocultas incluem o espiritismo, assim como o magnetismo animal e a teurgia, embora o espiritismo seja o primeiro e único domínio, após o magnetismo animal, que interessa àqueles que não reconhecem sabedoria nem verdade além dos limites de sua compreensão e de sua autoridade.

Um educador francês, Rivail, escrevendo sob o pseudônimo de Allan Kardec, deu o primeiro grande impulso à popularidade do espiritismo que, por meio de uma publicidade bem-sucedida, difundiu por toda parte que havia pessoas que desejavam conversar com a alma de uma pessoa morta ou curiosos que sentiam prazer ao ver uma mesa se mover.

O espiritismo tem tido sorte e sucesso porque é mais adequado ao nível comum de inteligência e está mais próximo da doutrina da Igreja Católica Militante, graças à sua concepção idealista da alma, dos espíritos dos mortos e do anjo da guarda.

(…)

No espaço, onde os espíritas colocam os espíritos dos mortos mais ou menos perfeitos, a ciência coloca todas as formas fluídicas, todas as coagulações do fluido da vida universal:

Os espíritos dos mortos,

os corpos astrais dos médiuns e iniciados errantes; os espiritos elementais ou espíritos dos elementos;

aquilo que foi concebido pelo homem;

os lêmures, as larvas e todas as criações pecaminosas e incompletas.

Nas formas latinas usadas pelos ocultistas dos séculos passados, como acontece em nossos ensinamentos iniciáticos em italiano, não é usado elementares para indicar almas humanas e elementais para indicar outras.

Nossa palavra antiga e habitual é espírito, do latim spiritus, sopro exalado pelo criador, sopro de vida e amor. Então, quando chamamos algumas almas de espíritos de homens, chamamos outras de espíritos de elementos ou elementais, que são criações inferiores ao homem e mais imperfeitas.

Só que isso não é suficiente, e os espíritas gostariam de saber como o mago vê, como ele opera e como ele entra no reino astral.” Antes de mais nada pelo raciocínio. A razão é a primeira tocha que nos deixa mais próximo da verdade. Em segundo lugar, não se iludindo. Finalmente, obrigando-se a não falar, a viver sem qualquer orgulho e sem”atirar pérolas aos porcos”.

Os cabalistas são os ocultistas da tradição judaica ocidental o fundamento de sua filosofia é a Cabala, moldura de ideias de natureza absoluta, cujo ensino era tradicional do mestre ao discipulo.

Sem dúvida, a magia inclui espiritismo, magnetismo, astrologia, alquimia e todas as variedades conhecidas das manifestações das forças ocultas no homem e na matéria; mas, ao mesmo tempo, a magia inclui uma filosofia mais elevada e uma prática filosófica oculta, que dá o ponto de partida para que quem a compreende melhor e consegue dominá-la deixe o mundo dos fenômenos da matéria e entre no mundo da divina Unidade.

(…)a magia é sabedoria divina e o mago que a atingiu já não pertence a este mundo de sofrimento e ilusões. ”

KREMMERZ, Giuliano. Introdução à ciência hermética: O caminho iniciático para a magia natural e divina. Editora Pensamento, 2022, Pág.51-60.

Primeira Parte

Espiritismo

Resumo de Plano Astral

1) Entidades orientadoras que se encarregam do funcionamento de tudo que evolui no plano astral. Essas entidades psíquicas são homens superiores da humanidade antiga que progrediram por iniciativa própria (espíritos orientadores da cabala).

2) Fluidos especiais formados de uma substância análoga a eletricidade, mas dorada de propriedades psíquicas: a luz astral.

3) Diversos seres suscetíveis à influência da vontade humana que circulam tesses fluidos: os elementais, muitas vezes oriundos das ideias vitalizadas do homem.

4) Formas futuras prontas a se manifestar no plano físico, formas orundas do reflexo negativo das ideias criadoras do mundo divino. Essas formas estão além desses princípios, específicos do plano astral.

5) “Imagens astrais” de seres e coisas, reflexos negativos do plano físico.

6) Fluidos emanados da vontade humana ou do mundo divino que atuam sobre o astral.

7) Corpos astrais de seres carregados de materialidade (suicidas), de seres a caminho da evolução (elementares) e de entidades humanas que atravessam o astral a fim de encarnar (nascimento) ou após desencarnar (morte. Podemos encontrar também os corpos astrais de adeptos ou feiticeiros enquanto estão vivenciando o astral.

PAPUS
.Tratado elementar de ciências ocultas, Ed. Pensamento, 2022, Pág.243-244.

Capítulo 10

Sobre a Alta Cabala

ADÃO

Adão Kadmon é o Adão anterior à Queda; Adão Belial é o Adão de Husks; e Adão protoplástico é o Princípio das almas diferenciadas (que Fabre D’ olivet chama de Homem Universal)

ALMAS

As almas nascem da diferenciação de Adão Protoplástico; seu número é de sessenta miríades, geradas pelos seguintes números místicos:

3-12-70-613-60 miríades

HELENISMO

Enquanto Moisés aperfeiçoava os aspectos unitário e dórico da tradição, o  aspecto masculino da Divindade, Orfeu, na Trácia, trabalhava o aspecto múltiplo e jônico dessa tradição, a manifestação feminina da Divindade e, em consequência, o PoliteÍsmo.

ORFEU

Quem mais influenciou os gregos de sua época foi Orfeu. Ele se colocou no centro de um círculo moral cuja influência se sente ainda hoje, após trinta e três séculos. Foi educado pelos egípcios e iniciado em seus mais secretos mistérios; na Grécia, tornou-se profeta e sumo pontífice. Conseguiu reunir vinte povos inimigos, divididos tanto por opiniões religiosas quanto por leis civis, em uma única religião e fundou a admirável Liga Anfictiônica, cujos decretos eram submetidos ao soberano pontífice de Delfos.

MUSAS

Os gregos elevaram o número das musas a nove, distinguindo mais atributos Eram filhas de Zeus e Mnemosine, que significa um ser eternamente vivo e a faculdade da memória, e chamavam-se: Clio, a que celebra: Melpomene, a que canta e reverencia a memória, Tália, a que floresce e nutre a simpatia; Euterpe, a que deleita; Terpsicore, a que saboreia e cultiva o lazer, Érato, a que ama; CalÍope, a que conta histórias envol ventes; Urânia, a que contempla o céu; e Polímnia, a que explica as diferentes artes.

As nove musas reconheciam Apolo, o gerador universal, como lider e ás vezes se valiam de Hércules, o senhor e governante do Universo, como guia.”

PAPUS.Tratado elementar de ciências ocultas, Ed. Pensamento, 2022, Pág.189-192.

Capítulo 8

Infinito- Princípio

“Em primeiro lugar, a cabala estabelece uma lei geral da qual a criação inteira apenas uma aplicação. Essa lei se revela na trindade derivada de uma unidade primordial quando estudamos sua origem, aspira a uma fusão com a Unidade quand estudamos seu objetivo; ou evolui para um ciclo quaternário quando estudanosa vida ou as fases de um império.

A trindade existe originalmente no primeiro princípio de toda criação e tem o seguinte desenho:

Cada um dos elementos constituintes dessa Trindade tem poderes de criação e geração como o Primeiro Princípio; mas em cada elemento ela se torna um denvativo, dotado de determinado aspecto, chamado afinidade ou sexo, e segue outros planos de ação.

Existem, com efeito, três planos de ação, e somente eles, nos quais ocorre a atividade de toda criatura. Esses três planos ou hierarquías recebem o nome de três mundos na cabala e são representados tanto nas maiores quanto nas menores criaturas.

Esses três mundos são feitos de:

1) Um mundo superior.

2) Um mundo médio.

3) Um mundo inferior.

Cada mundo, no entanto, possui seu próprio reflexo no outro.

Contudo, para explicar melhor como esses três mundos e seus reflexos se interpenetram, os cabalistas adotaram linhas verticais ou colunas que cruzam cada um dos três mundos e mostram, num relance, as relações desses diversos centros hierárquicos uns com os outros.”

PAPUS.Tratado elementar de ciências ocultas, Ed. Pensamento, 2022, Pág.176-179.
Capítulo 8

A cabala

“Moisés dívidiu seu ensinamento em dois aspectos, ligados a um rerceiro.

1) Um aspecto escrito: a letra, formada por caracteres ideográficos com três significados e constituindo o corpo.

2) Um aspecto oral: o espírito, constituindo a chave para a seção anterior.

3)Entre esses dois aspectos, há um código de normas relativas à cuidadosa conservação do texto, que forma a vida da tradição e tem seu fundamento na jurisprudência.

O corpo da tradição recebeu o nome de Massorah, o Texto Massorético. A vida da tradição foi dividida na Mishná e na Guemará, cuja união forma o Talmude.

Por fim, o espírito da tradição, a parte mais secreta, constituiu o Sepher Yetzirah e o Zohar, com o Tarô e as Clavículas de Salomão como anexos.

Tudo isso forma a CABALA

A cabala é a ciência da alma e de Deus, com todas as suas correspondências Ensina e prova que TUDO É UM e que UM ESTÁ EM TUDO, permitindo, graças à analogia, subir da imagem ao principio ou descer novamente do principio à forma. Para o cabalista, uma letra hebraica é um universo em miniatura, com todos os planos de correspondência, assim como o Universo é um alfabeto cabalístico com ca deias de relações vivas.

Três planos de existência, chamados os três mundos, externam a Unidade criativa. Encontramos esses três mundos por toda parte, tanto em Deus quanto no Universo ou no homem, e cada um deles manifesta o plano tríplice de existência Podemos vê-los, na totalidade, em um grão de trigo ou em um planeta, em um verme ou em um sol, em uma palavra humana falada ou em um signo gráfico.

Na época de Ptolomeu, os judeus já não sabiam interpretar o Sepher de Moíses; logo iriam perder sua independência, e apenas os essênios, que ainda possuiam segredos da cabala, perpetuaram seu espirito graças ao Cristianismo.”

PAPUS.Tratado elementar de ciências ocultas, Ed. Pensamento, 2022, Pág.175-176.
Capítulo 8

Capacidade de interpretar o simbolismo

“A partir daí, sua figura rechonchuda e simpática esteve sempre presente no mundo do ocultismo francês. Ele se juntou à Ordem Cabalistica da Rosa-Cruz, a principal ordem mágica francesa da época, e refundou a Ordem Martinista, uma tradição do ocultismo cristão que segue próspera nos dias de hoje.

(…)

Ao contrário de alguns autores ocultistas, de ontem e de hoje, Papus nunca deixou de reconhecer quanto aprendera de outros.

(…)

O segundo tema central explorado por Papus em Tratado Elementar de Ciências Ocultas é a diferença entre os meios modernos de lidar com a informação e os métodos usados para o mesmo fim nos mundos antigo e medieval. Segundo ele, as descobertas e realizações de outrora foram amplamente ignoradas nos tempos modernos porque a maioria dos seus contemporâneos não compreende o antigo uso do simbolismo, da fábula e da analogia como recursos para comunicar fatos. Os antigos não compartilhavam da crença moderna segundo a qual o conhecimento deve estar dispoível a todos, não escreviam livros para simplórios ou completos idiotas, como fazemos. Escreviam para quem desejava ardentemente compreender, para quem tinha a paciência e a inteligência para investigar além das formas superficiais, a fim de captar-lhes o significado.

A capacidade de interpretar o simbolismo, a fábula e a analogia já não existia no tempo de Papus, por isso ele devotou um sem número de páginas a instruir os leitores nessa capacidade e despertá-los graças ao processo de extrair conteúdos da herança do passado. Como a maneira simbólica de pensar continua tão fora de moda em nossa época quanto o era na dele, um dos aspectos mais úteis deste livro é o ensino das técnicas necessárias para extrair sabedoria do leque completo de mitos, lendas medievais e do simbolismo esotérico dos antigos.

(…)

Como regra geral, nunca é seguro abordar um texto ocultista presumindo que seu significado superficial seja o único importante; e, em se tratando de Papus, uma abordagem tão simplista seguramente deixará escapar seus sentidos mais sutis (…).”

PAPUS.Tratado elementar de ciências ocultas, Ed. Pensamento, 2022, Pág.08-13.
Prefácio

O primeiro a associar o tarô e a cabala

“Portanto, Eliphas Lévi foi o primeiro a associar o tarô e a cabala. Antes de continuarmos, voltemos um pouco à definição de cabala. Em sua origem, o termo deriva do hebraico qabbala, que significa “tradição transmitida”. Ele remonta a dois textos principais: O Livro do Iluminação ou Sefer ha-Bahir, também chamado de O Bahir (as primeiras citações remontam ao último terço do século XII), e O Livro do Esplendor ou Sefer ha-Zohar, popularmente chamado de O Zohar, obra em parte de Moisés de Leão, que data do último quarto do século XIII. (…)Se quisermos dar uma definição simples da cabala, podemos dizer que ela trata da natureza de Deus e das emanações divinas.

No século XV, os humanistas cristãos integraram o hebraico a seus estudos em busca das fontes originais. Também buscaram uma compreensão mais aprofundada do Antigo Testamento. Foi Pico della Mirandola (1463-1494) quem lançou esse movimento de estudos da cabala, logo chamada de “cabala cristã”. (…) Segundo a cabala, o mundo foi criado com dez algarismos e 22 letras, as 22 letras sagradas do alfabeto hebraico. Dai a fazê-las corresponder aos 22 arcanos do tarô foi apenas um passo. Pode parecer curioso que esse passo só tenha sido dado em 1856 por Eliphas Lévi.”

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 182.

Éliphas Lévi, o tarô e a cabala

“Éliphas Lévi, cujo verdadeiro nome era Alphonse-Louis Constant (1810-1875), é o principal autor da tradição esotérica do tarô. De fato, foi ele quem fez do tarô um objeto do ocultismo.

(…) o termo “ocultismo” surgiu apenas em 1842 no Dictionnaire des mots nouveaux [Dicionário de Palavras Novas], de Jean-Baptiste Richard de Radonvilliers. Isso significa que é um conceito recente. Por muito tempo indiferenciado do termo “esoterismo” (surgido em 1828), ele poderia ser definido como uma corrente de pensamento, cujo principal objetivo seria dar vida nova às antigas iniciações, aos antigos conhecimentos (dos egípcios, dos hebreus…), para além das rupturas históricas e como reação a uma modernidade racionalista e materialista.

No entanto, com Éliphas Lévi, ela assume plenamente seu sentido e se realiza. Na verdade, Lévi pode ser designado como um dos fundadores do movimento ocultista francês. Mais tarde, Papus e outros autores o transformam em um conjunto complexo e elaborado, no qual alquimia, astrologia, hermetismo, cabala e tarô se misturam. Esse movimento, que atinge seu pleno desenvolvimento nos anos 1880, também se ancora na sociedade da época, marcada pelo romantismo, pelo socialismo, pelo feminismo, pelo espiritismo, pelo iluminismo etc.

(…) diante das visões tradicionais – materialismo, catolicismo -, o século XIX assiste a uma profusão de pensamentos, textos ou ainda movimentos e grupos novos em todas as áreas – ciências, política, arte, literatura e religião. Nunca se viram tantas ideias, igrejas, correntes artísticas ou partidos políticos novos. Sem dúvida, nossos ocultistas, que sonham em formar um mundo novo, em conformidade com as sabedorias ancestrais, encontram seu lugar nesse movimento. (…) Ex-eclesiástico que deixou a Igreja quando se apaixonou, em 1836 (no seminário estudou hebraico, grego e latim), Lévi encarna muito bem todas essas tendências que parecem contraditórias: inspirado por seu amor por Flora Tristan, dedica toda a sua vida ao feminismo e ao socialismo (nessa época chamado de “igualitarismo”), o que não o impede de se tornar um fervoroso ocultista a partir de 1854. Nessa data, refugia-se em Londres, após o naufrágio de seu segundo casamento e de várias prisões em razão de textos considerados escandalosos (…)”

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 180-181.