Escada da iniciação

“Subindo mais um degrau na escada da iniciação, o aspirante descobre que as duas naturezas, a natural e a naturalizante, se mesclam no homem, podendo ascender à ideia de uma única força cuja natureza dupla representa os dois polos.

Não há nenhuma dúvida de que, durante o ciclo anterior de civilização, a unidade da humanidade no Universo, a unidade do Universo em Deus e a unidade de Deus nele mesmo não eram ensinadas como superstições primitivas, obscuras e reacionárias. Ao contrário, eram ensinadas como o coroamento brilhante e magnificente da quádrupla hierarquia das ciências que energizava um culto biológico sob a forma de sabeísmo.

O nome do Deus supremo desse ciclo – Ishvara, Esposo de Prakriti, a Sabedoria viva da natureza naturalizante – é o mesmo que Moisés tomou, quase cinco séculos depois, da tradição caldaica dos semitas e dos santuários de Tebas, para formar o símbolo cíclico de seu movimento: Ishvara-El ou, por contração, Israel, isto é, inteligência dos reis ou Espírito de Deus.”

PAPUS.Tratado elementar de ciências ocultas, Ed. Pensamento, 2022, Pág. 70.

Capítulo 3

Uma maneira de libertar os homens da guerra

“A proposta que me foi feita pela Sociedade das Nações e pelo seu Instituto Internacional de Cooperação Intelectual de Paris, de convidar uma pessoa de minha escolha para uma troca franca de opiniões sobre um problema qualquer também escolhido por mim, oferece-me a feliz oportunidade de dialogar consigo em torno de uma pergunta que parece, na presente condição do mundo, ser a mais urgente entre todas aquelas que se põem à civilização. A pergunta é: existe uma maneira de libertar os homens da fatalidade da guerra?

Penso também que aqueles a quem compete encarar o problema profissional e praticamente, tornam-se dia a dia mais conscientes da sua impotência, e têm hoje um vivo desejo de conhecer as opiniões de pessoas absorvidas pela pesquisa científica, as quais por isso mesmo estão em condições de observar os problemas do mundo om suficiente distanciamento. Quanto a mim, o objetivo para o qual se dirige habitualmente o meu pensamento não me ajuda a discernir os obscuros recessos da vontade e do sentimento humano.

Sendo imune a sentimentos nacionalistas, vejo pessoalmente uma maneira simples de enfrentar o aspeto exterior, isto é organizativo, do problema: os Estados criam uma autoridade legislativa e judicial com o mandato de conciliar todos os conflitos que surjam entre eles. Cada Estado assume a obrigação de respeitar os decretos desta autoridade, de invocar as suas decisões em cada contenda, de acatar sem reserva o seu julgamento e de pôr em prática todas as medidas que forem julgadas necessárias para fazer aplicar as próprias resoluções. (…)  Existe aqui uma realidade da qual não podemos prescindir: direito e força são inseparáveis e as decisões do direito aproximam-se da justiça, à qual aspira a comunidade em cujo nome e interesse são pronunciadas as sentenças, somente na medida em que essa comunidade tem o poder efetivo de impor o respeito do próprio ideal legalitário. (…) Chego assim ao meu primeiro axioma: a procura da segurança internacional implica que cada Estado renuncie incondicionalmente a uma parte da sua liberdade de ação, o que equivale a dizer à soberania (…)”

FREUD, Sigmund. Porquê a Guerra? – Reflexões sobre o destino do mundo, Ed. Edições 70, 2019, pág.59-60.

Reflexões a dois sobre o destino do mundo (1932)

“Carta de Einstein a Freud”

O prazer de matar

“Note-se que os povos primitivos ainda existentes na Terra, mais próximos do que nós do homem primordial, se comportam neste ponto de modo muito diferente ou se comportaram, enquanto não sofreram a influência da nossa cultura. O selvagem – australiano, bosquímane ou o habitante da Terra do Fogo não é nenhum assassino sem remorsos; quando regressa vencedor da luta não lhe é lícito pisar a sua aldeia nem tocar na sua mulher, antes de ter resgatado os seus homicídios guerreiros com penitências, por vezes, longas e penosas. Naturalmente, a explicação desta superstição é evidente; o selvagem teme ainda a vingança dos espíritos dos mortos. Mas os espíritos dos inimigos chacinados são apenas a expressão da sua má consciência por causa dos seus homicídios; por trás desta superstição oculta-se um fragmento de sensibilidade ética que nós, homens civilizados, perdemos.

Uma proibição tão forte só pode elevar-se contra um impulso igualmente poderoso. O que nenhuma alma humana deseja não precisa de ser proibido, exclui-se por si mesmo. A acentuação do mandamento «Não matarás!>> garante-nos justamente que descendemos de uma longuíssima série de gerações de assassinos, que tinham no sangue o prazer de matar, como talvez ainda nós próprios.”

FREUD, Sigmund. Porquê a Guerra? – Reflexões sobre o destino do mundo, Ed. Edições 70, 2019, pág. 46-47.

Considerações atuais sobre a guerra e a morte (1915)
“A nossa atitude diante da morte”

A sociedade civilizada

“A sociedade civilizada, que exige a ação boa e não se preocupa com o seu fundamento pulsional, ganhou, pois, para a obediência à civilização um grande número de homens que nisso não seguem a sua natureza. Animada por este êxito, deixou-se induzir a intensificar em grau máximo as exigências morais, obrigando assim os seus participantes a distanciar-se ainda mais da sua disposição instintiva. A estes homens é imposta uma continuada opressão das pulsões, cuja tensão se manifesta em notabilíssimos fenômenos de reação e de compensação. No terreno da sexualidade, onde menos se pode levar a cabo semelhante opressão, chega-se assim aos fenômenos reativos das enfermidades neuróticas. A pressão da cultura noutros setores não acarreta consequências patológicas, mas manifesta-se em deformações de caráter e na disponibilidade constante das pul- sões inibidas para abrir caminho na ocasião oportuna para a satisfação. Quem assim é forçado a reagir permanentemente no sentido de prescrições que não são expressão das suas tendências pulsio nais vive, psicologicamente falando, muito acima dos seus meios e pode qualificar-se objetivamente de hipócrita, seja ou não clara mente consciente desta diferença. É inegável que a nossa cultura atual favorece com extraordinária amplitude este género de hipocrisia.”

FREUD, Sigmund. Porquê a Guerra? – Reflexões sobre o destino do mundo, Ed. Edições 70, 2019, pág.33.

Considerações atuais sobre a guerra e a morte (1915)
“O desapontamento perante a morte”

Povos civilizados

“Tornou também patente o fenômeno, dificilmente concebível, de que os povos civilizados se conhecem e compreendem entre si tão pouco que podem virar-se, cheios de ódio e de repulsa, uns contra os outros. Mais, que uma das grandes nações civilizadas é objeto de um repúdio tão universal que se pode arriscar a tentativa de a excluir, como «bárbara», da comunidade civilizada, embora tenha há muito demonstrado, graças aos mais esplendidos contributos, a sua aptidão para tal comunidade.

(…)

Os povos são, até certo ponto, representados pelos Estados que constituem, e estes Estados, por seu turno, pelos Governos que os regem. O cidadão individual pode comprovar com espanto nesta guerra o que já lhe ocorrera em tempos de paz, a saber, que o Estado proibiu ao indivíduo o uso da injustiça, não porque pretenda aboli-la, mas porque quer monopolizá-la, como o tabaco e o sal. O Estado combatente permite a si toda a injustiça e toda a violência que desonraria o indivíduo. Não só utiliza contra o inimigo a astúcia permissível (ruses de guerre), mas também a mentira consciente e o engano intencional, e isto, claro está, numa medida que parece supe- rar o usual em guerras anteriores.”

FREUD, Sigmund. Porquê a Guerra? – Reflexões sobre o destino do mundo, Ed. Edições 70, 2019, pág.29.

Considerações atuais sobre a guerra e a morte (1915)
“O desapontamento perante a morte”

Experiência com uma outra raça

“No segredo do meu íntimo chegara à conclusão de que, se reconhecer- mos na nossa civilização atual, que é de todas a mais elevada, somente uma hipocrisia gigantesca, torna-se evidente que não somos organicamente idóneos para esta civilização. Não nos resta senão abdicar, e o Grande Desconhecido, pessoa ou coisa, que se esconde por trás do Destino, repetirá no futuro a experiência com uma outra raça.”

FREUD, Sigmund. Porquê a Guerra? – Reflexões sobre o destino do mundo, Ed. Edições 70, 2019, pág.18.

Apresentação

Objetivos da guerra

“(…)a guerra, diz ele, «na forma que está destinada a assumir no futuro, por causa do aperfeiçoamento dos meios de destruição, significaria o extermínio de um, ou talvez de ambos os contendores». Se isto é verdade, as duas funções típicas da civilização – <<o reforço do intelecto» e «a interiorização da agressividade», que podem ser dirigidos a objetivos diferentes dos da guerra poderiam também encontrar, na qualidade modificada dos conflitos armados, o ponto de apoio para uma transformação da dialética inconsciente pela qual somos governados.”

FREUD, Sigmund. Porquê a Guerra? – Reflexões sobre o destino do mundo, Ed. Edições 70, 2019, pág.14.

Prefácio

Ideia da hospitalidade

“A hospitalidade é a expressão suprema da razão universal que chegou a si mesma. A razão não consiste em um poder homogeneizador. Com a sua afabilidade, ela está em condição de reconhecer o outro em sua alteridade e dar-lhe boas-vindas.

A ideia da hospitalidade aponta, também, para além da razão, para algo universal. Para Nietzsche, ela é a expressão de uma “alma abundante”. Ela está em condições de abrir todas a singularidades em si.

O grau de civilização de uma sociedade se deixa medir justamente pela sua hospitalidade; sim, por sua afabilidade.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 296-307.

Violência do Global e terrorismo

Thomas Edison

“Se Thomas Edison tivesse parado, simplesmente desejando conhecer o segredo pelo qual a energia elétrica fazia com que a lâmpada incandescente acendesse, toda a conveniência que as suas descobertas trouxeram para a civilização teria permanecido como segredos da natureza. Ele encontrou-se com o fracasso temporário por mais de dez mil vezes antes de finalmente conseguir arrancar esse segredo da natureza.”

Hill, Napoleon. Mais Esperto que o Diabo: O mistério revelado da liberdade e do sucesso,Ed. Citadel, 2014, pág.42.