“Não se deve considerar o homem, como indivíduo ou coletivamente, isolado do restante da natureza visível ou invisível. Esse é o erro que os materialistas cometem.
(…) os interessados encontrarão todos os detalhes referentes a esses pontos na obra notável de Stanislas de Guaita intitulada A Chave da Magia Negra (…) Tratado Elementar de Magia Prática e (…) Magia e Hipnose.
O aspecto visível do homem é uma manifestação do aspecto invisível, assim como o receptor do telégrafo reproduz um telegrama enviado de longe.
Segundo o ocultismo, existe também na natureza um aspecto totalmente invisível além dos objetos e das forças fisicas que afetam nossos sentidos materiais.
Do mesmo modo que os construtores incessantes do organismo, fluidos e células (sangue e fluidos nervosos, hemácias e leucócitos), circulam no homem invisível, forças e seres que são os fatores incessantes do plano físico circulam na natureza.
O ocultista que observou a existência do corpo astral – construtor e protetor das formas orgânicas – no homem não conseguirá deter seu estudo da natureza na observação das forças fisioquímicas ou nos resultados da evolução. As coisas visíveis, repetimos, são apenas o resultado de princípios invisíveis aos nossos sentidos fisicos. Convém lembrar que o aspecto invisível do homem compreende dois principios básicos: o corpo astral e o ser psíquico, por um lado, e a mente consciente, por outro.
O conhecimento do plano astral é indispensável para a compreensão das teorias que o ocultismo propõe para explicar todos os fenômenos aparentemente es tranhos que o homem é capaz de produzir quando cultiva a si mesmo de determinada maneira.
O artista teve uma ideia absolutamente clara da estatueta em seu cérebro. Em algum lugar, a argila está pronta para receber e manifestar essa forma, mas o INTERMEDIÁRIO, a mão, que já não pode obedecer ao cérebro nem atuar sobre a matéria, não produz nada.
Para que a ideia do artista se manifeste por meio da matéria, é necessária a existência de um intermediário entre a ideia e a matéria.
O que é, em suma, a estatueta? Uma imagem física da ideia que o artista tinha no cérebro. A mão age como molde onde a matéria é moldada, e isso é tão verda deiro que, se a estatueta se quebrar por acidente, o artista ainda encontrará a forma original em seu cérebro e poderá refazer a obra, uma imagem mais ou menos perfeita da ideia que serve de modelo.
Há, no entanto, uma maneira de impedir que a estatueta se perca depois de feita: fazer um molde dela. Com esse molde, temos o negativo da coisa a ser reproduzida, de modo que a matéria, ao sair do molde, sempre manifestará sua forma original sem que o artista precise intervir.
Portanto, basta um único negativo da ideia original para obtermos inúmeras imagens positivas dessa ideia, imagens sempre iguais entre si e que surgem devido à interação do negativo com a matéria.
Com efeito, toda forma orgânica ou inorgânica que se manifesta a nossos sentidos é uma estatueta feita por um grande artista chamado Criador, ou melhor, que vem de um plano superior chamado plano da Criação.
Mas nesse plano primordial de criação existem apenas ideias, os princípios, assim como no cérebro do artista.
Entre esse plano superior e nosso mundo fisico visível há um plano intermediário encarregado de receber a impressão do plano superior e concretizá-la atuando sobre a matéria, do mesmo modo que a mão do artista se encarrega de receber a impressão do cérebro e fixá-la na matéria.
Esse plano intermediário entre o principio das coisas e as próprias coisas é o que chamamos, no ocultismo, de plano astral.
Nunca é demais repetir que tudo está firmemente enraizado na natureza, assim como no homem, e que cada folha de grama traz em si seus planos astral e divino. Separamos coisas absolutamente inter-rela- cionadas apenas para fins de análise. Determinamos o caráter intermediário do pla- no astral; mas isso não é tudo.
Todas as coisas são criadas no mundo divino em princípio, isto é, com o poder de vir a ser, análogo à ideia no homem.
Esse princípio se transfere em seguida para o plano astral e ali se manifesta como um “negativo” – ou seja, tudo que era luminoso no princípio se torna escuro e tudo que era escuro se torna luminoso; o que se manifesta não é uma imagem exata do princípio, mas o molde dessa imagem. Obtido o molde, a criação “no astral” é concluída.
É então que tem início a criação no plano fisico, no mundo visível. A forma astral age sobre a matéria, que dá origem à forma fisica, como o molde dá origem às suas estatuetas. E o astral não pode mudar os tipos que cria, do mesmo modo que o molde não pode mudar a imagem que reproduz. Para modificar uma forma, será necessário fabricar um molde novo, coisa que Deus faz de maneira direta e o homem faz de maneira indireta.”
PAPUS.Tratado elementar de ciências ocultas, Ed. Pensamento, 2022, Pág. 237-240.
Capítulo 10