O imperativo neoliberal do desempenho

“Ele não narra nada. Ele não seduz. O pornô produz uma desnarrativização e deslinguistificação, não apenas do corpo, mas também da comunicação em geral. Nisso consiste a sua obscenidade.

O imperativo neoliberal do desempenho, sexyness e fitness nivela o corpo, por fim, a um objeto funcional que deve ser otimizado.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 128-132.

Terror do igual

Experiência

“A experiência, em sentido enfático, não é um resultado do trabalho e do desempenho. Ela não se deixa produzir pela atividade. Antes, ela pressupõe uma forma particular de passividade e de inatividade: “fazer uma experiência com algo, seja com uma coisa, com um ser humano, com um deus, significa que esse algo nos atropela, nos vem ao encontro, chega até nós, nos avassala e transforma”. A experiência se baseia no dom e na recepção. O seu medium é a escuta. O atual ruído da comunicação e da informação, porém, põe um fim à “sociedade dos que escutam”. Ninguém escuta. Todos se produzem.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 185.

Considerações sobre a inatividade

Inatividade não é uma fraqueza

“Somos feitos da matéria dos sonhos; e nossa curta vida é envolta pelo sono.” William Shakespeare

“Cada vez mais nos assemelhamos àquelas pessoas ativas que “rolam tal como pedra, conforme a estupidez da mecânica”. Dado que percebemos a vida apenas em termos de trabalho e desempenho, compreendemos a inatividade como um déficit que deve ser corrigido o mais rápido possível. A existência humana está totalmente absorvida pela atividade. Por isso, é possível explorá-la. Perdemos o sentido da inatividade, a qual não representa uma incapacidade, uma recusa, uma simples ausência de atividade, mas uma capacidade em seu próprio direito. A inatividade tem sua própria lógica, sua própria linguagem, sua própria temporalidade, sua própria arquitetura, seu próprio esplendor, sua própria magia. Ela não é uma fraqueza, uma falta, mas uma intensidade que, todavia, não é nem percebida nem reconhecida na nossa sociedade da atividade e do desempenho.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 45.

Considerações sobre a inatividade

Explorador e explorado

“O sujeito de desempenho está livre da instância de domínio exterior que o obrigue ao trabalho e o explore. Está submetido apenas a si próprio. Mas a supressão da instância de domínio externa não elimina a estrutura de coação. Ela, antes, unifica liberdade e coação. O sujeito de desempenho acaba entregando-se à coação livre a fim de maximizar seu desempenho. Assim ele explora a si mesmo. Ele é o explorador e ao mesmo tempo o explorado, o algoz e a vítima, o senhor e o escravo.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 863.

Anexos: Sociedade do Esgotamento

Autoexploração

“A partir de um certo nível de produção, a autoexploração é essencialmente mais eficiente, muito mais produtiva que a exploração estranha, visto que caminha de mãos dadas com o sentimento da liberdade. A sociedade de desempenho é uma sociedade de autoexploração. O sujeito de desempenho explora a si mesmo, até consumir-se completamente (burnout). Ele desenvolve nesse processo uma autoagressividade, que não raro se agudiza e desemboca num suicídio. O projeto se mostra como um projetil, que o sujeito de desempenho direciona contra si mesmo.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 833.

Anexos: Sociedade do Esgotamento

O sujeito de desempenho pós-moderno

“O sujeito de desempenho pós-moderno não está submisso a ninguém. Propriamente falando, não é mais sujeito, uma vez que esse conceito se caracteriza pela submissão (subject to, sujet à, sujeito a). Ele se positiva, liberta-se para um projeto. A mudança de sujeito para projeto, porém, não suprime as coações. Em lugar da coação estranha, surge a autocoação, que se apresenta como liberdade.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 830.

Anexos: Sociedade do Esgotamento

Concorrência entre os indivíduos

“Problemática não é a concorrência entre os indivíduos, mas o fato de tomarem a si mesmos como referência e de aguçar neles, assim, sua concorrência absoluta. O sujeito de desempenho concorre consigo mesmo e, sob uma coação destrutiva, se vê forçado a superar constantemente a si próprio. Essa autocoação, que se apresenta como liberdade, acaba sendo fatal para ele. O burnout é o resultado da concorrência absoluta.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 818.

Anexos: Sociedade do Esgotamento

O evangelho do desenvolvimento pessoal

“Com o evangelho do desenvolvimento pessoal de um lado, e com o culto da capacidade de desempenho, de outro, não desaparece o conflito; ele perde porém sua univocidade e já não se constitui mais num guia seguro”. Ultrapassando a tese de Ehrenberg, há que se admitir que o sujeito do desempenho não aceita sentimentos negativos, o que acabaria se condensando e formando um conflito. A coação por desempenho impede que eles venham à fala. Ele já não é capaz de elaborar o conflito, uma vez que esse processo é simplesmente por demais demorado. É muito mais simples lançar mão de antidepressivos que voltam a restabelecer o sujeito funcional e capaz de desempenho.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 810.

Anexos: Sociedade do Esgotamento

Sujeito do desempenho pós-moderno

“O sujeito do desempenho pós-moderno, que dispõe de uma quantidade exagerada de opções, não é capaz de estabelecer ligações intensas. Na depressão todas as ligações e relacionamentos se rompem, também a ligação para consigo mesmo.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 757.

Anexos: Sociedade do Esgotamento

Desempenho da modernidade tardia

“O sujeito de desempenho da modernidade tardia não se submete a nenhum trabalho compulsório. Suas máximas não são obediência, lei e cumprimento do dever, mas liberdade e boa vontade. Do trabalho, espera acima de tudo alcançar prazer. Tampouco se trata de seguir o chamado de um outro. Ao contrário, ele ouve a si mesmo. Deve ser um empreendedor de si mesmo. Assim, ele se desvincula da negatividade das ordens do outro. Mas essa liberdade do outro não só lhe proporciona emancipação e libertação. A dialética misteriosa da liberdade transforma essa liberdade em novas coações.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 683.

Anexos: Sociedade do Esgotamento