Uma Nova Abordagem das Questões

“Orígenes, o mais brilhante teólogo do século III, expressou, embora tenha sido suspeito de heresia, o ponto de vista ortodoxo ao declarar que Deus não teria oferecido um caminho para a salvação acessível somente à elite intelectual ou espiritualizada. O que a igreja ensina, afirma, deve ser simples, unânime e acessível a todos.

(…)

Quando Muhammad ‘Ali quebrou aquele jarro cheio de papiros no penhasco próximo a Nag Hammadi e desapontou-se por não encontrar ouro, jamais poderia imaginar as implicações dessa descoberta acidental. Caso tivessem sido achados mil anos antes, os textos gnósticos, provavelmente, teriam sido queimados como hereges. Mas eles permaneceram escondidos até o século XX, quando nossa experiência cultural nos proporcionara uma nova abordagem das questões que eles suscitariam.”

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 167-168.

Capítulo: Conclusão.

O Acolhimento dos Hereges

“Tertuliano (…) Lamentava que os hereges acolhessem todos que aderissem a eles, “porque não se importam com seus diferentes tratamentos dos tópicos”, desde que houvesse consenso para acessar “a cidade de uma única verdade”. Contudo, essa metáfora indica que os gnósticos não eram nem relativistas nem céticos.” *(Tertuliano, DE PRAESCR. 7.)

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 115.

Capítulo: 5- Qual é a “Verdadeira Igreja”?

Hereges- Campo de Rebeldes

“(…) prontos a falar, com sinceridade, de alguns aspectos de sua crença, “Isso não é assim”, “Tenho uma visão diferente”. “Não admito isso“.

Tertuliano adverte que esse questionamento leva à heresia: “Essa norma (…) foi ensinada por Cristo e não causa entre nós perguntas além daquelas que as heresias introduzem e que convertem os homens em hereges!” Também destaca que os hereges não se restringem às Escrituras do Novo Testamento: acrescentam outros escritos ou desafiam a interpretação ortodoxa de textos-chave.” Mais tarde, como já observado, ele condena os hereges de serem “um campo de rebeldes” que se recusam a submeter-se à autoridade do bispo. Solicitando uma ordem estrita de obediência e submissão, conclui que a “evidência de uma maior disciplina que existe entre nós é prova adicional da verdade”.

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 124.

Capítulo: 5- Qual é a “Verdadeira Igreja”?

Os Hereges Podem Falar por Si

“Começamos agora a perceber que o cristianismo – e o que identificamos como tradição cristã- representa, na verdade, apenas uma pequena seleção de fontes específicas, escolhidas entre dezenas de outras. Quem fez a seleção? E por que razões? Por que os outros escritos foram excluídos e proibidos como “heresia”? O que os tornou tão perigosos? Agora, pela primeira vez, temos a oportunidade de conhecer a primeira heresia cristã; pela primeira vez, os hereges podem falar por si mesmos.”

PAGELS, Elaine. Os Evangélhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. XXXIX.

Capítulo: Introdução.

Textos Hereges de Nag Hammadi

A grande diversidade de textos abrange desde evangelhos secretos, poemas e descrições quase filosóficas sobre a origem do universo até mitos, mágicas e instruções de práticas místicas.

(..) parecem ser ambos parte de uma disputa crítica na formação do início do cristianismo. Os textos de Nag Hammadi e outros similares, que circularam no início da era cristã, foram denunciados como hereges por cristãos ortodoxos em meados do século II. Sabemos que muitos dos primeiros seguidores de Cristo foram condenados por outros cristãos como hereges porém
quase tudo que conhecíamos sobre eles provinha do que fora a escrito por seus adversários para atacá-los.”

PAGELS, Elaine. Os Evangélhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. XVIII-XIX.

Capítulo: Introdução.

Distinção Entre Fatos Bíblicos e Ficção

O tempo trabalha na mente dos homens, de modo especial daqueles que estão distantes da época dos acontecimentos, para acrescer ou minorar os atributos de personagens importantes e os eventos associados com suas vidas. Se estes tiverem conotação religiosa, transformaçõs de fatos em lendas parecem ocorrer de forma ainda mais temerária. (…) a Índia recobriu sua riqueza espiritual mais sagrada – e os agentes divinos deste tesouro – com um simbolismo e a profundidade de uma mitologia rica de significados que preservaram os princípios e os preceitos de suas escrituras ao longo de gerações de dominacão e influência estrangeira. Talvez as vozes da Antiguidade não devessem ser inteiramente silenciadas ou descartadas precipitadamente de nossa consideração mental. Todavia, um atento discernimento está por certo justificado.

Essa distinção entre fato e ficção, de modo a manter a integridade da Igreja e da doutrina cristãs, era claramente a intenção dos patriarcas da Igreja. Os 27 livros do Novo Testamento que hoje constituem o relato bíblico da vida e dos ensinamentos de Jesus foram compilados, nos primórdios da Igreja, de uma coleção muito mais ampla de textos. 

(…)

É difícil deixar de concordar em alguma medida com o comentarista John Jortin (1698-1770; arquidiácono de londres), que, segundo nos diz Hone, ao analisar a autoridade desses Concílios Gerais, concluiu ironicamente: “O Concílio dos Apóstolos em Jerusalém [Atos I] foi o primeiro e o último de que se pode afirmar ter sido presidido pelo Espírito Santo”

(…)

O surgimento da compilação específica de livros hoje conhecida como o Novo Testamento ocorreu no ano 367 d.C.

Durante séculos, a existência de muitos dos textos que foram suprimidos e destruídos era praticamente desconhecida – tanto para os eruditos quanto para os que professavam a fé. Alguns deles vieram à tona na famosa descoberta em Nag Hammadi, Egito, em 1945. Devido às descobertas de Nag Hammadi, escreve Elaine Pagels Ph.D., professora de religião na Universidade de Princeton e renomada estudiosa do Cristianismo original, “nós começamos a ver que o que chamamos de cristianismo – e o que identificamos como sendo a tradição cristã – na realidade representa somente uma pequena seleção de fontes específicas, escolhidas dentre dezenas de outras. (…)

Por volta do ano 200 (…) o cristianismo se tornara uma instituição encabeçada por uma hierarquia em três níveis constituída de bispos, padres e diáconos, que se viam como os guardiães da única ‘fé verdadeira’. (…) Os esforços da maioria para destruir todos os vestigios de ‘blasfemia’ herética tiveram tanto êxito que, até a descoberta em Nag Hammadi, praticamente todas as informações sobre formas alternativas de cristianismo dos primeiros séculos vinham dos violentos ataques ortodoxos contra elas. (…) Se tivessem sido encontrados mil anos antes, [esses] textos quase certamente teriam sido queimados como heréticos. (…) Hoje nós os lemos com olhos diferentes, não como mera ‘loucura e blasfemia’, mas como os cristãos dos primeiros séculos devem tê-los lido – como uma vigorosaalternativa para o que conhecemos como a tradição ortodoxa cristã.” – Elaine Pagels, The Gnostic Gospels (Nova York: Vintage Books, 1981) [Os evangelbos gnósticos (Ed. Objetiva)]. (Nota da Editora).”

YOGANANDA, Paramahansa. A Segunda Vinda de Cristo, A Ressurreição do Cristo Interior. Comentário Revelador dos Ensinamentos Originais de Jesus. Vol. I. Editora Self, 2017, pág. 75-77.

Capítulo 4: A infância e a juventude de Jesus.