Etimologia e significados do termo pendu: termo surgido no século XIII, derivado do latim pendere. O que nos interessa aqui é menos sua etimologia em francês do que o fato de a carta ter mudado de nome: as antigas denominações italianas designam il Traditore, ou seja, “o traidor”.
Sobre o Pendurado
(…) ser pendurado pelo pé era uma punição imposta aos traidores na Itália urbana do final da Idade Média. Tratava-se de uma pena simbólica, chamada de “pintura infamante” ou “pintura de infâmia”. Geralmente o indivíduo culpado era representado de cabeça para baixo, pendurado pelo pé e acompanhado por inscrições em verso ou em prosa, que indicavam sua identidade e os crimes pelos quais fora estigmatizado. (…) A de Sigismondo Malatesta é célebre. Foi condenado em 1462 por heresia, crime de lesa-majestade contra o papa e alta traição: seu retrato foi queimado em uma grande fogueira, montada na escadaria de São Pedro. Que ninguém se engane: o caráter simbólico da punição não suprimia sua gravidade. O indivíduo fadado à exposição pública não apenas era banido da cidade, mas sua lembrança também estava destinada a desaparecer.
Ora, a fama, o renome público, é de vital importância na Idade Média. Ela condiciona toda a vida de um indivíduo na senhoria, na cidade, na paróquia e na família. É garantia na compra, no contrato e no testemunho. Perder a própria fama significa tornar-se para sempre um pária, um cidadão de categoria inferior, um “mal-afamado”. Assim, o crime denunciado por exposição refere-se particularmente às pessoas culpadas de malversação, falso jura- mento, traição e maus costumes. As raras apresentações artísticas de pendurados pelo pe dizem respeito a usurários e idólatras, supliciados desse modo no inferno, pois a idolatria era vista como a mais hedionda traição, na qual se renega e, portanto, trai o próprio Deus. hadin do Sainte Foy de Conques, vê-se um usurário pendurado pelos pés
(…) na célebre representação do inferno de Giovanni da Modena, quem aparece desse modo são os idólatras.(…) Eusébio narra que as mulheres eram penduradas “de modo que suas partes íntimas fossem expostas, para que se demonstrasse à santa religião de Cristo o máximo desprezo possível” (…)
(…) se trata do sistema do suplício por representação, que se generalizou no final da Idade Média. Mesmo condenado a morrer, o culpado era destinado a uma exposição infamante após sua morte, ora de sua cabeça, ora de seu corpo supliciado ainda com vida na roda ou calcinado. Já o enforcamento era a pena de morte mais praticada nessa época e se unia a esse sistema de execução infamante por exposição – pois o enforcamento era a pena dos plebeus (enquanto os nobres eram decapitados) ou dos criminosos particularmente desprezados. De fato, os pendurados apodreciam na forca, sem sepultura cristã. Portanto, além do esquecimento, eram fadados à danação eterna.
(…) ele não é um mártir que se sacrifica, é um ignóbil traidor, a escória da humanidade.
Significados
1900, Papus 12. o Pendurado
(…) sacrifício moral, sacrifício físico, provação, sacrifício.
1927. Oswald Wirth: XII, o Pendurado
Abnegação, sacrifício consentido, desinteresse, altruísmo, abnegação.
1949, Paul Marteau: lâmina XII, o Pendurado
O homem inverte sua ação para orientá-la ao aspecto espiritual, com um sentimento de expectativa, de abnegação.
Uma pausa como preparação para uma transição, uma transformação, uma passagem do concreto ao abstrato e, por conseguinte, um estado de não afetividade, uma pausa do poder de ação.
Possibilidades muito diversas. (…) Essa lâmina indica coisas que não amadureceram o suficiente, ela não apresenta uma conclusão.
Falta de determinação, indecisão na escolha afetiva.
Abandono de algo, renúncia, projeto duvidoso. Incapacidade momentânea de agir.
NADOLNY, Isabelle. História do Tarô. Um estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 236-238.