“Correspondência Astrológica: Vênus.
(…) há figuras de trindades em diversas religiões. Embora a triangulação perfeita – a razão pela qual o número três é tão atraente seja mãe-pai- filho, as mitologias parecem preferir versões exclusivamente masculinas ou exclusivamente femininas. Além da trindade cristã Pai-Filho-Espírito Santo, temos também a triade masculina hindu Criador-Preservador-Destruidor. As mulheres tém sua vez nas três Moiras da Grécia – emparelhadas pelas Nornas do norte da Europa – e na Deusa Tríplice Donzela-Mãe-Anciã, cujos aspectos refletem as fases crescente, cheia e minguante da lua, bem como os estágios da vida de uma mulher, desde a infância (…)
Nos Arcanos Maiores, existem três cartas primárias do feminino que combinam com a Deusa Triplice -a da Sacerdotisa para a Donzela, a da Imperatriz para a Mãe e a da Lua para a Anciã. E, no entanto, cada uma carrega todas as trés qualidades ou estágios dentro de si, indiferente do que for enfatizado sobre ela.
Do Tao (Nada, O Louco) vem o Um. Do Um (O Mago) vem o Dois (A Sacerdotisa). Do Dois vem o Três, A Imperatriz, a Terra apaixo nada e vivificante que simboliza também a Grande Deusa. (…) “Do Três vem dez mil coisas”, isto é, do três procede toda a vida, o fluxo da natureza com todos os seus assombros e energias.
Podemos ver essa fórmula 1 para 2 para 3 de outra maneira. De forma simples, 1-2=3. O nosso mundo físico consiste na união dos opostos simbolizados pelo Mago e pela Sacerdotisa: luz e escuridão, ativo e receptivo, masculino e feminino, consciente e inconsciente, positivo e negativo. Nenhum desses elementos pode existir sem seu oposto.(…) enquanto O Mago e A Sacerdotisa representam princípios, A Imperatriz significa a realidade que os combina.
O mito sumério conta como a ou deusa Tiamat, um grande dragão ou serpente marinha, tornou-se opressiva com os demais deuses, fazendo com o seu descendente Marduk a matasse e a fizesse em pedaços originando assim a Terra. Muitas feministas e historiadoras especializadas em divindades antigas acreditam que Tiamat era uma Grande Mãe benevolente que fez o mundo a partir de seu corpo, enquanto Marduk representaria o surgimento do poder masculino e sua necessidade de destruir e suplantar a autoridade feminina.
(…) todas as partes do mundo, todas as criaturas, plantas e rochas, todas as histó rias individuais, constituem uma única vida, uma única história, um único ser. Podemos descrever os Arcanos Maiores como uma espécie de projeto de restauração, de como podemos juntar todos os pedaços quebrados e espalhados, tikkun olam, a fim de restaurar o mundo como dizem os cabalistas, e eles não estão falando de avanço social, a razão de chamarmos a última carta de Mundo, O Mundo é a carta de número 21, e se somarmos esses números, 2+1, obtemos 3, A Imperatriz.
No baralho Rider, vemos Deméter em meio ao trigo, com a natureza crescendo ao redor de seu luxuoso assento, pois à deusa cabia a incumbencia de governar a vida de sodas as plantas. Quando Hades, o deus dos mortos, sequestrou a filha de Deméser, Perséfone, para ser sua noiva no sombrio submundo, ela interrompeu ocrescimento de todas as plantas do planeta. Sem plantas, humanos e animais morreriam de fome, e sem humanos e animais, os deuses não receberian crificio. Diante dessa calamidade, Zeus enviou Hermes veja -o Mago-para ordenar a Hades que entregasse Perséfone. Como visto na seção da Sacerdo tisa, ela comeu sementes de roma na Terra dos Mortos, tendo de retornar to do ano por um período acordado. Na imagem Rider, o manto da Imperatriz exibe romãs, nesse caso mais como simbolo de fecundidade e vida do que de decadência e morte. Veremos aspectos dessa história repetidas vezes nos Ae canos Maiores, sobretudo na Estrela, a última carta da triade da Imperatis, constituida de Imperatriz, Roda da Fortuna e Estrela.
Dado o fato de Deméter estar disposta a literalmente parar o mundo en vez de perder sua filha para a Morte, essa divindade acabou se tornando um grande simbolo de maternidade e devoção absoluta. O Hino Homérico que conta sua história leva o título “Hino a Deméter” não a Perséfone, гло ritual de nove dias dos Mistérios de Eleusis, todos os celebrantes assumiama papel da deusa-mãe, vivenciando a dor da perda e a não aceitação da morte para, finalmente, celebrar o retorno de Perséfone, com a promessa de que morte não se tornará nosso derradeiro destino.
A história de Deméter nos mostra a interconectividade da vida na Terra, de modo que ela, tanto quanto Gaia, torna-se a deusa de toda ecologia. Assim, quando essa carta aparecer, podemos pensar em nossas próprias conexões com outros seres vivos e em nossa responsabilidade com a natureza. (…) No tarot, veremos a lei na próxima carta, O Imperador, mas no caso dele trata-se particularmente da lei dos homens, da sociedade e de suas estruturas, Podemos descrever A Impera triz como a doadora e governante das leis da vida, indo da ecologia ao DNA.
Quando vemos as versões modernas, o escudo se torna um coração estampado como símbolo astrológico de Vênus, conhecido agora principalmente como o g no biológico da mulher. (…) A partir diso, os antigos associavam Vênus à deusa do amor, a quem os gregos cha mavam de Afrodite e os povos germânicos de Freya Sexta-feira – em ingles – Friday é o dia de Freya, um dia pertencente ao planeta e à deusa e, portanto, um bom dia para expressar paixão.
Na Grécia Antiga, os templos de cura continham santuários para Afrodite, pois não há cura sem amor amor pela vida, amor pela beleza, amor e desejo de ser completo.
O cobre, um alto condutor de eletricidade, era sagrado também para Hermes e Isis, unindo assim O Mago, A Sacerdotisa e A Imperatriz. Já os habitantes de Chipre, onde Afrodite emergiu pela primeira vez do mar, usavam espelhos de cobre para adivinhação.
Às vezes, A Imperatriz simboliza muito especificamente a “mãe”, seja a influência da própria mãe do consulente sobretudo pessoas com proble mas maternos ou o papel da mãe na vida de uma pessoa. Ao lado de cartas que mostram filhos como a do Sol, familia ou fertilidade, A Imperatriz pode significar gravidez.
(…)
A palavra, a tríade, plenitude, fecundidade, natureza, geração nos três mundos.
(…) Ação. No mundo divino, o poder supremo equilibrado pela mente eternamente ativa e pela sabedoria abso luta; no mundo intelectual, a fecundidade universal do Ser Supremo, no mundo físico, a natureza no trabalho, a germinação dos atos que devem brotar da vontade.
Ação, plano, movimento em um assunto, iniciativa.
A esfera de ação, o lado feminino do poder, regra e autoridade, influência da mulher, beleza fisica, reinado da mulher.
A Imperatriz. Frutíficação, ação, iniciativa.
(…) domínio temporal ou Rainha do Céu (…) A imagem da versão Rider sugere essa ideia, pois ela usa um diadema de doze estrelas, como se representasse o zodíaco (…) “ela ainda é refugium peccatorum, a frutífera mãe de milhares”.
(…) “Ela é acima de tudo a fecundidade universal”
Waite introduziu a noção de “influência” e o poder da feminilidade, mas também voltou à ideia original de Rainha, com sua frase “o lado feminino do poder, do governo e da autoridade”
(…) nas leituras A Imperatriz representa, acima de tudo, paixão. Seja como Deméter ou Afrodite, ela nos mostra o abraço da vida em toda a sua bagunça e horror, bem como em toda a sua beleza.
(…) A Imperatriz pode indicar amor e desejo, não necessa riamente por uma pessoa específica, mas pelo potencial que o próprio amor carrega consigo. Ela muitas vezes age por impulso, escutando mais sentimen tos e menos julgamentos racionais. (…) pode indicar a exuberância e a beleza da natureza, ou então ambientes ricos ou mesmo os prazeres davida sensual.”
POLLACK, Rachel.Bíblia Clássica do Tarot, Darkside, 2023, Pág.89-96.