Consciência Individual e Vontade Universal

“O alvo do mito consiste em dissipar a necessidade dessa ignorância diante da vida por intermédio de uma reconciliação entre consciência individual e vontade universal. E essa reconciliação é realizada através da percepção da verdadeira relação existente entre os passageiros fenômenos do tempo e a vida imperecível que vive e morre em todas as coisas.

“Como uma pessoa despe as roupas usadas e as troca por novas, assim também o Eu que habita o corpo despe os corpos usados e os troca por novos. Impenetrável, incombustível, insolúvel, inabalável, esse Eu não é permeado, consumido pelo fogo, dissolvido pela água, abalado pelo feito. Eterno, mutável, imóvel, todo penetrante, o Eu é para sempre inalterável.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 232.

Jesus, o Resumo do Mito

Eis todo o mito num momento: Jesus, o guia, o caminho, a visão e o companheiro do retorno. Os discípulos são os iniciados, ainda não dominam o mistério, mas são introduzidos na experiência total do paradoxo dos dois mundos em um. Pedro foi tomado de estar o temor, que balbuciou. A carne dissolvera-se diante dos seus olhos para revelar a Palavra. Eles caíram sobre o seu rosto e, quando se ergueram, a porta tornara a se fechar.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 226.

Círculo Como Totalidade e Queda do Paraíso

“A correspondência de um ano no Paraíso com cem anos na existência terrena é um motivo mitológico bem conhecido. A duração de cem anos significa a totalidade. Os trezentos e sessenta graus da circunferência tem o mesmo significado; razão por que os Puranas hindus representam um ano dos deuses como equivalente a trezentos e sessenta anos dos homens. Do ponto de vista dos olímpicos, era após era da história terrestre transcorre, de modo que, onde os homens veem apenas a mudança e a morte, os bem-aventurados contemplam a forma imutável, o mundo sem fim. Mas o problema reside em manter esse ponto de vista diante de uma dor ou prazer terrenos imediatos. O sabor dos frutos do conhecimento temporal afasta concentração do espírito do centro da era para a crise periférica do momento. O equilíbrio da perfeição é perdido, o espírito fraqueja e o herói cai.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, pp. 218-219.

Limiar de Retorno

“As aventuras do herói se passam fora da terra nossa conhecida, na região das trevas; ali ele completa sua jornada, ou apenas se perde para nós, aprisionado ou em perigo; e seu retorno é descrito como uma volta do além. Não obstante – e temos diante de nós uma grande chave da compreensão do mito e do símbolo – os dois reinos são, na realidade, um só e o único reino. O Reino dos deuses é uma dimensão esquecida do mundo que conhecemos. E a exploração dessa dimensão, voluntária ou relutante, resume todo o sentido da façanha do herói. Os valores e distinções que parecem importantes na vida normal desaparecem com a terrificante assimilação do eu naquilo que antes não passava de alteridade.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 213.

Crescimento Espiritual

“A agonia da ultrapassagem das limitações pessoais é a agonia do crescimento espiritual.  A arte, a literatura, o mito, o culto, a filosofia e as disciplinas ascéticas são instrumentos destinados a auxiliar o indivíduo a ultrapassar os horizontes que o limitam e a alcançar esferas de percepção em permanente crescimento. (…) Por fim, a mente quebra a esfera limitadora do cosmo e alcança uma percepção que transcende todas as experiências da forma – todos os simbolismos todas as divindades:  a percepção do vazio inelutável.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, pp. 177-178.

Deuses no Mito

“De um certo ponto de vista, todas essas divindades existem (…) de outro, não são reais.(…) Todas essas divindades visualizadas não são senão símbolos que representam as várias coisas que ocorrem na Trilha”. (…) Os deuses e deusas devem ser entendidos, em consequência, como encarnações e guardiães do elixir do Ser Imperecível, mas não são, em si mesmos, o Último em seu estado essencial.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 169.

Humor e Sofisticação

“A sofisticação do humor da imagética infantil, quando modulada numa habilidosa versão mitológica da doutrina metafísica, emerge de maneira magnificente  num dos mais bem conhecidos dentre os grandes mitos do mundo oriental(…).”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 167.

Fantasias Familiares

“É evidente que as fantasias infantis que todos ainda acalentamos no inconsciente surgem continuamente nos mitos, contos de fadas e nos ensinamentos da Igreja, como símbolos do ser indestrutível. Isso nos ajuda, pois a mente sente-se em casa com as imagens e parece lembrar-se de algo já conhecido. Mas essa circunstância também se configura como obstrução, já que os sentimentos terminam por se manter nos símbolos e resistem  apaixonadamente a todo esforço de ir além deles.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 166.

Mito, Psicologia e Metafísica

“(…) estreita relação mantida no Oriente entre mito, psicologia e metafísica. As vívidas personificações preparam o intelecto para a doutrina da interdependência dos mundos interno e externo”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 155.

O Mito da Criação do Genesis

“Ele representa uma das formas básicas de simbolização do mistério da criação: a transmissão da eternidade ao tempo, a transformação  do um no dois e depois no muitos, assim como a geração da nova vida por meio da recombinação do dois”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 147.