Tudo Ocorre em Comunhão

“A recém-desencarnada, de alma opressa, resistia à fome de repouso que lhe castigava o pensamento, indecisa e agoniada, sem saber definir se estava viva dentro da morte ou se estava morta dentro da vida.

Outros amigos espirituais penetraram a câmara.

(…)

– Não poderemos colaborar no desfazimento desse cordão incômodo?

– Não – explicou o orientador –, esse elo tem a sua função específica no reequilíbrio da alma. Morte e nascimento são operações da vida eterna que demandam trabalho e paciência. Além disso, há companheiros especializados no serviço da libertação última. A eles compete o toque final.”

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 21.

Adeus ao Desligar-se

“Demorando na filha o olhar dorido e ansioso, Dona Elisa projetou-se, por fim, em nosso meio, mantendo-se, porém, ainda ligada ao veículo físico por um laço de prateada substância.

Enquanto se lhe inteiriçavam os membros, um só pensamento lhe predominava no espírito – dizer adeus à última irmã consanguínea que lhe restava na Terra.

Envolvida na onda de forças, nascida de sua própria obstinação, afastou-se, ligeira, volitando automaticamente no rumo da cidade em que se lhe situava a parenta.

(…)

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 21.

Memórias no Desencarne

“Dona Elisa, embora vendo e ouvindo, não mais logrou articular uma frase. “Buscou inutilmente mover os braços, ante a dor aguda que passou a registrar no peito, todavia, não teve forças para tanto.

Áulus deu-se pressa em administrar-lhe passes calmantes, contudo, não obteve grande resultado.

(…)

Teve a noção de que lhe cabia fazer a viagem do túmulo… Como se um relâmpago lhe rasgasse a noite mental, num desses raros minutos que valem séculos para a alma, reviu apressadamente o passado. Todas as cenas da infância, da mocidade e da madureza reapareceram de inesperado no templo da memória, como que a convidá-la a escrupuloso exame de consciência.”

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 21.

Desdobramento em Sono

Anésia viu-se presa de branda hipnose, que ela própria atribuía ao cansaço e não relutou.

Em breves instantes, deixava o corpo denso na prostração do sono, vindo ao nosso encontro em desdobramento quase natural.

Não parecia, contudo, tão consciente em nosso plano quanto seria de desejar.

Centralizada no afeto ao marido, Jovino constituía-lhe obcecante preocupação. Reconheceu Teonília e Áulus por benfeitores e lançou-nos significativo olhar de simpatia, no entanto, mostrava-se atordoada, … Queria ver o esposo, ouvir o esposo…

O Assistente deliberou satisfazê-la.

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 20.

Passes Energéticos

“E prosseguiu nos comentários que, efetivamente, acendiam novo ânimo nas almas presentes, ávidas de luz, tanto quanto sequiosas de paz e refazimento.

(…)

Acariciou-lhe o rosto pergaminhado e pálido, acomodou-lhe a cabeça suarenta nos travesseiros e estirou-se ao lado dela, como que procurando pensar, pensar…

Áulus fez significativo gesto a Teonília e exclamou:

– Este é o momento exato.

Cuidadosamente, começaram ambos a aplicar-lhe passes sobre a cabeça, concentrando energia magnética ao longo das células corticais.

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 20.

Ligação Energética

– Este é um infortunado filho de nossa veneranda amiga, há muitos anos distanciado da experiência física. Teve a infelicidade de chafurdar no vicio da embriaguez e foi assassinado numa noite de extravagância. A genitora, porém, dele se recorda, como a um herói, e, a evocá-lo incessantemente, retém o infeliz ao pé do próprio leito.”

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 20.

Últimos Suspiros

“Em estreito aposento, uma senhora, aparentando setenta anos de idade, acusava aflitiva dispnéia.

A pequena Márcia, agitando um leque improvisado, propiciava-lhe ar fresco.

Ao lado da enferma, porém, uma entidade de aspecto desagradável exibia estranha máscara de perturbação e sofrimento, imantando-se a ela e agravando-lhe os tormentos físicos.

Tratava-se de um homem desencarnado, demonstrando no olhar a alienação mental evidente.

(…)

– Temos aqui nossa irmã Elisa, em avançado processo liberatório…Vive as últimas horas no corpo carnal…

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 20.

O Chamado

“(…) o chamado sempre descerra as cortinas de um mistério de transfiguração – um ritual, ou momento de passagem espiritual que, quando completo, equivale a uma morte seguida de um nascimento. O horizonte familiar da vida foi ultrapassado; os velhos conceitos, ideais e padrões emocionais, já não são adequados; está próximo o momento da passagem por um limiar”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 61.