“A uma sociedade que professa a mera vida como sagrada, um ritual como esse pode apenas parecer pura loucura, teatro de crueldade. A sociedade obcecada pela produção não tem acesso ao jogo forte, à morte como intensidade de vida. Numa sociedade arcaica como aquela, se sacrifica mais do que se produz. Sacrificium (sacrifício) significa geração de coisas sagradas. O sagrado pressupõe uma desprodução. A totalização da produção dessacraliza a vida.
A sociedade da produção é dominada pelo medo da morte. O capital opera como uma garantia contra a morte. É imaginado como tempo acumulado, pois com dinheiro se pode pôr outros para trabalhar por si, ou seja, comprar tempo. O capital infinito cria a ilusão de um tempo infinito. O capital trabalha contra a morte como prejuízo absoluto. Ele tem que suprassumir o tempo limitado de vida.”
HAN, Byung-Chul.O desaparecimento dos rituais: Uma topologia do presente. Ed. Vozes, 2021, Local 722-731.
Jogo de Vida e Morte