O Pericárdio e o Coração

“O pericárdio é um saco em forma de cone feito de uma fina membrana fibrosa, porém muito forte, que contém o coração e as raízes dos grandes vasos sanguíneos, incluindo a aorta (a maior artéria, que leva o sangue do coração para todas as partes do corpo), a veia cava (que carrega o sangue do corpo de volta para o coração) e a artéria e a veia pulmonares (que transportam sangue de e para os pulmões). O saco pericárdico está firmemente ancorado na cavidade torácica, com seu “pescoço” junto dos grandes vasos localizados no topo do coração. A base está presa firmemente à parte central do diafragma (fino músculo em forma de cúpula que separa a cavidade torácica da cavidade abdominal); as laterais do saco estão presas a cada pleura (as membranas que circundam cada pulmão); e a frente do saco está ligada à parede torácica. (…) Em um indivíduo normal, o coração é relativamente móvel dentro do saco, mas em diversos casos patológicos essa mobilidade pode ficar seriamente comprometida.

Cada pulmão é também circundado por uma bolsa membranosa chamada pleura. O espaço potencial entre a pleura e o pulmão é chamado espaço pleural.

(…)

A mais plausível é a chamada Hipótese 11. Ela indica que a lança penetrou no átrio direito do coração (câmara superior direita), que teria se enchido de sangue porque, imediatamente antes da falência cardíaca, o coração se contraiu e ejetou o sangue na circulação pela última vez. Em resposta, o átrio direito se encheu passivamente de sangue por causa da pressão elevada da circulação. Uma maciça efusão pleural (fluido em volta dos pulmões) que vinha se acumulando lentamente nas horas seguintes ao açoitamento (a efusão pleural é normalmente detectada algumas horas depois de receber golpes no peito) já se fazia presente. O repentino golpe da lança arremessada por um dos soldados penetrou o pericárdio e o átrio direito. O rápido e violento movimento feito para retirar a lança, então, liberou o sangue, que aderiu à lâmina, e um pouco da efusão pleural da cavidade pleural, resultando no fenômeno de “sangue e água”.

(…)

Todas as hipóteses que supõem que Jesus estava vivo quando a lança O atingiu parecem estar baseadas na ideia de que não sai sangue de um corpo sem vida. Isso não é verdade. O sangue pode fluir dos ferimentos de um morto, especialmente se a morte ocorrer de forma violenta.”

ZUGIBE, M.D, Ph.D. Frederick T.  A Crucificação de Jesus: As Conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um investigador criminal. São Paulo: MATRIX, 2008, pág. 175-179.

Reconstituição Forense

“Depois da flagelação, a condição de Jesus era relativamente grave. Ele estava prestes a sofrer um choque traumático em razão dos ferimentos causados pelas chibatadas-particularmente na caixa torácica e nos pulmões-e pelos maus-tratos anteriores, na residência de Caifás. Além disso, um quadro de hipovolemia (baixo volume de sangue) se desenvolvia por causa da baixa efusão pleural, da hematidrose, das pequenas hemorragias resultantes da flagelação, do vômito e da transpiração.

É importante notar que o brutal espancamento na caixa torácica poderia ter afetado os pulmões e ocasionado a concentração de fluido no local. O fluido, misturado ao sangue, deve ter aumentado algumas horas depois dos golpes no peito, dificultando a respiração e causando dor extrema. O termo pulmão molhado traumático refere-se a acúmulo de sangue, líquido e muco depois de um violento trauma no tórax.”

ZUGIBE, M.D, Ph.D. Frederick T.  A Crucificação de Jesus: As Conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um investigador criminal. São Paulo: MATRIX, 2008, pág. 39-40.

 

Flagelo Romano

“O pretório (sala de julgamento) era o local onde o pretor exercia sua função, sobre o pavimento da fortaleza romana de Antônia, localizada na “mais alta das colinas” (Flávio Josefo, A Guerra Judaíca).

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Um castigo brutal e desumano, executado pelos soldados romanos, que usavam um dos mais terríveis instrumentos da época, chamado ou, nas palavras de Horácio, “o horrível flagelo”. A flagelação era um procedimento normal entre os romanos antes da crucificação. Muitos acham que no açoitamento era usado um chicote comum. De certa forma isso é correto, mas seria como comparar um choque elétrico a um raio. O flagrum era confeccionado de várias formas, sendo que a mais corriqueira era a de um chicote de couro com três ou até mais extremidades também de couro, com bolinhas de metal, ossos de carneiro (astragals) e outros objetos pendurados ao final de cada uma (Figura 2-1). Esse tipo de flagrum é o mais compatível com as descobertas relativas ao Sudário.

Figura:  2-1

O Flagrum romano. Extremidades de couro com pesos de metal em forma de haltere. Compare o formato desses pesos com as marcas de açoitamento no Sudário, na figura 2-4.

(…)

Os romanos não tinham nenhuma lei que regulamentasse o número de golpes que poderiam ser aplicados. Em compensação, era contra a Lei Mosaica exceder 40 chibatadas, e 39 era um número usualmente aplicado para estar de acordo com a lei.

A ordem de Pilatos para que Jesus fosse açoitado de forma tão extrema foi baseada em seu desejo de aplacar a multidão, pois tinha medo de que a massa o denunciasse ao imperador ou que se iniciasse uma revolução.

(…)

(…) a vitima era despida e presa pelos pulsos a um objeto fixo, com uma coluna rebaixada, forçando-a a ficar curvada, o que facilitava trabalho do carrasco. (…)  O soldado ficava de pé ao lado da prisioneiro com o flagrum na mão e, ao receber a ordem, lançava o instrumento de couro para trás das costas, girava o pulso e golpeava as costas nuas do prisioneiro como se fosse um arco. (…)  Os pedaços de metal penetravam na carne, rasgando vasos sanguíneos, nervos, músculos e pele.

Figura: 2-4

Marcas de Flagelação na parte de trás do Sudário de Turim. Relativamente bem definidas, elas correspondem aos objetos em forma de haltere do flagrum (Cortesia de Barrie Schwortz).

Você já recebeu um golpe na costela, como um soco ou uma bolada de beisebol? (…) A respiração se toma superficial, já que uma inspiração profunda provoca dor. A isso se chama tensão nos músculos.

Depois do açoitamento, aparecem no corpo da vítima enormes feridas (com matizes de preto, azul e vermelho), lacerações, arranhões e inchaço, basicamente ao redor das perfurações feitas pelo peso dos objetos ou scorpiones. (…) As vítimas esperneavam, se contorciam em agonia, caindo de joelhos, mas eram forçadas a se levantar novamente, até não poder mais. A respiração do açoitado era severamente afetada, porque os golpes no peito causavam dores excruciantes toda vez que ele tentava recuperar o fôlego. Os músculos intercostais, entre as costas e os músculos do peito, apresentavam hemorragia, e os pulmões eram lacerados, frequentemente colapsados – todos esses fatores impunham à vítima extrema dor quando tentava respirar.

(…)

Períodos de intensa transpiração ocorriam intermitentemente. A vítima era reduzida a uma massa de carne, exaurida e destroçada, ansiando por água. A flagelação levou Jesus um prematuro estado de choque. Nas horas seguintes, houve um vagaroso acúmulo de fluido (efusão pleural) ao redor de Seus pulmões, causando dificuldades na respiração.”

ZUGIBE, M.D, Ph.D. Frederick T.  A Crucificação de Jesus: As Conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um investigador criminal. São Paulo: MATRIX, 2008, pág. 32-36.