O Dia de Sexta-Feira

“Embora o motivo real que levou Jesus à morte fosse de natureza religiosa, além de julgado pelo Tribunal Sagrado do Sinédrio, a verdade é que o Sumo Sacerdote colheu provas e material suficiente para culpá-lo sob as leis romanas e assim crucificá-lo por um crime de Estado. A lapidação, o estrangulamento ou sacrifício na fogueira eram processos de punição aos que se rebelavam contra a Lei mosaica. Mas a cruz era um suplício romano destinado a punir escravos, rebeldes, criminosos, ladrões ou conspiradores, o que lançava a ignominia sobre a vítima. O Sinédrio poderia sentenciar quanto à lapidação e depois conseguir a confirmação do Pretório de Roma para executá-la; mas os procuradores romanos, em geral, fechavam os olhos a essas questões religiosas dos judeus, deixando-os algo livres para agirem conforme sua lei. Era um assunto particular e Roma saía mais beneficiada a morte de mais um judeu, mesmo porque isso era providência dos próprios patrícios.

Aliás, algum tempo depois da morte de Jesus, foi lapidado Estêvão, um dos seus seguidores, sob a custodia de Saulo de Tarso; e isso fora feito sem qualquer consulta à Procuradoria de Roma. Porventura, não havia o paradoxo de se lapidar as mulheres adulteras, na rua, o que se fazia de imediato e sem a autorização dos romanos? Mas Hanan, o verdadeiro mentor da tragédia do Gólgota, alma vil e vingativa, demonstrou a Caifás que Jesus, rabi da Galileia, era um fascinador de multidões, aceito e reverenciado como um “reformador religioso”, judeu. Em consequência, se ele fosse lapidado pela sentença do Sinédrio, deixaria um rasto de encanto sentimental entre o povo e forte motivo para a reação no seio dos seus próprios asseclas. (…) Assim como tantas vezes tem acontecido na história do mundo, ponderava Hanan, em breve Jesus seria transformado num mártir para execração dos seus patrícios algozes. (…) Em consequência, morto o chefe do movimento cristão, nem por isso seriam liquidadas as suas ideias. Era preciso evitar a auréola messiânica que se formaria em tomo do “Salvador” de Israel, pois a multidão é versátil e muda rapidamente por um simples gesto que a encanta ou por uma palavra que a comove.”

RAMATÍS. O Sublime Peregrino. Obra psicografada por Hercílio Maes. São Paulo: Ed. Conhecimento, 2020, pág. 370-371.

 

Judas

“Judas sentia-se atraído pelos ricos e poderosos, pois não perdia ensejo de doutrinar os afortunados, políticos influentes e sacerdotes de Jerusalém, alegando aos companheiros que não poderia haver sucesso no movimento cristão libertador, através de criaturas famintas, maltrapilhas e ignorantes, que constituíam a corte de Jesus. Fazia promessas atraentes e assumia compromissos prematuros, prometendo ótimas regalias para os candidatos que fizessem o seu ingresso no reino de Israel, como “fundadores”, pois o Messias estava prestes a se revelar e seria o supremo mandatário do povo judeu. Em verdade, ele não confiava no êxito da causa cristã pela interferência de legiões angélicas, como admitiam quase todos os seus partidários, nem acreditava que isso se realizaria por força da profecia de Isaias e Miquéias razão por que há muito tempo buscava atrair homens de temperamento enérgico e experimentados a fim de assegurar a vitória final. Judas não consultava os demais companheiros em suas empreitadas ocultas, pois pretendia precipitar os acontecimentos e assim obrigar Jesus a agir, de imediato, no sentido de fazê-lo marchar para Jerusalém, onde então viria às suas mãos o poder da Judéia. Caráter dúbio e utilitarista, ambicioso e imprudente, ele não acreditava no “Reino de Deus” expresso pela fórmula espiritual que exigia o sacrifício e a renuncia dos homens.

No entanto, reconhecia em Jesus um líder e comandante inato, que sabia arregimentar as multidões pela força hipnótica de suas ideias e pela eloquência de suas palavras. Era óbvio que ninguém resistiria em Jerusalém ao verbo inflamante do rabi da Galileia, quando ele conclamasse todos os judeus para o arremesso histórico de expulsar os romanos e destronar Herodes. E concluía essa jornada vitoriosa e segura, Jesus iria dever a ele. Judas, que ousadamente não vacilaria em agir por iniciativa própria. Seria um serviço valioso prestado ao Mestre Jesus e à causa, no que jamais João ou Pedro poderiam supera-lo.

(…)

Decidido, reuniu seus fiéis e transmitiu-lhes a boa nova de sua ida a Jerusalém, não como visitante, mas para pregar durante as festas de Páscoa nas praças, sinagogas, escolas e talvez nos pátios do próprio Templo, onde só discursavam ao povo os mais famosos oradores da Judéia. A notícia alvissareira galvanizou os seus discípulos e ateou o mais vibrante entusiasmo na turba que o seguia à cata de proventos materiais. O “Reino de Deus” e o trono de Israel estavam próximos, pois Jesus decidira-se a empreender a tão esperada Marcha a Jerusalém. A alegria foi contagiante; um sopro renovador e poderoso vitalizou até os mais pessimistas.

(…)

Em breve afluía gente de todos os recantos de Betânia, dominada pelo intenso jubilo de participar do esperado “Reino de Deus”, na Terra, a ser instituído em breve pelo Messias, conforme predisseram os mais abalizados profetas do Velho Testamento. (…) O Mestre iria a Jerusalém não somente pregar a Boa-Nova e o Reino de Deus, mas inquirir os poderosos, afastar os sacerdotes cúpidos e exploradores do povo infeliz, assim como libertar o povo eleito do jugo romano. As multidões o esperariam festivas ás portas da cidade para recepcioná-lo, como se faz dignamente a um rei; e o levariam em triunfo pelas ruas até à cidadela do Templo. Ali, Jesus seria consagrado sua augusta majestade divina e da inexpugnável fortaleza seguiriam para o palácio de Herodes, onde ele assumiria poder, em cumprimento da profecia de Isaias e Miquéias.

Diante da casa de Ezequiel, a multidão dava vivas a Jesus num delírio de festa. Os apóstolos sorriam, felizes, contagiados pelo entusiasmo da turba e faziam coro às hosanas ao Mestre.”

RAMATÍS. O Sublime Peregrino. Obra psicografada por Hercílio Maes. São Paulo: Ed. Conhecimento, 2020, pág. 314-318.

 

Divindades Semíticas

“Os JUDEUS, como seus vizinhos, os fenícios e os árabes, não admitem que seus deuses descansam um momento sequer sobre o vento.

Cuidam demais de sua divindade e observam-se em demasia uns aos outros nas suas orações, cultos e sacrifícios.

Enquanto nós, romanos, construímos templos de mármore a nossos deuses, esse povo põe-se a discutir a natureza de seu Deus. Quando estamos em êxtase, cantamos e dançamos em volta dos altares de Júpiter e Juno, de Marte e Vênus; mas eles, em seu arrebatamento, usam vestes de estopa e cobrem as cabeças com cinzas – e até lamentam o dia que lhes deu nascimento.

E Jesus, o homem que revelou Deus como um ser de alegria, eles O torturaram, e depois O levaram à morte.

Esse povo não seria feliz com um deus feliz. Conhece apenas os deuses da sua dor.

Mesmo os amigos e discípulos de Jesus, que conheciam Sua alegria e ouviam Sua risada, criam uma imagem de Sua tristeza, essa imagem.

E na sua adoração não se elevam à altura da sua divindade; mas abaixam. divindade ao nível deles. Creio, todavia, que esse filósofo, Jesus, que não era diferente de Sócrates, terá poder sobre Sua raça e talvez sobre outras raças. Pois nós somos todos criaturas de tristeza e de pequenas dúvidas. E quando um homem nos diz: “Sejamos alegres com os deuses”, não podemos deixar de prestar atenção à sua voz. É estranho que a dor deste homem tenha sido convertida num rito. Esses povos gostariam de descobrir um segundo Adonis, um deus assassinado na floresta, e de celebrar sua morte. E pena que eles não ouçam o Seu riso. Mas confessemos, de romano para grego. Ouvimos, nós mesmos, a risada de Sócrates nas ruas de Atenas? Conseguimos jamais esquecer a taça de cicuta, mesmo no teatro de Dionísio?

E nossos pais não gostam ainda de parar às esquinas para tagarelar sobre aflições e ter um instante feliz, lembrando o lúgubre fim de todos nossos grandes homens?”

GIBRAN, Gibran Khalil.  Jesus, o Filho do Homem. Tradução: Mansour Challita. Associação Cultural Internacional Gibran, 1973, pág. 119-120.

Coincidências

“Vale a pena enumerar sucintamente as coincidências existentes entre o homem do Sudário e Jesus de Nazaré:

1. A partir do séc. VII, passa-se a adotar na arte religiosa um único modelo para representar Jesus, no qual se distinguem pelo menos 15 detalhes que se encontram na figura do Sudário.

2. A figura estampada no lençol representa um semita com barba e cabelo comprido e entrançado, como se usava na Palestina no tempo de Cristo.

3. A brutal flagelação, insólita em condena dos à crucifixão, executada com o flagrum romano; este castigo não era aplicado aos cidadãos romanos.

4. A coroação de espinhos, circunstância igualmente insólita.

5. O homem do Sudário não foi despido até o lugar da execução, o que também não era usual.

6. As pernas não foram quebradas, ao contrário do que se fazia nos casos de crucifixão, para apressar a morte do condenado.

7. Uma lança de forma igual à que usavam soldados romanos atravessa o lado direito, após a morte.

8. O crucificado não foi enterrado na vala comum, mas sepultado individualmente e com uma peça de linho cara.

9. Foi sepultado cuidadosamente, mas não lhe lavaram o corpo.

10. O cadáver abandonou o lençol fúnebre antes de entrar em decomposição.

ESPINOSA, Jaime. O Santo Sudário. São Paulo: Quadrante, 2017, pág. 54-55.

Preparo de Seu Sepultamento

“Ora Jesus, crucificado como um escravo, foi condenado por Pilatos sob a acusação de ter conspirado contra o Estado romano. E, no entanto, escapou à vala comum. Seu corpo foi reclamado por um homem-influente, José de Arimateia, um discípulo secreto, que o envolveu num lençol novo, limpo, e o enterrou num túmulo que tinha comprado para si, próximo do lugar da crucifixão. Estes são os dados precisos que nos chegaram através do Evangelho de São João.

(…)

Mas há ainda um outro aspecto que parece quadrar com o que nos dizem os Evangelhos: a abundância de vestígios de sangue, a indicar claramente que o corpo não foi lavado antes de ser amortalhado, ao contrário do que era costume entre os judeus. (At 9,37).

O corpo de Jesus recebeu sinais claros de respeito e distinção, como ser envolvido num lençol de linho e colocado num sepulcro novo, não em vala comum. No entanto, omitiram algo elementar entre os judeus: lavar o corpo antes de sepultá-lo.

Vê-se assim a causa da omissão. Estava prestes a começar o grande Sábado pascal em que, como aliás em qualquer sábado, que é o dia santo dos judeus, se proibiam rigorosamente os trabalhos manuais. Por isso era preciso enterrar Jesus antes do pôr do sol da sexta-feira, e por isso não puderam lavar o corpo do Senhor, não havia tempo.

Isto explica também que, no primeiro dia útil, isto é, o domingo, as santas mulheres tivessem ido ao sepulcro, levando os aromas que haviam preparado, a fim completar o trabalho deixado a meio na sexta-feira santa.”

ESPINOSA, Jaime. O Santo Sudário. São Paulo: Quadrante, 2017, pág. 50.

Testemunho da Morte

“O quarto evangelista, São João, que foi testemunha ocular, relata que, depois de Jesus ter morrido, um soldado romano lhe atravessou o peito com uma lança para certificar-se de que à estava morto e não era preciso apressar-lhe a morte: Chegando a Jesus, como o viram já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados atravessou-lhe o lado com uma lança e imediatamente saiu sangue e água. E o Apóstolo acrescenta solenemente: Aquele que o viu dá testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro; ele sabe que diz a verdade, para que todos vos creiais (Jo 19, 30-35).

(…)

A ferida tem 4 cm – largura máxima das lanças romanas – e atingiu o hemitórax entre a 5ª e a 6ª costelas, a 13 cm do esterno. (…) Por outro lado, há indícios de que o sangue saiu sem força, o que da a entender que o coração já estava parado.

Sobre o tecido, vê-se uma dupla mancha: uma de sangue e outra, quase incolor, que se tornou bem visível quando se usaram raios ultravioletas na observação (fig. 8). Os dois líquidos correram abundantemente até formarem uma espécie de círculo em torno dos rins (fig. 4).

Como vimos, o quarto evangelista afirma que da ferida saiu imediatamente sangue e água. (…). Quanto ao que São João chama água e que corresponderia à mancha in color observada no pano, é muito provavelmente uma mistura de soro sanguíneo – resultante dos hematomas e de líquido pericárdico, situado dentro do saco pericárdico que envolve o coração. Este líquido é tanto mais abundante quanto maior e mais abundante for o sofrimento da pessoa; constitui até uma prova usada em medicina legal para saber se a vítima foi seviciada antes de morrer.”

ESPINOSA, Jaime. O Santo Sudário. São Paulo: Quadrante, 2017, pág. 36-38.

Corpo Flagelado

“Mateus, Marcos e João relatam que Pilatos, tentando demover a multidão, que exigia a crucifixão de Cristo, manda os soldados romanos açoitarem Jesus (cf. Jo 19, 1; Mt 27, 26, Mc 15, 16). (…)

Os romanos não flagelavam os condenados à crucifixão, a não ser moderadamente e enquanto estes transportavam a cruz até o lugar de execução. Ora, o Sudário revela traços de feridas que mostram ter o homem de Turim sido brutalmente flagelado por todo o corpo, a exceção da cabeça, pés e antebraços (fig. 3).

As feridas são numerosas, entre 110 e 120, e tanto pelo tamanho como pela forma são idênticas às produzidas pelo flagrum taxillatum romano, o «horrível flagelo»> um açoite de correias com pedaços de chumbo ou ossos de arestas cortantes nas pontas. (…) Tanto pelo número de chicota das -os judeus estavam proibidos pela lei de ultrapassar os 40 açoites (Dt 25, 3)-, como pelo flagelo empregado, vê-se que há coincidência com os dados do Evangelho: o castigo foi aplicado pelos soldados romanos.

Pelo ângulo das chicotadas, pode-se inferir que eram dois os algozes (…) Esta comprovação exclui que a flagelação tivesse ocorrido enquanto o condenado transportava a cruz (…) É outra coincidência com o Evangelho.

a coincidência mais importante com o relato evangélico é a que explica a crueldade ex cepcional da flagelação que, como vimos, não era usual aplicar previamente a um condenado à crucifixão.

(…) Mas a vista de Jesus desfeito pelos azorragues deixou o povo ainda mais raivoso: Fora com ele! Crucifica-o!, clamavam. Depois de uma nova tentativa, Pilatos, acovardado, cede: Então entregou-o a eles para que a crucificassem (Jo 19, 15-16). A mudança de opinião de Pilatos é o que explica, pois, a sucessão dos dois suplícios que Jesus sofreu, à diferença do comum dos condenados.

(…) os antebraços de Jesus não foram atingidos pelos flagelos, e isto indica que foi acoitado antes de carregar-a-cruz, pois os braços estavam atados à coluna, e por tanto fora do alcance dos acoites.”

ESPINOSA, Jaime. O Santo Sudário. São Paulo: Quadrante, 2017, pág. 28-30.

Caifás, Inimigo Maior que Judas

“Caifás poderia ter sido espião do governo romano, pelo que podemos inferir dos relatórios secretos que fez a Roma às atividades de Jesus. Por outro lado, ele pode ter sido simplesmente um inimigo pessoal, pois é verdade que tudo fez para manter Roma informada a respeito de Jesus e para dificultar o trabalho Dele. Embora sendo Caifás um eminente líder do Sinédrio, ele não representava este corpo ao fazer seus relatórios ou ao assumir esta atitude. Há notícias de que Caifás chegou ao ponto de oferecer grandes somas em dinheiro com a finalidade de obter provas e assegurar-se de que Roma emitiria um mandado de prisão e julgamento de Jesus. Neste homem, pois, encontramos um inimigo maior de Jesus e Seu trabalho do que o próprio Judas.”

LEWIS, H. Spencer. A Vida Mística de Jesus. Curitiba, PR: AMORC, 2001, p. 233.

Socialismo Santo

“Sem dúvida Jesus era temido por Roma, conforme dizem muitos registros antigos que se referem a esta fase da história. Seus ensinamentos simples se opunham aos ensinados na forma de doutrinas oficiais pelos romanos. Suas pregações tendiam ao socialismo santo, com o qual o imperialismo tirânico de Roma jamais poderia se harmonizar.”

LEWIS, H. Spencer. A Vida Mística de Jesus. Curitiba, PR: AMORC, 2001, p. 232.

Punição Romana

“Um ponto notável com relação à crucificação de Jesus está no uso da cruz. Este pormenor nos confirma que Roma ordenou Sua morte, que a punição foi romana e não judia, pois os judeus, O teriam apedrejado, conforme era o costume, caso tivessem desejado livrar-se Dele por qualquer motivo (…).”

LEWIS, H. Spencer. A Vida Mística de Jesus. Curitiba, PR: AMORC, 2001, p. 231.