O Valor do Sal

“(…) o sal era considerado valioso.

(…)

Foi para adquirir esse precioso bem que se estabeleceram as primeiras rotas comerciais nas civilizações antigas. Em algumas regiões, uma medida de sal tinha o mesmo valor que o peso equivalente em ouro, o que se considerava um preço justo. Os legionários romanos recebiam um salarium, ou custeamento de sal – de onde deriva o termo moderno “salário”.

(…)

Por isso o homem é a luz do mundo. Nenhuma outra criatura viva, só a consciência humana, é dotada com a candeia plenamente reveladora de uma inteligência potencialmente ilimitada.”

YOGANANDA, Paramahansa. A Segunda Vinda de Cristo, A Ressurreição do Cristo Interior. Comentário Revelador dos Ensinamentos Originais de Jesus. Vol. I. Editora Self, 2017, pág. 497-498.

Capítulo 26: As Beatitudes. O Sermão da Montanha, Parte I.

Os Fariseus

Fariseus – Fariseu quer dizer separado. Inicialmente aliados à elite sacerdotal e aos grandes proprietários de terras, os fariseus deles se afastam para dirigir o povo, embora mantenham distância do povo mais simples (que não conhece a Lei). São nacionalistas e hostis ao império romano, mas sua resistência é do tipo passivo. O grupo dos fariseus é formado por leigos provindos de todas as camadas da sociedade, principalmente artesãos e pequenos comerciantes. A maioria do clero pobre, que se opõe à elite sacerdotal, também começa a pertencer a esse grupo. No terreno religioso, os fariseus se caracterizam pelo rigoroso cumprimento da Lei em todos os campos e situações da vida diária. São conservadores zelosos e também criadores de novas tradições, através da interpretação da Lei para o momento histórico em que vivem. A maior expressão do farisaísmo é a criação da sinagoga, opondo-se ao Templo, dominado pelos saduceus. Desse modo a sinagoga, com a leitura, interpretação dos textos bíblicos e oração, torna-se expressão religiosa oposta ao sistema cultual e sacrifical do Templo. Os fariseus acreditam na predestinação, na ressurreição e no messianismo. Esperam um messias político-espiritual, cuja função será precipitar o fim dos tempos e a libertação de Israel. Esse messias será alguém da descendência de Davi. E, para os fariseus, a estrita observância da Lei, a oração e o jejum provocarão a vinda do Messias. Os fariseus e os doutores da Lei simpatizam-se, a ponto de muitos doutores da Lei serem também fariseus.”

Bíblia Sagrada. Edição Pastoral. Paulus Editora, 1990. Versão Kindle, Posição 56410.

Comércio e O Tesouro do Templo

“A circulação de toda mercadoria produzida, tanto na agricultura como no artesanato, forma outra grande atividade econômica: o comércio. Este se desenvolve mais nas cidades e está na mão dos grandes proprietários
de terras. Nos povoados, o comércio é reduzido e o sistema é mais de troca. Toda a atividade comercial é controlada por um sistema de impostos. Essa política fiscal faz com que tanto o Estado judaico como o Estado romano se tornem monopolizadores da circulação das mercadorias, o que proporciona vultosas arrecadações. Esses impostos são cobrados pelos publicanos (cobradores de impostos). Há também taxas para transportar mercadorias de uma cidade para outra e de um país para outro. Esses impostos e taxas se tornam insuportáveis
no tempo de Jesus. Por essa visão geral da economia da Palestina já podemos perceber: Jesus é artesão (carpinteiro), vários discípulos são pescadores e um deles é cobrador de impostos. O aparelho de Estado em Jerusalém exerce forte controle sobre a economia de todo o país. Além de polo de atração da capital nacional, o Estado é o maior empregador (restauração do Templo, construção de palácios, monumentos, aquedutos, muralhas etc.). Nisso tudo, o Templo tem papel central: — Coleta de impostos, através da qual boa parte da produção do país volta para o Estado. — Comércio: para atender à necessidade dos peregrinos e, principalmente, para manter o sistema de sacrifícios e ofertas do próprio Templo. — O Tesouro do Templo, administrado pelos sacerdotes, é o tesouro do Estado.”

(…)

“Além de toda essa centralização econômica, o Templo emprega mão de obra qualificada, principalmente artesãos. Assim, o Templo se torna o grande centro de exploração e dominação do povo. Mas a exploração e dominação não se restringem à economia interna, pois a Palestina é colônia do império romano. Este também cobra uma série de impostos: o tributo (imposto pessoal e sobre as terras), uma contribuição anual para o sustento dos soldados romanos que ocupam a Palestina, e um imposto sobre a compra e venda de todos os produtos.”

Bíblia Sagrada. Edição Pastoral. Paulus Editora, 1990. Versão Kindle, Posição 56361-56375.

Demonização dos Judeus

“E José de Arimatéia e Nicodemos declararam o que viram e ouviram para Pilatos que pessoalmente, segundo o autor, escreveu todas as coisas que foram feitas e ditas a respeito de Jesus pelos judeus e guardou os escritos em livros públicos em seu pretório. Novamente demonização dos judeus e casamento entre império romano e a igreja do início da Idade Média.”

Nascimento, Peterson do. O Evangelho Segundo Nicodemos (Coleção Apócrifos do Cristianismo Livro XI) – Versão Kindle, Posição 1146.

Interesses do Imperador Romano.

“O texto que foi datado por volta do século IV d.C., ou seja, praticamente no início da Idade Média, carrega em seu enredo muitos dos anseios da igreja da época e dos interesses do imperador romano. Em 325 d.C. o imperador Constantino convocou o Primeiro Concílio de Nicéia e neste concílio duas questões principais foram discutidas, a natureza de Cristo e o dia da Páscoa cristã. O texto do Evangelho Segundo Nicodemos possui um enredo explicativo para questões as quais poderiam haver discordâncias, além de culpar os judeus, eximir os romanos de qualquer culpa e introduzir na cristandade a idéia de que os próprios judeus, que haviam crucificado Jesus, haviam posteriormente reconhecido suas culpas e se convencido de que Jesus realmente era justo e divino, pois os imperadores sempre zelaram por ter um império unificado em todos os sentidos inclusive o espiritual/ religioso, pois assim eles poderiam ter domínio e controle total sobre seus governados.”

Nascimento, Peterson do. O Evangelho Segundo Nicodemos (Coleção Apócrifos do Cristianismo Livro XI) – Versão Kindle, Posição 1084.

Arqueologia Têxtil

“Mechthild Flury-Lemberg, uma autoridade mundial em têxteis e ex-curadora do Museu Têxtil da Fundação Abegg. Flury Lemberg descobriu que o Sudário era muito semelhante aos tecidos encontrados nos túmulos de Masada – a fortaleza judaica, no sudeste de Israel, que foi destruída pelos romanos em 73 dC. (…)  A respeito disto, ela disse ao jornal Sunday Times que, em sua opinião, o Sudário não seria uma farsa medieval e poderia ser um produto contemporâneo de Jesus Cristo. Ela também afirmou que o tecido do Sudário era de alta qualidade e que teria sido confeccionado num tear profissional do tipo usado na Antiguidade (…) Todavia, seu bom estado de conservação é suficiente para convencer muita gente de que o Sudário não poderia ter sobrevivido ao primeiro século. Uma visita a um museu egípcio, no entanto, eliminaria rapidamente todas as dúvidas. Muitas peças de linho, incluindo as vestimentas das múmias, tem muito mais de dois mil anos de antiguidade. Há até mesmo um exemplar que supõe-se ter quase cinco mil anos.”

ZUGIBE, M.D, Ph.D. Frederick T.  A Crucificação de Jesus: As Conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um investigador criminal. São Paulo: MATRIX, 2008, pág. 375.

Coroando Um Rei

Figura: 3-3

“Espinheiro-de-cristo sírio (Ziziphus spina-christi) Close-up dos espinhos de uma jovem planta cultivada pelo autor.”

(…)

“A inervação que permite a percepção de dor na cabeça é feita por fios ramos de dois nervos principais o nervo trigêmeo, que supre essencialmente a parte frontal da cabeça, e o grande ramo occipital, que abastece a parte de trás (Figura 3-6). Somente uma representação esquemática da distribuição dos nervos é apresentada, já que esses ramos se dividem de forma infinitesimal pela pele. Para apreciar essa distribuição, pegue um alfinete e tente achar uma parte do seu couro cabeludo que seja isento de dor.

Figura: 3-6

Diagrama da região da cabeça. Os ramos finos e de coloração clara são os nervos e os mais escuros e grossos são os vasos sanguíneos. (Do Atlas de Anatomia Descritiva de Sobotta, Fig. 56, com a permissão de Urban e Schwartzenberg, Munique, Alemanha).”

Por exemplo, se algum dos minúsculos ramos do nervo trigêmeo que suprem os dentes é irritado, uma dor de dente é desencadeada e todos nós sabemos como é esse tipo de dor. E certamente difícil acreditar que a irritação de um “nervinho” tão pequeno possa causar tamanha dor. Outra importante condição clínica associada com a imitação do nervo trigêmeo é chamada de tic douloureux ou major trigeminal neuralgia. (…) ela causa surtos repentinos de uma dor penetrante, lancinante e explosiva nos lados direito ou esquerdo da face (…) “Zonas de gatilho”, ou áreas que desencadeiam dor, estão presentes nos lábios e nos lados do nariz e podem ser ativados por estimulo tátil. Se uma dessas zonas é tocada ou atingida, um sum repentino de dor acontece e pode até imobilizar o indivíduo. Pacientes descrevem essas dores como “facadas”, “choques elétricos” ou “golpes com atiçador de carvão”. (…) De acordo com o dr. Robert Nugent, professor e presidente do Departamento de Neurocirurgia da Escola de Medicina da Universidade de West Virginia, e pioneiro no tratamento, “a neuralgia do trigêmeo é considerada a pior dor que um ser humano pode sofrer. É tão devastadora que se torna insuportável sob qualquer de suas diversas formas” (West University Newsletter, 1986).”

Figura: 5-1

Pregos Romanos datados de cerca de 83 d.C. Estas são algumas amostras das sete toneladas de pregos que foram escavados pelo professor Richmond em uma fortaleza em Inchitullil, Escócia. (Pregos doados por Sir Geoffrey Ford, Instituto de Metais, Londres.)”

ZUGIBE, M.D, Ph.D. Frederick T.  A Crucificação de Jesus: As Conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um investigador criminal. São Paulo: MATRIX, 2008, pág. 44-51.

44-51

Flagelo Romano

“O pretório (sala de julgamento) era o local onde o pretor exercia sua função, sobre o pavimento da fortaleza romana de Antônia, localizada na “mais alta das colinas” (Flávio Josefo, A Guerra Judaíca).

(…)

Um castigo brutal e desumano, executado pelos soldados romanos, que usavam um dos mais terríveis instrumentos da época, chamado ou, nas palavras de Horácio, “o horrível flagelo”. A flagelação era um procedimento normal entre os romanos antes da crucificação. Muitos acham que no açoitamento era usado um chicote comum. De certa forma isso é correto, mas seria como comparar um choque elétrico a um raio. O flagrum era confeccionado de várias formas, sendo que a mais corriqueira era a de um chicote de couro com três ou até mais extremidades também de couro, com bolinhas de metal, ossos de carneiro (astragals) e outros objetos pendurados ao final de cada uma (Figura 2-1). Esse tipo de flagrum é o mais compatível com as descobertas relativas ao Sudário.

Figura:  2-1

O Flagrum romano. Extremidades de couro com pesos de metal em forma de haltere. Compare o formato desses pesos com as marcas de açoitamento no Sudário, na figura 2-4.

(…)

Os romanos não tinham nenhuma lei que regulamentasse o número de golpes que poderiam ser aplicados. Em compensação, era contra a Lei Mosaica exceder 40 chibatadas, e 39 era um número usualmente aplicado para estar de acordo com a lei.

A ordem de Pilatos para que Jesus fosse açoitado de forma tão extrema foi baseada em seu desejo de aplacar a multidão, pois tinha medo de que a massa o denunciasse ao imperador ou que se iniciasse uma revolução.

(…)

(…) a vitima era despida e presa pelos pulsos a um objeto fixo, com uma coluna rebaixada, forçando-a a ficar curvada, o que facilitava trabalho do carrasco. (…)  O soldado ficava de pé ao lado da prisioneiro com o flagrum na mão e, ao receber a ordem, lançava o instrumento de couro para trás das costas, girava o pulso e golpeava as costas nuas do prisioneiro como se fosse um arco. (…)  Os pedaços de metal penetravam na carne, rasgando vasos sanguíneos, nervos, músculos e pele.

Figura: 2-4

Marcas de Flagelação na parte de trás do Sudário de Turim. Relativamente bem definidas, elas correspondem aos objetos em forma de haltere do flagrum (Cortesia de Barrie Schwortz).

Você já recebeu um golpe na costela, como um soco ou uma bolada de beisebol? (…) A respiração se toma superficial, já que uma inspiração profunda provoca dor. A isso se chama tensão nos músculos.

Depois do açoitamento, aparecem no corpo da vítima enormes feridas (com matizes de preto, azul e vermelho), lacerações, arranhões e inchaço, basicamente ao redor das perfurações feitas pelo peso dos objetos ou scorpiones. (…) As vítimas esperneavam, se contorciam em agonia, caindo de joelhos, mas eram forçadas a se levantar novamente, até não poder mais. A respiração do açoitado era severamente afetada, porque os golpes no peito causavam dores excruciantes toda vez que ele tentava recuperar o fôlego. Os músculos intercostais, entre as costas e os músculos do peito, apresentavam hemorragia, e os pulmões eram lacerados, frequentemente colapsados – todos esses fatores impunham à vítima extrema dor quando tentava respirar.

(…)

Períodos de intensa transpiração ocorriam intermitentemente. A vítima era reduzida a uma massa de carne, exaurida e destroçada, ansiando por água. A flagelação levou Jesus um prematuro estado de choque. Nas horas seguintes, houve um vagaroso acúmulo de fluido (efusão pleural) ao redor de Seus pulmões, causando dificuldades na respiração.”

ZUGIBE, M.D, Ph.D. Frederick T.  A Crucificação de Jesus: As Conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um investigador criminal. São Paulo: MATRIX, 2008, pág. 32-36.

 

Explicação dos Evangelhos Pela Arqueologia

“1°) A condenação- Para tal era necessário um motivo que caísse sob a legislação romana. Em Jerusalém, só Pilatos possuía o “jus gladii”, isto é, o direito de vida e de morte (…) Os motivos de ódio dos sinedritas não podiam, é claro, ser apresentados perante um funcionário romano. É por isso que, logo de início, acusam Jesus de levar o povo à revolta. (…) Três vezes repete Pilatos: “Nada encontrei nele que o faça merecer a morte”. Alegaram então os judeus que se fazia ele Filho de Deus, o que segundo sua própria lei implicava a pena de morte. Isso, porém, não comoveu o procurador; pelo contrário, o inquietou vagamente em sua alma supersticiosa. Para um pagão, “Filho de Deus é sinônimo de “herói”. (…) Não foi senão após numerosos giros e tentativas que os judeus acabaram finalmente por encontrar o motivo que forçaria Pilatos a condená-lo: “Ele se fez rei, e se tu o libertares não és ami go de César”. Astúcia verdadeiramente satânica, porque, além de incluir um capítulo de acusação regular de bastante gravidade, a “rebelião contra César“, veio perturbar profundamente a inquietude egoísta de um pobre funcionário colonial, de não vir a desgostar o governo central, e ainda o temor de vir a ser incluído em tentativa subversiva contra o imperador. (…)

O procurador vingar-se-á dos judeus escrevendo sobre o “titulus: “Jesus de Nazaré, rei dos judeus” (…) o que escrevi, escrevi).

2º) A flagelação- (…) em São Lucas, Pilatos repete duas vezes aos judeus Fá-lo-ei, pois, castigar e o soltarei”, de onde vemos sua intenção de infligir a flagelação, como pena em si; (…) São João, sempre mais explícito quando julga conveniente completar, sem contradizer os Sinóticos, na qualidade de testemunha ocular, nos apresenta as minúcias do processo. (…) “Então Pilatos tomou Jesus e o fez flagelar (Jo 19,1). Segue-se a flagelação, a coroação de espinhos, a saída do “Ecoe homo”, a acusação de se ter feito Filho de Deus. (…)

Como se vê, a flagelação precedeu a sentença de morte e até a maior parte cio “actio” do processo (…)

4°) Transporte da cruz- (…) só carregou segundo esse mesmo costume o patíbulo, e não a cruz inteira, como o representa a maior parte dos artistas. Já vimos como a expressão “carregar a cruz”, que só se nos gregos ou latinos traduzidos do grego, era exatamente equivalente à expressão romana “carregar o patíbulo”

(…)

Depois, os soldados, percebendo que ele não conseguiria, dessa forma, chegar ao Calvário, forçaram, segundo os três Sinóticos, um o homem de Cirene a carregar a haste horizontal, ou patíbulo. (…) Somente Lucas é quem acrescenta que a levava atrás de (“opisthen) Jesus, o que quer dizer que Jesus caminhava na frente, conduzido pelos soldados, e Simão o seguia carregando sozinho o patíbulo.

(…)

Notaremos que atestam os Evangelhos não ter sido Jesus submetido ao costume romano, segundo o qual os condenados caminhavam para o suplício completamente nus. “Despiram-no da clâmide de púrpura e lhe devolveram suas vestes para o conduzir à crucifixão. Explica-se facilmente a exceção pelo hábito que tinham os romanos de respeitar os costumes locais. Flávio José escreve (Contra Appionem “Romani subjectos non cogunt patria jura transcendere -Os romanos não forçam (os povos) submetidos a transgredir as leis pátrias”.

(…)

Imagino pelourinhos de quase dois metros, o que permitia neles enganchar facilmente o patíbulo. Os pés, com facilidade, podiam ser pregados sobre o mourão (dada a flexão das coxas e pernas, que calcularemos com exatidão), a cerca de 50 cm do solo.

(…)

Convém recordar que quando apareceram os primeira crucifixos, ainda muito raros, em fins do século V (marfim do “British Museum”), século VI (Porta de Sta. Sabina, Evangeliário de Rábula já havia quase dois séculos que a crucifixão havia sido abolida por Constantino (315, o mais tardar 330), de modo que os artistas dessa época não haviam jamais visto um crucificado.

(…)

Seria realmente interessante saber como cristãos dos primeiros séculos imaginavam a cruz. Infelizmente, era esta em o mundo romano um objeto que inspirava horror acarretava tanta infâmia que ninguém ousava exibi-la, ainda olhos fiéis. Toda a catequese apostólica antes tudo uma pregação triunfante da Ressurreição. Os primeiros crucifixos (V e VI séculos) serão imagens triunfantes de Jesus Cristo vivo, colocadas diante da cruz. Somente na Idade Média é que se desenvolveria a imagem e o culto da Paixão, a ideia mística da Compaixão.

(…)

Coisa curiosa: encontra-se a mesma disposição, com a letra M, com um traço por cima: M, que todos os arqueólogos admitem como abreviação de Mártir.

7°) Estava Jesus nu sobre a cruz? -Antes de tudo, é bem evidente que, antes de o crucificarem, lhe tiraram as vestimentas, uma vez que os soldados as dividiram entre si e tiraram a sorte de sua túnica (Jo 19,23). Trata-se, pois, de saber se conservou algum pano em volta dos rins. De acordo com o citado estudo de Pe. Holzmeister, foram os Padres unânimes em afirmar essa nudez.

A esta opinião pode-se opor um texto apócrifo tirado dos “Atos  de Pilatos, segundo o qual, depois de lhe terem tirado as vestimentas, lhe teriam restituído um “lention”, palavra grega que quer dizer “pano”, uma espécie de tanga.

Seria de admirar que os romanos, que o haviam tornado a vestir, após a flagelação, para que carregasse a cruz, contrariando seus próprios costumes, a fim de condescender com as ideias judaicas de decência e respeitar as tradições nacionais, não lhe tenham deixado sobre a cruz pelo menos este último resto de indumentária.

(…)

Em todo o caso, repito: jamais artista algum quis fazer um crucificado inteiramente nu.

Ora, é justamente isto que encontramos no Sudário. Será possível que um falsário tivesse tido ideia tão fora do comum, que iria chocar violentamente todas as nossas tradições artísticas de decência e de respeito?

8°) Fixação – (…) Jesus é pregado ao patíbulo estando este deitado ao solo. Depois é erguido juntamente com este, é encostado ao “stipes”, e todo o conjunto é erguido para ser enganchado o patíbulo no alto do “stipes”.

(…)

Ora, acabam precisamente de verificar que Jesus estava visivelmente morto e, por isso, lhe poupam o “crurifragium”, que rapidamente vai acabar com os dois ladrões, precipitando-os na tetania e asfixia, como veremos mais tarde. É sobre um cadáver, já averiguado como tal, que um dos soldados vai desferir um lançaço no coração?!

A razão está em que, se é que interpretamos bem os textos legais, este ferimento do coração era o gesto regulamentar que devia o soldado fazer para entregar o corpo à sepultura.

Segundo São João, foi depois do golpe de lança que José de Arimateia foi à fortaleza Antônia pedir a Pilatos o corpo de Jesus. Mas, desde que chegaram ao Calvário, todo o pelotão via muito bem aquele grupo de certa importância, além de “numerosas mulheres”, conforme acrescenta Marcos depois de sua enumeração nominal, que cercava Maria e João, sendo estes visivelmente os membros da família. Se todas estas pessoas se mantiveram inicialmente ao longe (“apo makrothen”), por fora do círculo das sentinelas, devem ter se aproximado após a partida dos judeus insolentes. A prova disto está nas palavras de Jesus a sua Mãe e ao discípulo amado. Talvez, até, os soldados os tivessem ouvido manifestar a intenção de pedir o corpo. Em todo o caso, era evidente que o fariam. Uma vez verificada a morte, o golpe de lança se tornava um gesto natural e favorável para preparara entrega do corpo de acordo com o regulamento. Confesso, com franqueza, que esta ideia me conforta e me faz compreender melhor.”

BARBET, Pierre. A Paixão de Cristo, segundo o cirurgião. São Paulo: Edições Loyola, 2014, pág. 65-80.