Nem tem vindo a ser

Pois nenhuma coisa nem tem vindo a ser nem é nem será morta no mundo. Com efeito, o pai quis que ele fosse vivente enquanto se constituisse, por isso, é necessário que seja um deus. Portanto, como pode ser possível, o filho, existirem coisas mortas em Deus, na imagem do Universo, na plenitude da vida? Pois a mortandade é corrupção, e a corrupção é destruição. Então, como alguma parte do incorruptível pode ser corrompida ou alguma parte de Deus pode ser destruída?

(…) Pois não morrem, ó filho, mas como corpos compostos, eles são desintegrados. E a dissolução não é morte, mas desintegração da mistura, e são desintegrados, não para serem destruídos, mas para virem a ser novas coisas. E qual é a energia da vida? Não é a moção? Então o que é imóvel no mundo? Nada, ó filho.”

TRISMEGISTOS, Hermes. Corpus Hermeticum graecum, São Paulo:Ed. Cultrix, 2023, Pág. 219.

Parte II- Corpus Hermeticum Graecum.

Lilellus XII

Memórias armazenadas

“Assim, Erich Fromm escreve em Ter ou Ser: “Ter se refere às coisas […]. O ser refere-se a vivências […]”

A velha máxima do ter não mais se aplica: quanto mais eu tenho, mais eu sou. A nova máxima da vivência é: quanto mais eu vivencio, mais eu sou.

As memórias armazenadas nas coisas de repente não têm valor. Eles têm que dar lugar a novas vivências.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 270-278.

Da posse à vivência

Pertencimento aberto ao Ser

“Essa ideia se baseia não no Se-querer ou na vontade de Si, mas no ser-Com ou no querer-Com: “O querer-Com […] é o abrir-se a e o deixar-se cair no Ser. O ser-Com é um dever, mas um dever que […] se origina do pertencimento aberto ao Ser [Seyn] e que regressa para este pertencimento. Esse pertencimento, porém, é a essência mais íntima da liberdade”211. A liberdade como pertencimento faz jus à ideia originária de liberdade. A palavra “livre” significa, segundo sua etimologia, estar entre amigos. Tanto a palavra alemã para liberdade, “Freiheit”, como também a palavra alemã para amigo, “Freund”, remontam à raiz indo-germânica fri, que significa amar. Liberdade é amabilidade.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 1635.

A sociedade que vem

Vida ativa, vida contemplativa

“Provérbio de Cato […]: ‘Jamais se é tão ativo como quando, visto do exterior, aparentemente nada se faz, jamais se está menos só do que quando se está só na solidão consigo mesmo.

Não a vida ativa, mas só a vida contemplativa é que torna o homem naquilo que ele deve ser.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 378-385.

4| Vida Activa

Carência de ser

“Precisamente frente à vida desnuda, que acabou se tornando radicalmente transitória, reagimos com hiperatividade, com a histeria do trabalho e da produção. Também o aceleramento de hoje tem muito a ver com a carência de ser. A sociedade do trabalho e a sociedade do desempenho não são uma sociedade livre.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 360.

4| Vida Activa

A Pergunta Sobre o Ser

“Echeverría conclui que “não é possível conceber uma transformação histórica de maior envergadura que modifique nossa resposta à pergunta ontológica”, ou seja, a pergunta sobre o Ser.”

GOLDEMBERG, Gilda. Perguntas Poderosas: Um guia prático para aprender a
perguntar e alcançar melhores resultados em coaching. Ed. Casa do Escritor – 2a Edição, 2019. Versão Kindle, posição 806.

De Viver e de Ser

“MEU AMIGO, tu, como todos os romanos, sabes melhor conceber a vida do que vivê-la. E antes governarias terras do que te deixarias governar pelo espírito.

Vós, romanos, preferis conquistar raças e ser por elas amaldiçoados a permanecer em Roma e ser abençoados e felizes. Não pensais senão em exércitos em marcha e em navios lançados ao mar.

Como podereis, então, compreender Jesus de Nazaré, um homem simples e isolado que veio, sem armas nem navios, estabelecer um reino no coração e um império nos espaços livres da alma?

“Como compreendereis esse homem que não era um guerreiro, mas veio com a força do poderoso éter?

Ele não era um deus, era um homem como nós outros; mas Nele, a mirra da terra subia para encontrar o incenso do céu; e em Suas palavras, nosso balbucio abraçava o murmúrio do invisível; e em Sua voz, ouvíamos uma canção insondável.

Sim, Jesus era um homem e não um deus, e aí está nosso deslumbramento e nosso assombro. Mas vós, romanos, não vos maravilhais senão com os deuses, e nenhum homem vos assombra. Por isto, não com prendeis o Nazareno.

Ele pertencia à juventude da mente, e vós pertenceis à sua idade avançada.”

GIBRAN, Gibran Khalil.  Jesus, o Filho do Homem. Tradução: Mansour Challita. Associação Cultural Internacional Gibran, 1973, pág. 98.

A Prática Aquieta a Mente

Mas logo a prática aquieta nossa mente, e começamos a diferença entre estar presente e se deixar levar pela fantasia. A prática da meditação nos oferece um contexto para nos questionarmos se sequer temos escolha entre relaxar com a farta energia da nossa experiência ou nos distrairmos em ocupações.”

MATTIS-NAMGYEL, Elizabeth. O Poder de uma Pergunta Aberta: o caminho do Buda para a liberdade. Teresópolis, RJ: Lúcida Letra,  2018. p. 64.

Falsa Promessa da Segurança

“Um desses pressupostos é o de que as coisas possuem qualidades inatas que podem nos fazer felizes e nos proteger da incerteza, da solidão e do medo. Se, enfim, tivéssemos mais poder e influência, seríamos felizes. Se estivéssemos em um relacionamento, não nos sentiríamos tão sozinhos. Se tivéssemos mais dinheiro e beleza, não nos sentiríamos tão inseguros. Individualmente, cada um de nós tende a buscar um estado confortável de autoengano. A sociedade oferece-nos a promessa da segurança: você precisa disso, você precisa daquilo; ei, olhe para cá; isto fará você maior, isto fará você menor; isto fará você mais jovem e mais viril.”

MATTIS-NAMGYEL, Elizabeth. O Poder de uma Pergunta Aberta: o caminho do Buda para a liberdade. Teresópolis, RJ: Lúcida Letra,  2018. p. 38.