Nossas crenças costumeiras

Material complementar

“Quando pergunto “Que horas são?” ou “Que dia é hoje?”, minha expectativa é a de que, alguém tendo um relógio ou um calendário, me dê a resposta exata. Em que acredito quan­do faço a pergunta e aceito a resposta? Acredito que o tempo existe, que ele passa, pode ser medido em horas e dias, que o que já passou é diferente do agora e que o que virá também há de ser diferente deste momento, que o passado pode ser lembrado ou esquecido e o futuro, desejado ou temido. Assim, uma simples pergunta contém, silenciosamente, várias crenças.  

Por que crenças? Porque são coisas ou ideias em que acreditamos sem questionar, que aceitamos porque são óbvias, evidentes. Afinal, quem não sabe que ontem é diferente de amanhã, que o dia tem horas e que elas passam sem cessar?”

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 14º Edição. São Paulo: Editora Ática. 2020, pág. 16.

Introdução: Para que filosofia?

Nossas crenças costumeiras

Aula Magna

Potência positiva e potência negativa

“Duas formas de potência devem ser distinguidas. A potência positiva consiste em fazer algo. A potência negativa é a capacidade de não fazer nada. Entretanto, não é idêntica à incapacidade de fazer algo. Ela não é uma negação da potência positiva, mas uma potência independente. Ele capacita o espírito a demorar-se silenciosa e contemplativamente, ou seja, a atenção profunda. Na ausência de potência negativa, caímos em uma hiperatividade destrutiva. Afundamo-nos no ruído. Somente o fortalecimento da potência negativa pode restaurar o silêncio. Mas a compulsão predominante para a comunicação, que se revela uma compulsão para produzir, destrói conscientemente a potência negativa.

Eu não sou o senhor de mim mesmo, do meu nome. Sou um convidado em minha casa, sou apenas o inquilino do meu nome.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 1363-1370.

Silêncio

As informações nos roubam o silêncio

“As informações nos roubam o silêncio, impondo-se sobre nós e exigindo nossa atenção. O silêncio é um fenômeno de atenção. Somente uma atenção profunda produz silêncio. As informações, porém, fragmentam a atenção.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 1355.

Silêncio

A alma não reza mais

“Somente o silêncio, a imaginação, abre profundos espaços internos de desejo à subjetividade: “A subjetividade absoluta só pode ser alcançada em estado de silêncio, o esforço para alcançar o silêncio (fechar os olhos significa fazer a imagem falar no silêncio).

O desastre da comunicação digital decorre do fato de que não temos tempo para fechar os olhos. Os olhos são forçados a uma “voracidade constante”. Eles perdem o silêncio, a atenção profunda. A alma não reza mais.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 1328-1331.

Silêncio

Indisponibilidade

“O silêncio tem início a partir da indisponibilidade. A indisponibilidade estabiliza e aprofunda a atenção, suscita o olhar contemplativo. Ele tem a paciência para o largo e o lento. Onde tudo está disponível e alcançável, nenhuma atenção profunda é formada. O olhar não se detém. Ele vagueia como o de um caçador. Para Nicolas Malebranche, a atenção é a oração natural da alma. A alma não reza mais hoje em dia. Ela se produz. A comunicação extensiva dispersa a alma.

A contemplação, no entanto, se opõe à produção. A compulsão de produzir e comunicar destrói a imersão contemplativa.

(…)a verdade de uma fotografia é revelada no silêncio, no fechar dos olhos.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 1315-1323.

Silêncio

O sagrado é um evento de silêncio

“O sagrado é um evento de silêncio. Isso nos faz ouvir: “Myein, consagrar, representa etimologicamente ‘fechar’ – os olhos, mas acima de tudo a boca. No início dos ritos sagrados, o arauto ‘ordenava’ ‘silêncio’ (epitattei ten siopen)”142. Vivemos hoje em um tempo sem consagração.

A hipercomunicação, o barulho da comunicação desconsagra e profana o mundo. Ninguém escuta. Todos se produzem a si mesmos. O silêncio não produz nada. É por isso que o capitalismo não ama o silêncio.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 1289-1293.

Silêncio

Os novos meios de comunicação

“Os novos meios de comunicação são dignos de admiração, mas causam um barulho descomunal”. O barulho de comunicação destrói o silêncio, furta a linguagem de sua capacidade contemplativa.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 329.

Considerações sobre a inatividade

Só o silêncio nos torna capazes de ouvir

“Só o silêncio nos torna capazes de ouvir algo inaudito. A obrigação de comunicar, em contrapartida, leva à reprodução do igual.

A dificuldade hoje não é mais a de não podermos expressar livremente nossa opinião, mas a de conseguir espaço livre para a solidão e o silêncio nos quais possamos encontrar algo para falar. Forças repressivas não nos impedem mais de manifestar nossa opinião. Pelo contrário, elas até mesmo nos obrigam a tanto. Como é libertador não ter de dizer algo e poder silenciar-se, pois apenas então temos a possibilidade de criar algo cada vez mais raro: algo que realmente vale a pena ser dito*.”

*DELEUZE, G. Mediators. Negotiations. Nova York, 1995, p.

(…)

“Apenas os espaços livres da inatividade nos dão a possibilidade de criar algo cada vez mais raro: algo que realmente vale a pena ser feito. A inatividade é, então, o limiar de um feito inaudito.

A obrigação de agir e, mais ainda, a aceleração da vida se mostram como um meio eficaz de dominação. Se hoje nenhuma revolução parece mais ser possível, talvez isso seja porque não temos tempo para pensar. Sem tempo, sem uma inalação profunda, segue-se repetindo o igual.

Como falta tempo para pensar e tranquilidade no pensar, as pessoas não mais ponderam as opiniões divergentes: contentam-se em odiá-las. Com o enorme aceleramento da vida, o espírito e o olhar se acostumam a ver e julgar parcial ou erradamente, e cada qual semelha o viajante que conhece terras e povos pela janela do trem. Uma atitude independente e cautelosa no conhecimento é vista quase como uma espécie de loucura, o espírito livre é difamado*.”

*NIETZSCHE, F. Humano, demasiado humano. São Paulo: Companhia de Bolso, 2017, aforismo n. 282.

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 297-308.

Considerações sobre a inatividade

Conhecer a Deus para Amá-Lo

“Embora seja necessário amar a Deus para conhecê-Lo, é igual mente verdade que precisamos conhecer Deus para amá-Lo.

(…)

Há apenas um Criador de todas as faculdades do homem. Deus é a Origem do amor com que amamos; de nossas almas com que cla mamos pela imortalidade; de nossas mentes e processos mentais com que pensamos, raciocinamos e alcançamos êxito; e de nossa vitalidade com que nos empenhamos nas atividades da vida.

(…)

Amar a Deus de toda a alma requer a completa quietude da interiorização transcendente.”

YOGANANDA, Paramahansa. A Segunda Vinda de Cristo, A Ressurreição do Cristo Interior. Comentário Revelador dos Ensinamentos Originais de Jesus. Vol II. Editora Self, 2017, pág. 503-505.

Capítulo 53: A observância dos dois maiores mandamentos.

A Voz de Deus é Silêncio

“As sensações afluindo através dos nervos sensoriais mantêm a mente repleta de miríades de ruidosos pensamentos, de modo que toda a atenção se volta aos sentidos. A voz de Deus, porém, é o silêncio. Somente quando cessam os pensamentos inquietos é que se pode ouvir a voz de Deus comunicando-se no silêncio da intuição. Este é o meio de expressão de Deus. No silêncio do devoto cessa o silêncio de Deus. Para o devoto cuja consciência está interiormente unida a Deus, uma resposta audível da parte Dele é desnecessária. Pensamentos intuitivos e visões verdadeiras constituem a voz de Deus. Eles não resultam de estimulação sensorial, mas de combinar o silêncio do devoto com a voz silenciosa de Deus.”

YOGANANDA, Paramahansa. A Segunda Vinda de Cristo, A Ressurreição do Cristo Interior. Comentário Revelador dos Ensinamentos Originais de Jesus. Vol. I. Editora Self, 2017, pág. 546.

Capítulo 28: O Pai-Noso: Jesus ensina seus seguidores a orar – O Sermão da Montanha, parte III.