A Esfinge

“Minha cabeça recomenda que conheças.
Minhas garras recomendam que ouses.
Meus flancos recomendam que queiras.
Minhas asas recomendam que permaneças em silêncio.”

A fronte humana da Esfinge fala de inteligência.
Seus seios falam de amor; suas garras; de combate.
Suas asas são fé, sonho e esperança.
Seus flancos de touro são a obra cả embaixo.

Se souberes trabalhar, acreditar, amar, defender-te,

Não serás atormentado por necessidades mesquinhas;
Se teu coração souber como desejar e teu espírito compreender,

Eu te saúdo, rei de Tebas, e eis aqui tua coroa!”

-CABEÇA
-ASAS
-FLANCOS
-PATAS
-PATAS

Nesse símbolo da Esfinge, notamos duas grandes oposições:

-Na frente: A cabeça (Ciência) oposta às patas (audácia).

-Atrás: Os flancos (trabalho) opostos também às patas (audácia).

-Entre ambos: A intuição (asas) que os regula.

 

-A audácia, nas ações, será eficaz (patas dianteiras)

-se a Ciência as dominar o suficiente para dirigi-las. (CABEÇA)

-A audácia nos estudos será coroada de sucesso (patas traseiras)

-se aceitar o controle do trabalho e da perseverança (flancos do touro)

Finalmente, o excesso nas ações ou nos estudos deve ser compensado pelo da imaginação (asas da águia).

CABEÇA

ASAS

FLANCOS DO TOURO

-Nenhuma teoria sem prática

-Nenhuma prática sem teoria

Sem trabalho:

-Nenhuma teoria

-Nenhuma prática


PAPUS.Tratado elementar de ciências ocultas, Ed. Pensamento, 2022, Pág.133-135.

Capítulo 6

O Castelo do silêncio

O cavaleiro logo tomou consciência de duas coisas: primeiro, parecia não haver nenhuma porta na sala que levasse a outras partes do castelo. Segundo, o silêncio que fazia nesse castelo era extraordinário, misterioso. Ele percebeu com um sobressalto que o fogo nem mesmo crepitava.

Estou surpreso de vê-lo aqui. Ouvi falar que o senhor estava numa cruzada. — É isso que eu digo sempre que viajo pelo Caminho da Verdade — explicou o rei. — É mais fácil para meus súditos entenderem. O cavaleiro parecia intrigado. — Todos entendem as cruzadas — disse o rei —, mas muito poucos entendem a verdade.

“— A maioria de nós está aprisionada no interior de uma armadura — declarou o rei. — O que o senhor quer dizer? — perguntou o cavaleiro. — Nós levantamos barreiras para proteger quem pensamos ser. Então um dia ficamos presos atrás dessas barreiras e não conseguimos mais sair.

— Nunca pensei que fosse um ser aprisionado, rei. O senhor é tão sábio — disse o cavaleiro. O rei riu, pesaroso. — Tenho sabedoria suficiente para compreender quando estou aprisionado e retornar aqui, para aprender mais sobre mim.

É verdade que meus companheiros e eu não estávamos sozinhos, porque falávamos constantemente, mas, quando se fala, é impossível ver a porta para sair desta sala.

Ficar em silêncio significa mais do que não falar — disse o rei. — Descobri que, quando estava com alguém, mostrava apenas a minha melhor imagem. Não deixava as barreiras cederem e não permitia que nem eu nem a outra pessoa víssemos o que eu estava tentando esconder.

O rei esfregou o dedão delicadamente. — Tudo bem. Essa armadura dói mais em você do que em mim.

— A viagem pelo Caminho da Verdade nunca termina. Cada vez que volto aqui encontro novas portas, enquanto minha compreensão se expande gradativamente.

Este é um novo tipo de cruzada para você, caro cavaleiro, uma que requer mais coragem do que todas as outras batalhas que você já enfrentou antes. Se conseguir mobilizar a força necessária para ficar aqui e fazer o que tem de fazer, esta será sua maior vitória.

O cavaleiro correu até onde o rei estivera, esperando que, de perto, também pudesse ver a porta. Deparando-se com o que parecia ser apenas uma parede sólida, ele começou a caminhar em redor da sala. Tudo o que podia ouvir era o som de sua armadura ecoando pelo castelo. Depois de algum tempo, sentiu-se deprimido como nunca antes em sua vida. Para se animar, cantarolou duas estimulantes canções de batalha: “Estarei lá para pegá-la numa cruzada, meu amor” e “onde penduro meu elmo é meu lar”. Ele as cantou vezes e vezes seguidas. Conforme sentia sua voz ficando cansada, percebia que a quietude tornava seu canto inaudível, envolvendo-o num silêncio total e devastador. Somente então, o cavaleiro pôde realmente admitir algo que nunca tinha reconhecido antes: tinha medo de ficar sozinho.

Logo irrompeu em sua mente que, durante toda a sua vida, perdera tempo falando sobre o que tinha feito e o que iria fazer. Nunca desfrutara o que estava realmente acontecendo. E assim uma outra porta apareceu.

— Por que será que essas salas vão se tornando cada vez menores? — ele se perguntou, em voz alta. Uma voz respondeu: — Porque você está fechando o cerco sobre si mesmo. Assustado, o cavaleiro olhou à sua volta. Ele estava sozinho — ou pelo menos pensava que estava. Quem tinha falado? — Você falou — disse a voz, respondendo ao seu pensamento. A voz parecia vir de dentro dele. Seria possível? — Sim, é possível — respondeu a voz. — Sou o seu eu verdadeiro. — Mas eu sou o meu eu verdadeiro — protestou o cavaleiro. — Olhe para si mesmo — disse a voz com uma ponta de desgosto —, sentado aí meio morto de fome, envolto nessa sucata com uma viseira enferrujada e ostentando uma barba ensopada. Se você é o seu eu verdadeiro, ambos estamos encrencados! — Agora preste atenção — disse o cavaleiro —, vivi todos esses anos sem ouvir uma única palavra sua. Agora que ouço, a primeira coisa que diz é que você é o meu eu verdadeiro. Por que não se manifestou antes? — Tenho estado por perto há anos — replicou a voz —, mas esta é a primeira vez que você fica quieto o bastante para me escutar.

O cavaleiro estava boquiaberto, incrédulo. Olhou para o céu e, com a voz estrondosa, disse: — Merlin, preciso falar com você. Como prometera, o mago apareceu imediatamente. Estava nu, exceto pela longa barba, e pingava de tão molhado. Aparentemente, o cavaleiro pegara Merlin tomando banho. — Perdoe-me por essa intrusão — disse o cavaleiro —, mas trata-se de uma emergência. Eu… — Não faz mal — disse Merlin, interrompendo-o. — Os magos acabam se acostumando com essas inconveniências.

— Para responder à sua pergunta, devo dizer que é verdade. Você permaneceu no Castelo do Silêncio por um longo tempo. Merlin nunca deixava de surpreender o cavaleiro. — Como você sabia que eu queria perguntar isso? — Como me conheço, posso conhecer você. Somos todos parte um do outro — respondeu o mago.

— Não temos de sentir orgulho por sermos humanos. Isso é tão sem sentido quanto seria para Rebecca sentir orgulho por poder voar. Rebecca nasceu com asas. Você nasceu com um coração e agora o está usando, simplesmente como deveria fazê-lo.”

FISHER, Robert. O cavaleiro preso na armadura. Ed. Record, 2020, Local: 525-683.

O Castelo do silêncio

A comunicação digital é horizontal

“A comunicação digital é horizontal. Nada sobressai ali. Nada se aprofunda. Não é intensiva, mas extensiva, o que faz com que o ruído da comunicação aumente. Porque não podemos ficar em silêncio, temos que nos comunicar. Ou não podemos ficar em silêncio, porque estamos subordinados à coação da comunicação, à coação da produção.

(…)

A simultaneidade da intensidade de vida e da contemplação o caracteriza. A vida alcança uma intensidade real justamente quando a vita contemplativa incorpora em si a vita activa degenerada em hiperatividade em sua crise pós-moderna.”

HAN, Byung-Chul.O desaparecimento dos rituais: Uma topologia do presente. Ed. Vozes, 2021, Local 559-567.

Festa e Religião

Nossas crenças costumeiras

Material complementar

“Quando pergunto “Que horas são?” ou “Que dia é hoje?”, minha expectativa é a de que, alguém tendo um relógio ou um calendário, me dê a resposta exata. Em que acredito quan­do faço a pergunta e aceito a resposta? Acredito que o tempo existe, que ele passa, pode ser medido em horas e dias, que o que já passou é diferente do agora e que o que virá também há de ser diferente deste momento, que o passado pode ser lembrado ou esquecido e o futuro, desejado ou temido. Assim, uma simples pergunta contém, silenciosamente, várias crenças.  

Por que crenças? Porque são coisas ou ideias em que acreditamos sem questionar, que aceitamos porque são óbvias, evidentes. Afinal, quem não sabe que ontem é diferente de amanhã, que o dia tem horas e que elas passam sem cessar?”

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 14º Edição. São Paulo: Editora Ática. 2020, pág. 16.

Introdução: Para que filosofia?

Nossas crenças costumeiras

Aula Magna

Potência positiva e potência negativa

“Duas formas de potência devem ser distinguidas. A potência positiva consiste em fazer algo. A potência negativa é a capacidade de não fazer nada. Entretanto, não é idêntica à incapacidade de fazer algo. Ela não é uma negação da potência positiva, mas uma potência independente. Ele capacita o espírito a demorar-se silenciosa e contemplativamente, ou seja, a atenção profunda. Na ausência de potência negativa, caímos em uma hiperatividade destrutiva. Afundamo-nos no ruído. Somente o fortalecimento da potência negativa pode restaurar o silêncio. Mas a compulsão predominante para a comunicação, que se revela uma compulsão para produzir, destrói conscientemente a potência negativa.

Eu não sou o senhor de mim mesmo, do meu nome. Sou um convidado em minha casa, sou apenas o inquilino do meu nome.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 1363-1370.

Silêncio

As informações nos roubam o silêncio

“As informações nos roubam o silêncio, impondo-se sobre nós e exigindo nossa atenção. O silêncio é um fenômeno de atenção. Somente uma atenção profunda produz silêncio. As informações, porém, fragmentam a atenção.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 1355.

Silêncio

A alma não reza mais

“Somente o silêncio, a imaginação, abre profundos espaços internos de desejo à subjetividade: “A subjetividade absoluta só pode ser alcançada em estado de silêncio, o esforço para alcançar o silêncio (fechar os olhos significa fazer a imagem falar no silêncio).

O desastre da comunicação digital decorre do fato de que não temos tempo para fechar os olhos. Os olhos são forçados a uma “voracidade constante”. Eles perdem o silêncio, a atenção profunda. A alma não reza mais.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 1328-1331.

Silêncio

Indisponibilidade

“O silêncio tem início a partir da indisponibilidade. A indisponibilidade estabiliza e aprofunda a atenção, suscita o olhar contemplativo. Ele tem a paciência para o largo e o lento. Onde tudo está disponível e alcançável, nenhuma atenção profunda é formada. O olhar não se detém. Ele vagueia como o de um caçador. Para Nicolas Malebranche, a atenção é a oração natural da alma. A alma não reza mais hoje em dia. Ela se produz. A comunicação extensiva dispersa a alma.

A contemplação, no entanto, se opõe à produção. A compulsão de produzir e comunicar destrói a imersão contemplativa.

(…)a verdade de uma fotografia é revelada no silêncio, no fechar dos olhos.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 1315-1323.

Silêncio

O sagrado é um evento de silêncio

“O sagrado é um evento de silêncio. Isso nos faz ouvir: “Myein, consagrar, representa etimologicamente ‘fechar’ – os olhos, mas acima de tudo a boca. No início dos ritos sagrados, o arauto ‘ordenava’ ‘silêncio’ (epitattei ten siopen)”142. Vivemos hoje em um tempo sem consagração.

A hipercomunicação, o barulho da comunicação desconsagra e profana o mundo. Ninguém escuta. Todos se produzem a si mesmos. O silêncio não produz nada. É por isso que o capitalismo não ama o silêncio.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 1289-1293.

Silêncio

Os novos meios de comunicação

“Os novos meios de comunicação são dignos de admiração, mas causam um barulho descomunal”. O barulho de comunicação destrói o silêncio, furta a linguagem de sua capacidade contemplativa.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 329.

Considerações sobre a inatividade