Sobrevivência

“Para sobreviver, e principalmente para agir de modo eficiente, tinham que “cavar”, desenhar fronteiras e marcá-las com trincheiras e arame farpado, ao mesmo tempo em que faziam a fortaleza suficientemente grande para abrigar todo o necessário para resistir a um cerco prolongado, talvez sem perspectivas. O capitalismo pesado era obcecado por volume e tamanho, e, por isso, também por fronteiras, fazendo-as firmes e impenetráveis. O gênio de Henry Ford foi descobrir o modo de manter os defensores de sua fortaleza industrial dentro dos muros — para guardá-los da tentação de desertar ou mudar de lado.Como disse o economista da Sorbonne Daniel Cohen:

“Henry Ford decidiu um dia “dobrar” os salários de seus trabalhadores. A razão (publicamente) declarada, a célebre frase “quero que meus trabalhadores sejam pagos suficientemente bem para comprar meus carros” foi, obviamente, uma brincadeira. As compras dos trabalhadores eram uma fração ínfima de suas vendas, mas os salários pesavam muito mais em seus custos … A verdadeira razão para o aumento dos salários foi a formidável rotatividade de força de trabalho que a Ford enfrentava. Ele decidiu dar o aumento espetacular aos trabalhadores para fixá-los à linha …”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 1062-1066.

Capítulo 2 | Individualidade

Capitalismo – pesado e leve

A chegada da visão

“(…) em verdade, a chegada da visão quase nunca é bem-vinda para aqueles que se acostumaram a viver sem ela como doce perspectiva da liberdade.

O exílio é para o pensador o que o lar é para o ingênuo; é no exílio que o distanciamento, modo de vida habitual da pessoa que pensa, adquire valor de sobrevivência.”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 792-803.

Capítulo 1 | Emancipação

A teoria crítica revisitada

Jejum ritualístico

“O jejum ritualístico renova a vida ao reavivar os sentidos. Devolve à vida sua vivacidade, seu esplendor. Sob a ditadura da saúde, porém, o jejum se coloca a serviço da sobrevivência.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 151.

Considerações sobre a inatividade

A inatividade constitui o Humanum

“A inatividade constitui o Humanum. O que torna o fazer genuinamente humano é a parcela de inatividade que há nele. Sem um momento de hesitação ou de contenção, o agir se degenera em ação e reação cegas. Sem repouso, surge uma nova barbárie. É o silenciar-se que dá profundidade à fala. Sem o silêncio não há música, mas apenas barulho e ruído. O jogo é a essência da beleza. Onde impera apenas o esquema de estímulo e reação, de carência e satisfação, de problema e solução, de objetivo e ação, a vida se reduz à sobrevivência, à vida animalesca nua.

A vida só recebe seu esplendor da inatividade. Se perdemos a capacidade para a inatividade, igualamo-nos a uma máquina que deve apenas funcionar. A verdadeira vida começa quando cessa a preocupação com a sobrevivência, com a necessidade da vida crua. O objetivo último dos esforços humanos é a inatividade.

A ação é, de fato, constitutiva para a história, mas não é uma força formadora da cultura. Não a guerra, mas a festa, não as armas, mas as joias, são a origem da cultura. História e cultura não coincidem.

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 67-73.

Considerações sobre a inatividade

Vida sadia

“A sociedade atual do sobreviver que absolutiza o sadio, destrói precisamente o belo. A mera vida sadia, que hoje adota a forma do sobreviver histérico, converte-se no morto; sim, num morto-vivo. Nós nos transformamos em zumbis saudáveis e fitness, zumbis do desempenho e do botox. Assim hoje, estamos por demais mortos para viver, e por demais vivos para morrer.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 974.

Anexos: Tempo de celebração-a festa numa época sem celebração

A vida do sobreviver

“A vida hoje se transformou num sobreviver. A vida enquanto um sobreviver acaba levando à histeria da saúde. A pessoa sadia irradia paradoxalmente um quê de morbido, algo de sem-vida. Sem a negatividade da morte a vida enrijece em morte. A negatividade é a força vital da vida.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 967.

Anexos: Tempo de celebração-a festa numa época sem celebração

O tempo de celebração

“O tempo de celebração é um tempo pleno, em contraposição ao tempo de trabalho, como tempo vazio, que deve ser simplesmente preenchido, que se move entre tédio e ocupação. A festa, ao contrário, realiza um instante de elevada intensidade vital. Hoje, a vida está perdendo cada vez mais intensidade. A vida sadia como sobrevivência é o nível absolutamente mais baixo da vida.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 935.

Anexos: Tempo de celebração-a festa numa época sem celebração