“Na esteira do culto de autenticidade, as tatuagens têm voltado a estar em moda. No contexto ritual, simbolizam a aliança entre o singular e a comunidade.
Às tatuagens de hoje falta essa força do símbolo. Elas remetem somente à singularidade de seu portador. O corpo aqui não é nem um palco ritual, nem área de projeção, mas uma área de propaganda. O inferno neoliberal do igual é habitado por clones tatuados. O culto de autenticidade faz erodir o espaço público. Destruído, este se torna espaços privados. Cada um carrega consigo seu espaço privado em toda parte.
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O culto narcísico da autenticidade é corresponsável pelo embrutecimento crescente da sociedade. Vivemos hoje em uma cultura do afeto. Onde gestos e modos rituais ruem, os afetos e emoções ganham predominância.
Pode-se pensar uma virada ritual, na qual vigora novamente a prioridade das formas. Ela reverte a relação entre o dentro e o fora, entre espírito e corpo. O corpo comove o espírito, não o contrário. Não é o corpo que segue o espírito, mas o espírito que segue o corpo. Seria possível dizer também: O meio produz a mensagem. É nisso que consiste a força dos rituais. Formas exteriores levam a transformações internas. Gestos rituais da polidez têm, assim, consequências mentais.”
HAN, Byung-Chul.O desaparecimento dos rituais: Uma topologia do presente. Ed. Vozes, 2021, Local 307-326.
Coação de autenticidade