“Recentemente, alguns psicanalistas junguianos passaram a falar sobre transferência mútua em vez de usar o termo contratransferência. A ideia é que tanto o analista quanto o paciente estão projetando livremente um no outro. O termo contratransferência pressupõe que o analista está respondendo à transferência do paciente (que tem prioridade). Mas e se a projeção simplesmente ocorrer por parte do analista devido à aparência do paciente ou à maneira como ele age ou se comporta?”
Jung apresentou um diagrama do campo interativo. O diagrama abaixo ilustra a complexidade do campo como se apresenta entre o analista A e o paciente P, onde A’ e P’ indicam o inconsciente de cada um:
As setas indicam os vetores do campo relacional da seguinte maneira:
a) o vértice do diálogo consciente entre analista e paciente;
b) o vértice da dinâmica interna entre analista e o paciente;
c) o vértice da interação inconsciente entre analista e paciente;
d) o vértice das projeções de transferência/contratransferência mútuas.
Portanto, o campo da psicanálise evoluiu para uma visão de uma troca entre duas pessoas que se encontram em um espaço relacional altamente interativo.
A parte mais intrigante da relação é o nível “c”. No nível “c”, há um encontro entre as duas psiques, que será crucialmente transformador tanto para o analista quanto para o paciente. É um tipo de relação fusional em que as duas psiques se encontram e se tornam uma.
Em um ensaio denominado “Problemas da Psicoterapia Moderna”, Jung delineou as quatro fases da análise. A primeira fase é a confissão, na qual o analista está posicionado para simplesmente acolher e aceitar uma confissão, segredos ou aspectos sombrios que o paciente revela. Na segunda fase, a elucidação, o analista assume um papel mais ativo, fornecendo explicações para os sentimentos do paciente, conflitos entre o consciente e o inconsciente, ou desacordos entre o paciente e seu ambiente. Essa é uma fase de esclarecimentos psicológicos. A terceira fase, denominada educação, envolve o analista auxiliando os pacientes a compreenderem melhor a si mesmos e suas relações com o mundo exterior. Jung dedica a maior parte do ensaio à discussão da quarta fase, a transformação. Essa é a fase em que a relação de transferência e contratransferência ganha importância crucial. O analista se envolve na relação de maneira mais profunda do que nas três fases anteriores. Tanto o analista quanto o paciente participam da transformação que ocorre na quarta fase.”
STEIN, Murray. Os quatro pilares da psicanálise junguiana: Individuação – Relacionamento analítico – Sonhos – Imaginação ativa – Uma introdução concisa. Ed. Cultrix, 2023. Local, 570-604.
Pilar 2
Jung e transferência