Jung e transferência

“Como resultado dessas discussões no consultório de Freud em Viena, eles formaram uma estreita relação profissional e colegial. Nesse relacionamento, Jung também descobriu que tinha sentimentos profundos e irracionais por Freud. Isso também era uma forma de transferência, nesse caso, de homem para homem. Em um determinado momento, Jung confessou em uma carta a Freud que tinha uma espécie de “paixão religiosa” por ele, que denotava aspectos homossexuais. Tal percepção o assustou devido a um incidente de abuso sexual na infância por parte de um homem mais velho que ele admirava.

Jung sabia reconhecer um gênio quando se deparava com um, e em Freud, foi exatamente isso que ele viu.

Mais tarde, os fundadores perceberam que a transferência não é tão unilateral, mas também tem um efeito poderoso no analista. Daí o termo contratransferência: as emoções do analista são uma reação, uma resposta “contra” a transferência do paciente. Eles começaram a olhar mais cuidadosamente para a perspectiva do analista dentro do par terapêutico. Não é apenas o fato de que o paciente é pego neste poderoso campo afetivo, mas que o médico também é afetado por isso.

Duas pessoas estão nesse relacionamento e compartilham um clima comum, assim como um espaço afetivo. É como um banho no qual ambos estão imersos. As duas figuras estão na água, e este é o meio pelo qual a análise é conduzida. A natureza do ambiente emocional entre eles afeta todas as transações que ocorrem nesse espaço. Quando a transferência se desenvolve nesta relação, a contratransferência também se expande, e o clima afetivo se torna intensamente energizado.

A experiência de Jung com Spielrein foi tão intensa que ele percebeu o quão perigoso isso poderia ser para ele como profissional médico e homem casado. Isso o levou a uma relação que poderia sair do controle. Por causa desse perigo, tornou-se, em geral, recomendado que parte do treinamento de analistas inclua a própria análise pessoal. É fundamental que os psicanalistas entendam e experimentem tudo que pode surgir nesse tipo de relação profissional. Tanto Jung quanto Freud estavam cientes de que a contratransferência tem raízes no inconsciente do analista.

(…) essa expansão sobre o que é possível em uma relação psicoterapêutica não foi bem recebida por Freud, pois novas ideias abriram a porta para características que não seriam incestuosas ou sexuais e, portanto, não estavam em consonância com a triangulação edípica. Freud tinha um foco bastante restrito em um tipo específico de projeção, enquanto Jung sugeriu que uma pessoa poderia projetar qualquer coisa que fosse inconsciente e que se prendesse ao “anzol” lançado pelo outro.”

STEIN, Murray. Os quatro pilares da psicanálise junguiana: Individuação – Relacionamento analítico – Sonhos – Imaginação ativa – Uma introdução concisa. Ed. Cultrix, 2023. Local, 517-567.

Pilar 2

Jung e transferência

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