“(…)existem diversos estilos de contratransferência, que podem ser categorizados como atitudes estáveis ou por reações momentâneas. As atitudes estáveis referem-se às posturas básicas que um terapeuta adota em relação a cada caso e fazem parte de sua postura profissional ao receber os pacientes. Essas atitudes são desenvolvidas ao longo do tempo de prática clínica, tornando-se hábitos consistentes de acolhimento. Por outro lado, as reações momentâneas são respostas emocionais e cognitivas que surgem durante a interação terapêutica, influenciadas pela dinâmica da transferência e pelas projeções inconscientes do paciente. É importante que o terapeuta esteja consciente de suas atitudes e reações contratransferenciais, e que as utilize de forma reflexiva e construtiva no contexto terapêutico. Ao desenvolver uma atitude estável, o terapeuta cria um ambiente seguro e acolhedor para o paciente, promovendo um vínculo terapêutico sólido.
Uma delas é a “atitude de contratransferência maternal”, na qual o terapeuta assume a posição de acolhimento, contenção e nutrição para com o paciente. Nessa perspectiva, parte-se do pressuposto de que os pacientes buscam terapia por uma necessidade de empatia e compreensão. Um terapeuta com essa atitude maternal responderá às experiências compartilhadas pelo paciente com empatia, garantindo que compreendem o sofrimento e as ofensas envolvidas. É importante ressaltar que essa atitude pode ser assumida tanto por terapeutas homens quanto mulheres, pois não está vinculada ao gênero. Uma abordagem contratransferencial contrastante a essa é a “atitude de contratransferência paterna”, baseada no arquétipo do pai. Nessa atitude, o terapeuta assume uma postura diretiva e oferece orientação sobre como o paciente pode progredir em sua vida para obter um melhor funcionamento e adaptação. O terapeuta enfatiza sua autoridade e poder durante as sessões. Acredita-se que os pacientes buscam ajuda para promover mudanças em suas vidas e alcançar maior sucesso em suas atividades cotidianas. O terapeuta com essa atitude pode ouvir a história do paciente e questionar: “Se você tivesse que fazer isso novamente, como o faria de forma diferente?”. Eles podem oferecer conselhos, apontar erros e ensinar o paciente a tentar repeti-los. Analistas com uma contratransferência paternal podem se apresentar como modelos exemplares ou professores para o paciente.
Outra abordagem contratransferencial é a “atitude de contratransferência hermética”, referenciando o deus Hermes do panteão grego. Hermes é um deus jovem, associado à transformação e ao aspecto lúdico/criativo. O terapeuta com essa atitude acredita que o paciente está em busca de transformação, de um processo de mudança para se tornar mais leve e criativo na vida. Nessa abordagem, o foco não está na empatia com os sentimentos do paciente ou em oferecer conselhos direcionados, mas, sim, em brincar com o paciente e criar uma atmosfera de liberdade para imaginar. Os terapeutas com uma atitude hermética são como mágicos ou tricksters, realizando ações surpreendentes. Eles podem dizer algo na sessão que inicialmente parece totalmente irrelevante, algo que acabou de ocorrer em sua mente ou imaginação. Isso pode deixar o paciente surpreso e levá-lo a pensar fora das ruminações habituais. O terapeuta hermético pode dizer algo que faz o paciente rir. Essa figura terapêutica busca trazer movimento psíquico novamente. Assim como Hermes é o deus do vento, os terapeutas herméticos são agradavelmente imprevisíveis. O paciente nunca sabe o que eles vão dizer ou fazer em seguida. Jung, ocasionalmente adotava uma abordagem hermética em sua prática psicoterapêutica. De tempos em tempos ele encenava reações emocionais intensas para criar surpresas e impulsionar a movimentação do processo terapêutico, quebrando padrões e formas antigas e estagnadas de expressão e reflexão sobre a vida.
Em uma ocasião, uma paciente compartilhou um sonho com Jung sobre um besouro escaravelho dourado que realizava algo fora do comum. Jung ficou fascinado por essa imagem e, enquanto ouvia o relato do sonho, começou a ouvir um barulho atrás dele. Sua casa ficava próxima a um lago e tinha um jardim ao redor. Percebendo algo batendo na janela, de forma repentina e dramática, o psiquiatra saltou da cadeira, abriu a janela e pegou um inseto no ar com as mãos. Era um besouro de jardim semelhante ao besouro escaravelho do sonho. Jung o segurou em sua mão e proclamou de forma dramática: “Aqui está o seu besouro!”. Esse gesto inesperado de natureza hermética foi extremamente chocante para a jovem paciente, que tinha uma postura mais conservadora. Carl Gustav Jung denominou essa coincidência de “sincronicidade” e relatou que esse evento foi um ponto crucial para a psicoterapia da paciente. O gesto hermético inesperado provocou uma transformação na atitude da paciente, rompendo padrões de pensamento habituais e abrindo caminho para a exploração de novos territórios.
A quarta atitude que descreverei aqui é a “atitude contratransferencial maiêutica”. A palavra “maiêutica” tem origem no grego e refere-se à parteira que auxilia as mulheres durante o parto. Ela está associada ao nascimento de uma nova vida, de uma criança. Um terapeuta com uma atitude maiêutica recebe os pacientes com a suposição de que eles buscam um novo começo. Eles desejam dar à luz a um novo futuro, a novas possibilidades, e o terapeuta (seja homem ou mulher) os auxiliará nesse processo de parto. A atitude do terapeuta maiêutico é comparada à de uma parteira. Assim como uma parteira vai até a casa de uma mulher prestes a dar à luz para auxiliá-la durante o trabalho de parto e o nascimento do bebê, essa atitude contratransferencial não se interessa pelo passado. Ela está focada em criar um novo futuro, em trazer à luz novas atitudes, caminhos e ideias inovadoras.
O analista maiêutico muitas vezes dedica bastante tempo aos sonhos, pois acredita que eles são o útero do futuro, contendo as sementes da possibilidade.
No entanto, o analista maiêutico, em geral, não busca acompanhar o caso por um longo período de tempo. Assim como uma parteira está presente apenas para facilitar o parto e entregar o bebê diretamente à mãe, esse terapeuta considera seu trabalho concluído assim que o processo de nascimento é finalizado. Essa dinâmica descreve um tipo de analista intuitivo, que se aprofunda no inconsciente e no futuro. Eles podem agir como uma espécie de médium ou adivinho, mas podem perder o interesse nas tarefas diárias de cuidar e acompanhar o crescimento das crianças. Seu valor está no nascimento do novo.
Um terapeuta habilidoso tem a capacidade de transitar entre essas quatro atitudes contratransferenciais distintas, dependendo das necessidades específicas do paciente em determinado contexto. É importante que os terapeutas estejam conscientes de sua principal atitude de contratransferência e sejam capazes de refletir sobre ela. Após estabelecer sua abordagem básica, o terapeuta pode e deve ser mais flexível, experimentando outras posturas terapêuticas. Isso permite uma maior adaptabilidade e sensibilidade às demandas individuais de cada paciente.”
STEIN, Murray. Os quatro pilares da psicanálise junguiana: Individuação – Relacionamento analítico – Sonhos – Imaginação ativa – Uma introdução concisa. Ed. Cultrix, 2023. Local, 694-755.
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Tipos de contratransferência