Tempo pós-narrativo

“Vivemos, hoje, em um tempo pós-narrativo. Não a narrativa [Erzählung], mas sim a contagem [Zählung] determina a nossa vida. A narrativa é a capacidade do espírito de superar a contingência do corpo.

O conto de fadas de Andersen, Princesa na ervilha, pode ser lido como uma parábola para a hipersensibilidade do sujeito da modernidade tardia. Uma ervilha sob o colchão provoca na futura princesa tanta dor que ela tem uma noite sem sono. Hoje as pessoas estão, certamente, adoecidas da “síndrome-da-princesa-da-ervilha”[36]. O paradoxo dessa síndrome de dor consiste em que se sofre cada vez mais com cada vez menos. A dor não é nenhuma grandeza objetivamente constatável, mas uma sensação subjetiva. Expectativas crescentes em relação à medicina, em conjunto com a ausência de sentido da dor, fazem com que mesmo dores módicas pareçam insuportáveis. E não temos mais nenhuma referência de sentido, nenhuma narrativa, nenhuma instância superior e objetivos que revistam a dor e a tornem suportável. Se a ervilha dolorosa some, as pessoas começam, então, a sofrer com colchões moles. É, justamente, a própria e persistente ausência de sentido da vida que dói.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade paliativa: A dor hoje. Ed. Vozes, 2021, Local, 405-421.

Ausência de sentido da dor

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